Poder no Irão voltou a ser desafiado nas ruas
As manifestações começaram de forma tímida face à forte presença da polícia e da milícia Bassiji que, segundo o governador de Teerão, tinham ordens para “esmagar” qualquer manifestação não autorizada.
A meio da tarde, entre 200 a 300 pessoas, na sua maioria jovens, concentraram-se junto à praça Enghelab (Revolução) – epicentro das grandes manifestações que se seguiram às eleições de 12 de Junho –, gritando “Morte ao Ditador”, até que as forças antimotim e milicianos à paisana irromperam no local. O correspondente do LA Times contou que os gritos de uma mulher a ser espancada foram ouvidos nos prédios vizinhos e que os comerciantes abriram as portas para abrigar os manifestantes em fuga.
Nas horas seguintes, os manifestantes jogaram ao “gato e ao rato” com os agentes, que bloquearam todos os acessos à praça bem como à vizinha Universidade de Teerão. A polícia “está a ameaçar as pessoas, batendo-lhes com bastões, para impedir que formem grupos”, relatou ao Guardian um estudante de 25 anos.
Testemunhas citadas pela AFP referem que cerca de três mil manifestantes juntaram-se ao final da tarde na avenida Taleghani, perto do campus universitário, gritando palavras de ordem contra Ahmadinejad. A polícia interveio novamente com gás lacrimogéneo e bastonadas sobre a multidão. Participantes nos protestos contaram que foram efectuadas dezenas de detenções e a Reuters deu conta de disparos para o ar em diferentes pontos da cidade.
Estes foram as primeiras manifestações na capital desde 28 de Junho e mostram que a repressão não esmagou a revolta contra os resultados eleitorais. À falta de liderança organizada – Mir-Hossein Mousavi está sob apertada vigilância e muitos dirigentes reformistas continuam presos –, as redes sociais serviram para organizar as manifestações. E nem a notícia de novas detenções (ontem foi conhecida a prisão de Mohammed-Ali Dadkhah, advogado que trabalha com a Nobel da Paz, Shirin Ebadi) travou o regresso da contestação às ruas.