Manuela Ferreira Leite ignora "aparelho" e afasta opositores
Pacheco Pereira e Maria José Nogueira Pinto (ex-CDS) foram surpresas
nas listas do PSD num dia de profundas divisões entre a líder e as distritais
a Turbulento. É o mínimo que se pode dizer do filme do dia em que o PSD fechou as suas listas de deputados às legislativas de 27 de Setembro. Com muitos nervos à flor da pele, conflitos mais ou menos públicos e vetos à mistura - como foi o caso do ex-candidato a líder Pedro Passos Coelho (Vila Real) ou de Miguel Relvas (Santarém). A renovação prometida pela líder deixou desiludidos os críticos, a começar pelos apoiantes de Passos Coelho, mas também de Santana Lopes. Foi um dia de nervos em que os nomes iam sendo divulgados a conta-gotas. À medida e ao ritmo a que as distritais iam sendo recebidas na sede do partido, em Lisboa. E ia virando do avesso as listas e as expectativas das estruturas. Com especial ênfase para as distritais que não seguiram a "directiva" de apresentar propostas para as listas sem ser por ordem alfabética. E foram logo as mais polémicas - Lisboa, Vila Real, Santarém, Aveiro ou Setúbal. Uma das maiores surpresas foi mesmo a escolha de José Pacheco Pereira, ex-líder parlamentar e um dos mais influente apoiantes, desde a primeira hora, de Ferreira Leite. Ou ainda o convite da antiga vereadora em Lisboa e ex-militante do CDS Maria José Nogueira Pinto, em lugar elegível (4.º) em Lisboa. Uma candidatura que pode causar incómodo por causa das palavras de apoio ao socialista António Costa, adversário de Pedro Santana Lopes, o candidato da aliança PSD/CDS. Foi em Maio, numa entrevista ao Sol, que fez um elogio a Costa, admitindo que não faz uma avaliação negativa do trabalho do socialista.
Votação secreta?
À hora de fecho desta edição as listas do PSD estavam em processo de aprovação pelo Conselho Nacional, que começou atrasado, às 22h30. À entrada para a reunião, que já se previa prolongada e polémica, havia mais um elemento a juntar: dirigentes, entre eles apoiantes de Passos Coelho e ex-dirigentes de Luís Filipe Menezes e Santana Lopes, reuniam assinaturas para propor que as listas fossem aprovadas por voto secreto: as listas e a designação de Manuela Ferreira Leite como candidata do partido a primeira-ministra. Mais um elemento de perturbação num conselho nacional em que a presidente tem maioria.
Outra das tónicas das listas foi a opção por alguns senadores para cabeças de lista, como os ex-ministros Couto dos Santos (Aveiro) ou João de Deus Pinheiro (Braga) ou Costa Neves (Castelo Branco, o distrito de José Sócrates). Naturais foram as escolhas em Coimbra (Paulo Mota Pinto), Porto (Aguiar Branco) ou Viseu (José Luís Arnaut). Há também alguns regressos a São Bento, como o de Teresa Morais, opção para a Leiria, ou de Jorge Bacelar Gouveia, um constitucionalista e mandatário de Santana Lopes em Lisboa.
Raposa dentro do galinheiro?
Mas o dia foi também de exclusões. Ao que o PÚBLICO apurou, o critério de Ferreira Leite para não incluir, por exemplo, Passos Coelho e Miguel Relvas foi a análise da sua atitude, no último ano, relativamente à direcção. Ou seja, vingou a ideia de que as críticas do ex-líder do PSD prejudicaram o partido. Na reunião com a distrital de Vila Real, que propôs Passos para número um da lista, Ferreira Leite terá usado um adágio popular - era pôr a raposa dentro do galinheiro - para explicar a opção por Montalvão Machado.
Esta opção foi abertamente é criticada por dirigentes como Carlos Carreiras, da distrital de Lisboa - "é uma falta de bom senso" -, mas também por Pedro Pinto, vice-presidente de Santana Lopes, que considerou a decisão contrária à tradição de pluralidade do partido.
No filme deste dia turbulento também não faltou um momento de drama: Manuela propôs António Preto, deputado e arguido no "caso das malas" e seu indefectível. O que, a par da inclusão da ex-vereadora de Lisboa Helena Lopes da Costa, também arguida num processo, ditou a ira da distrital de Lisboa. Dentro do PSD, a pressão pela saída de Preto da lista, pelo embaraço de ser arguido, foi grande. A começar pela distrital que já liderou. O mesmo quanto a Lopes da Costa. E o facto é que a lista de Lisboa foi uma das últimas a serem fechadas na comissão política nacional e acabou mesmo por incluir o polémico António Preto.
À entrada, Pedro Passos Coelho desdramatizou o seu afastamento da lista: "Como quase fundador do partido, não posso sentir-me desiludido com o meu partido." Já Miguel Relvas também relativizou a decisão de ficar fora da Assembleia com a frase: "Há mais vida para além do Parlamento."
Apesar de telegráfico à entrada da reunião, o secretário-geral do partido, Luís Marques Guedes, admitiu que as listas que a presidente laranja ia apresentar eram controversas e tudo menos consensuais. Mas esclareceu que "não são opção da dr.ª Ferreira Leite, são opções de toda a comissão política nacional".