Único e irrepetível
a No campo da cultura de massas, 1982, haverá de ser recordado pelo lançamento de Thriller, o segundo álbum - depois de Off The Wall - de um rapaz de 24 anos chamado Michael Jackson. Desde os 5 anos, com os Jackson 5, que ele sabia o que eram os holofotes da fama, mas foi com esse disco que mudou para sempre a indústria do entretenimento, redefinindo o que é isso de ser estrela pop. Mas não foi apenas a música, os passos de dança, os gestos, que influenciaram várias gerações de músicos e não só. Foi também o seu posicionamento perante o mundo do entretenimento. Na actualidade, a aldeia global parece fabricar estrelas todos os dias, mas ele continuava um fenómeno único e irrepetível. Pela música. Pela personalidade. Pelas idiossincrasias. E pelo facto de ser uma das últimas estrelas universais, intergeracionais, duráveis. Dos anos 80, resta apenas Madonna.
O fenómeno Jackson não pode ser dissociado de outro facto, a MTV, revolução televisiva, mas também cultural e social. Nos anos 80 já não bastava ter uma boa canção. Era preciso criar uma boa imagem para ela. Ter a atitude certa. A representação tomava o lugar da autenticidade. E com Jackson, a MTV abria as portas à pop negra. Ele transformava-se num estilo de vida. Encarnava a publicidade mas também as grandes operações humanitárias como We Are The World. Na primeira metade dos anos 80 é coroado como "Rei da pop". Aos 24 anos parecia eterno.
Quando passa os trinta já é a vida privada que capta as atenções. O último álbum, Invincible (2001), é um insucesso comercial. Toda a gente procurava explicações para os seus comportamentos. Uma infância e adolescência inexistentes. Não conheceu mais do que o mundo artístico industrial. Estava programado para ser estrela. Nunca foi humano. Era, quando muito, pós-humano, representação de um modo de vida, dizia-se. Aos 50 anos, quando se preparara para um regresso dramático, ninguém sabia do que seria ainda capaz. Agora, o mistério perdurará, para sempre.