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O teste psicológico de Barack Obama na Rússia

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O Presidente norte-americano precisa de entender os líderes que tem pela frente e ouvir a forma de funcionar da "máquina" russa

a Moscovo é uma cidade de difícil visita para os presidentes norte-americanos. Não o será menos para Barack Obama, a partir de hoje numa cimeira de alto nível e com atenções divididas entre o chefe de Estado russo, Dmitri Medvedev, e o seu mentor e primeiro-ministro, Vladimir Putin. Será o primeiro grande teste à política externa de Obama e, mais do que isso, um teste de nervos e à fibra do Presidente dos Estados Unidos.Mesmo sem expectativas elevadas, é esperada alguma substância neste primeiro grande encontro desde a mudança de Administração nos Estados Unidos - que é também o primeiro desde que os dois países declararam intenções de pressionar o botão de reset nas relações. Há ambições de que este contacto cara a cara acabe por conduzir a um bom entendimento bilateral, e que se estenda a parcerias diplomáticas de expressão global, na antiproliferação nuclear e no combate ao terrorismo.
Poucos analistas e observadores acreditam que Obama e Medvedev firmem um novo quadro estratégico de segurança euro-atlântica, nem mesmo que seja concretizado um novo tratado de redução do armamento estratégico - com negociações em curso - para substituir o histórico START.
Moscovo manifesta amiúde as suas boas intenções a este respeito, mas tem também feito depender a questão de um recuo dos EUA nos planos de expansão do seu escudo de defesa para a Europa Central - o que, por sua vez, Obama já sugeriu ser passível de negociações num quadro em que as ambições nucleares do Irão, até agora nunca verdadeiramente refreadas pela Rússia, deixem de constituir uma ameaça global.
"É bastante tentador pensar que, ao apagar os factores de pesada tensão dos últimos anos nas relações entre a Rússia e os EUA, será possível fazer desaparecer todos os problemas. Mas o problema é que, independentemente de quantas vezes se pressionar o botão de reset, continuamos a ter o mesmo hardware e algum software já muito ultrapassado. O problema é que a máquina está cheia de bugs", avaliava o director-adjunto da agência noticiosa russa RIA Novosti, Andrei Zolotov.
O Presidente americano pô-lo em termos mais políticos, e menos informáticos, há alguns dias, numa entrevista à Associated Press: deu sinais claros de acreditar na possibilidade de criar um bom relacionamento com Medvedev - um líder "reflectido e progressista", alguém que "lidera a Rússia com sucesso para o século XXI", e dizendo que juntos podem alcançar cooperação e parceria. Mas quanto a Putin, que "continua a ter muita influência", é preciso que entenda que "a abordagem de Guerra Fria está ultrapassada".

Percepções erradasMedvedev e Obama acertaram os pontos da difícil agenda por telefone. Dessa conversa sabe-se aquilo que o Kremlin deu a conhecer, num anúncio oficial pautado por uma cautelosa escolha de palavras. O encontro "abrirá a porta a um maior dinamismo, à construção de uma atmosfera mais criativa e ao melhor conhecimento um do outro".
Os analistas sublinham esta, aliás, como uma das questões essenciais do encontro: a oportunidade de "descoberta um do outro" que Obama e Medvedev - com Putin pelo meio - têm. Algo em que, antes deles, outros líderes norte-americanos e russos (leia-se soviéticos) falharam rotundamente.
O director do Centro moscovita de Estudos Estratégicos, Andrei Piontkovski, aponta aliás como "factor importante" para a crise dos mísseis de Cuba, em Outubro de 1962, a incapacidade de o então recém-empossado e cordato presidente norte-americano, John F. Kennedy, e do turbulento e experimentado líder soviético, Nikita Khrutchov, desvendarem a personalidade um do outro quando se encontraram pela primeira vez, 16 meses antes, na cimeira de Viena. "Ambos ficaram com a percepção errada um do outro", sublinhou o politólogo.
Krutchov - acalentado pela humilhação sofrida por Kennedy na invasão da Baía dos Porcos - viajou para a Áustria determinado em dar prova da superioridade da União Soviética.
No seu estilo agressivo e arrogante, ameaçou expulsar os norte-americanos de Berlim: "Se os EUA querem guerra, isso não é um problema". Kennedy respondeu que então haveria guerra - "Será um longo e frio Inverno" -, mas, passado o momento de bravata, o que transpareceu foi a imagem de um líder fraco para enfrentar o Kremlin. Mais tarde, Kennedy reconheceria que o líder russo "deu cabo" dele; Krutchov jamais admitiu ter subvalorizado Kennedy.

Expectativas realistasA "substância" esperada desta cimeira passa então antes pelas atitudes e pelas palavras que os dois presidentes - mais Putin, com quem Obama tomará o pequeno-almoço amanhã - dirão para todos verem e ouvirem. "Vai ser necessário descodificar todos os símbolos verbais e não verbais", alertava Andrei Zolotov.
"Obama vai ter de ter muito cuidado para que as suas palavras e acções não alimentem a máquina de propaganda russa que, com muito êxito, retrata os EUA como um grande inimigo", avaliava por seu lado Piontkovski. Este politólogo acredita que a abordagem feita por Obama no mês passado no Cairo - onde pediu desculpas por acções passadas, numa tentativa de melhorar a percepção dos EUA no mundo muçulmano - "seria desastrosa em Moscovo". "Qualquer manifestação de sentimento de culpa sobre o actual estado das relações entre EUA e Rússia será visto como um sinal de fraqueza e uma validação da propaganda anti-americana alimentada pelo Kremlin", sublinhou.
Isso será evitado se Obama "perceber que o que vai ver em Moscovo não é um encontro de entidades de Estado, mas sim uma encenação orquestrada em seu proveito e mantiver as suas expectativas realistas", sublinhou recentemente David Satter, ex-
-correspondente do Financial Times na Rússia. "É um duro teste. Só lhe podemos desejar o melhor e esperar que tenha sido bem aconselhado sobre o que vai enfrentar."
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Vladimir Putin, primeiro-ministro e ex-presidente russo, é uma figura incontornável nesta visita de Obama

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