A arte ruma a sul no Art Algarve

Art Algarve a nova marca do Allgarve para as exposições de arte contemporânea. São oito grandes núcleos, algumas encomendas e nova tentativa de associar a cultura ao veraneio

a Com um novo nome, mas com a intenção já com dois anos de dar mais aos turistas que visitam o Algarve e de deixar lastro de iniciativa cultural na região preferida dos banhistas portugueses, a arte contemporânea chega hoje ao Allgarve. Sob o novo chapéu Art Algarve, com Guta Moura Guedes a cargo das operações e com mais uma autarquia, são cerca de 160 obras de mais de 90 artistas, estendendo-se a workshops, serviços educativos e intervenções urbanas, com parcerias autárquicas e por cinco cidades algarvias - Faro, Loulé, Lagos, Portimão e a estreante Silves.O Art Algarve começa hoje o seu fim-de-semana de inaugurações, agora com um nome-marca. "Quando estamos a trabalhar na área da cultura e a construir um evento na área da arte contemporânea, que tem que ser bem trabalhado e com uma estratégia de comunicação bem montada, a criação de um nome é extremamente útil para a promoção desse trabalho", afirma Guta Moura Guedes. A nova coordenadora do programa, e também responsável pela bienal ExperimentaDesign, não sentiu "que tivesse de dar a volta" à questão institucional do Allgarve - um projecto que emana do Turismo de Portugal e por vezes conotado com excesso de marketing.
Em 2009, nesta terceira edição e depois de dois anos de curadoria da Fundação Serralves, o Art Algarve quer ser mais: mais parcerias, mais encomendas de inéditos, mais variedade. Mas também mais comunicação - há um jornal Art Algarve, há um livro. O tema é Tão Brilhante Quanto o Sol/As Bright As The Sun e envolve nomes como Julião Sarmento, José Pedro Croft, Paula Rego, Almada Negreiros, Max Ernst ou David Hockney. Da fotografia à instalação, passando pela arte de rua, o Algarve quer encher-se de cultura contemporânea.
As obras que constroem o Art Algarve são clássicos dos espólios dos museus e instituições culturais portuguesas parceiras da iniciativa - Colecção Caixa Geral de Depósitos, Museu Colecção Berardo, Centro de Artes Visuais, BESart, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação de Serralves e Cinemateca Portuguesa - mas também inéditos. E encomendas.
Com um orçamento de 800 mil euros, mais 45 mil do que em 2008 mas que ainda não se esgotou, segundo a coordenadora, foi possível alargar o número de parceiros devido a "uma estratégia de divisão do orçamento pelas diversas exposições", ao invés da entrega a uma única instituição - no passado, a Fundação Serralves. E isso permitiu apoiar as propostas específicas das Câmaras de Faro e Loulé (Dialogue Boxes on Street Windows, diálogos sobre a arte pública no centro histórico de Faro, o workshop/exposição MobilHome no Lagar das Portas do Céu de Loulé), ter o projecto convidado Timeless Territories e o ciclo de cinema Os Olhos a Arder, em parceria com a Cinemateca Portuguesa, em Portimão (que começa a 27 de Julho e com o mudo L'Eclipse du Soleil en Pleine Lune, de George Méliès, e O Desprezo, de Jean-Luc Godard - "um programa muito intrigante", considera Moura Guedes).
Algumas instituições conseguiram mesmo fazer encomendas especiais para o Art Algarve, como fez a Culturgest com José Pedro Croft, Armanda Duarte e Luísa Cunha (em Loulé), ou o Centro de Artes Visuais com Joana Bastos, Julião Sarmento, Miguel Ângelo Rocha e Paulo Brighenti (em Lagos), bem como Alexandre Joly para o Museu Berardo (em Faro).
A coordenadora do projecto frisa que estas parcerias camarárias estão incluídas no programa principal. "O acentuar das colaborações com as câmaras era muito importante", diz Guta Moura Guedes, para trabalharmos "em diálogo com o território em que acontece". Tudo para deixar lastro e incentivar a produção cultural autóctone.
Há então oito grandes centros expositivos. Em Paisagens Oblíquas, o Museu de Faro acolhe uma selecção do congénere Berardo - são 15 artistas, de Hockney a Pedro Calapez, a usar diferentes suportes para pensar a natureza e a paisagem, e um segundo pólo com as três instalações de Alexandre Joly na Galeria Arco. Já em Loulé, na Quinta da Fonte da Pipa, está A Luz, por Dentro, de nove autores da colecção da CGD. Estranhas Formas de Vida é a proposta de Serralves, com trabalhos de Francesco Vezzoli, Luís Palma e Patrícia Almeida em Loulé. Blink - Gravuras da Colecção do CAM da Fundação Gulbenkian, é uma selecção de gravura portuguesa e internacional que, na Casa da Cultura de Silves, vão de Henri Matisse a Bartolomeu Cid dos Santos, passando por Man Ray. Na mesma cidade está a instalação Expectativa de Uma Paisagem de Acontecimentos #3, também do CAM, da artista Fernanda Fragateiro. Entre o Céu e o Mar é uma exposição do Centro de Artes Visuais com obras de Joana Bastos, Julião Sarmento, Miguel Ângelo Rocha e Paulo Brighenti, Edgar Martins, João Louro, Patrícia Almeida e Paulo Nozolino e está no Centro Cultural de Lagos.
Em Portimão há Forças (museu), da colecção BESart, com vários fotógrafos, e um segundo núcleo da exposição chama-se Tempo (no teatro municipal). E em Loulé, na mina de sal-gema que já foi cenário de outros Allgarves, estarão os Timeless Territories, projecto convidado comissariado por María e Lorena de Corral, e que reúne oito artistas estrangeiros e o português Vasco Araújo. E que a coordenadora do Art Algarve considera essencial para criar laços internacionais e para que se fale do Art Algarve lá fora.

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