Sapatilhas Sanjo o clássico está de volta

A marca portuguesa criada em São João da Madeira voltou a ser lançada
e a reedição do modelo K100 tem sido bem recebida. A Sanjo regressou,
mas será que está para durar?

a O mês de Outubro de 1996 foi um marco negro na história da Sanjo, uma referência nacional de calçado desportivo. Nessa data, depois de um conturbado processo de insolvência e tentativas de recuperação, foi decretada a sua falência, desaparecendo a marca criada nos anos 40 em São João da Madeira. No entanto, pouco tempo depois, uma pequena empresa familiar de Lisboa, a Fersado, ligada à importação e comércio de calçado e artigos desportivos, adquiriu a marca em hasta pública e comprou os direitos da patente. Desde essa data, a gestão e produção da Sanjo tem estado dormente, com uma produção e distribuição residual e irregular.
Agora, parece ser o momento do regresso da marca criada na secção de borracha da Empresa Industrial de Chapelaria de São João da Madeira (hoje um museu) e que marcou várias gerações de portugueses. Após ter penetrado de mansinho no mercado, optou recentemente pela reedição do modelo K100, o mais clássico e conhecido da sua gama, com elevada procura. Mas parece haver ainda vários problemas para resolver. Há ainda poucas lojas portuguesas com Sanjo e o seu velho logótipo à venda e o K100 tem sido bastante procurado, mas a capacidade reposição de "stock" tem sido um obstáculo.
Obstáculos da marca
Os quatro irmãos e sócios da loja Gang of Four de Coimbra, uma das poucas que neste momento vende o modelo K100 da Sanjo em Portugal, lembravam-se da marca e mal se aperceberam que estava de volta trataram de fazer todos os esforços para a ter no estabelecimento comercial. "Por ser uma marca portuguesa, por ser considerada um clássico da nossa geração e associada ao nosso crescimento", explica Francisca Moreira, uma das sócias da loja coimbrã.
"Quando soubemos que ia ser reeditado o modelo, por ser um clássico português e uma marca com história, fizemos vários contactos para podermos ter as sapatilhas à venda", recorda. Não foi fácil. "Depois de muitas tentativas, conseguimos que viessem até nós". O expositor da Gang of Four arranjou espaço para as Sanjo, mas falta dar resposta às solicitações e encomendas que também chegam de fora do país. "Um dos problemas é que já esgotaram imensos números, dizem-nos que esgotaram o 'stock' e que não vão fazer mais". Os números vão do 35 ao 44 e os maiores foram todos vendidos. "A reedição dos clássicos só na colecção do próximo ano". No Inverno, há garantias da chegada de dois modelos idênticos ao K100, não em lona, mas a imitar o cabedal, mais um modelo estampado para rapariga. "Temos mais procura do que oferta", garante Francisca Moreira. A Gang of Four tem recebido pedidos de todo o país, sobretudo do Porto e de Lisboa, e do estrangeiro.

Reinventar velhos modelosA primeira venda internacional foi para um português que trabalha num centro de investigação na Áustria. "Desde pessoas que não são nossas clientes e nunca imaginavam que as sapatilhas ainda existissem, a clientes mais novos do que seria de esperar que conhecem as Sanjo porque se lembram dos irmãos mais velhos as usarem", refere Francisca Moreira. A Gang of Four ainda tentou obter mais informação, mas foi difícil. "Queríamos saber mais sobre a Sanjo, mas nem sequer uma história da marca conseguimos obter".
A divulgação da chegada da Sanjo à loja coimbrã mereceu toda a atenção. A notícia foi colocada no blogue da Gang of Four, foram tiradas fotografias e feitos cartazes. E a ocasião estimulou uma ideia. Os quatro sócios decidiram colocar na mão de alguns artistas a personalização das Sanjo brancas. A designer Joana Corker de Coimbra, a loja Maniak's Tattoo & Piercing de Coimbra e o grupo Visual Street Performers de Lisboa foram convidados para a tarefa. Essas sapatilhas não serão colocadas à venda. Ficarão expostas na loja, a partir de Junho, e fotografadas para serem colocadas em sites e enviadas para companhias estrangeiras que comercializem sapatilhas e não tenham uma marca portuguesa. "Vamos tentar divulgar ao máximo as Sanjo", garante Francisca Moreira.
Por parte da Fersado, esta pode ser uma boa oportunidade para a empresa, de capitais familiares e com cerca de vinte anos de vida, impulsionar as vendas. O PÚBLICO tentou, por inúmeras tentativas, obter uma posição da Fersado sobre a estratégia e posicionamento da empresa e da marca Sanjo para o futuro, mas sem sucesso.
No entanto, há cerca de um mês e meio, em declarações ao semanário regional Labor de São João da Madeira, um dos seus administradores, Paulo Fernandes, afirmava que o objectivo é colocar as sapatilhas Sanjo no mercado das lojas de desporto e sapatarias em geral, e não em hipermercados ou outras grandes superfícies. Da mesma forma, e segundo a mesma publicação, as Sanjo "não estão, para já à venda no estrangeiro". Contudo, Paulo Fernandes aponta uma tentativa de internacionalização para um 'futuro próximo'", avançando também com a possibilidade de abertura de lojas exclusivas.
Ao avançar com esta estratégia, não terá a vida facilitada, mesmo com o apoio de uma marca histórica e controlo de custos, já que a produção é repartida pela Índia e pelo Brasil, onde a mão-de-obra é mais barata do que em Portugal. Neste momento, o mercado do calçado desportivo em Portugal, liderado pela Nike (seguindo-se a Adidas, Puma, Billabong e Reebok), vale entre 250 e 300 milhões de euros, segundo estima Felipe Semedo, director de marketing da Puma. E, embora estas cinco marcas representem o grosso das receitas, estão a ganhar cada vez mais destaque as marcas próprias da distribuição, nomeadamente as da Decatlon e da Sportzone, as maiores cadeias de lojas de roupa e calçado desportivo em Portugal.
De acordo com Felipe Semedo, estas marcas do retalho representam já uma "fatia importante do mercado, difícil de precisar, mas que deverá ainda à volta dos 30 por cento". Um cenário que deverá acentuar-se nos próximos tempos, num mercado que tem vindo a registar quebras ao nível das vendas. "As lojas estão a comprar-nos menos produto, devido à retracção por parte do consumidor final", explica Alain Raoul, director de marketing da Reebok.
Felipe Semedo confirma, dizendo que o efeito de retracção tem sido geral a todas as marcas, desde as de fabricante até às de distribuidor, mas que se nota também um efeito de substituição. "Compram-se menos ténis e o volume total do mercado diminui mas, no calçado que se compra, a quota da marca de distribuição tem aumentado", explica.

"Da cabeça aos pés"Desde o seu nascimento na década de 40 em São João da Madeira (localidade que ditou o seu nome de baptismo), a Sanjo viveu à sombra do prestígio conquistado até que a concorrência das marcas internacionais, que surgiram em força na segunda metade dos anos 80, lhe tirou o fôlego, até ter parado a produção na década seguinte.
A secção de borracha da Empresa Industrial de Chapelaria de São João da Madeira, firma criada em 1920, chegou a produzir ininterruptamente, em três turnos, para dar resposta às encomendas dos cinco clientes nacionais. "Era um movimento fantástico, durante muitos e muitos anos chegou-se a trabalhar 24 horas por dia. As sapatilhas eram um sucesso e quem se dirigia à fábrica para comprar um par tinha de pedir por favor ao administrador", lembra Méssio Trindade, 82 anos, que trabalhou na parte dos chapéus da empresa são-joanense e que se lembra perfeitamente da labuta da Sanjo.
O ex-funcionário da fábrica, e agora guia do Museu da Chapelaria, não mais esqueceu o slogan do cartaz publicitário. "O nosso chapéu sanjoanino e o nosso calçado Sanjo servem Portugal da cabeça aos pés". "Era uma empresa fantástica nos anos 60, 70. Por vezes, a carteira de encomendas transitava de um ano para o outro", recorda, por sua vez, Elvira Costa, que trabalhou 24 anos na parte administrativa da Sanjo. "Era qualquer coisa fora de série". "A sapatilha era bastante bonitinha, bem fabricada, tudo vulcanizado, de boa qualidade, muito conceituada". A empresa chegou a ter cerca de 500 operários, nos chapéus e calçado, equipou a equipa de basquetebol local e fabricou sapatos de ballet. Agora, o seu futuro depende da forma como se conseguir vender o passado, e adaptá-lo ao presente. *Com Luís Villalobos e Ana Rita Faria
"(...) O primeiro dia de aulas era sempre um misto de náusea com euforia. (...) Era feliz. Contudo, ainda hoje um pensamento me atormenta, porque raio a minha mãe nunca me comprou uns ténis da Sanjo?"
http://mindofspinne.blogspot.com/2005/09/os-tnis-sanjo.html

"Pois eu ainda sou do tempo, em que ter uns ténis Sanjo, era simbolo de modernidade(...) Não havia nenhum miúdo (a) que não gostasse de ter uns!"http://www.misteriojuvenil.com/forum/viewtopic.php?t=352

"Eu só fui à cidade durante a tarde para pagar a Segurança Social... Mas voltei com uns sapatos novos, um cinto e uns ténis Sanjo. Ténis Sanjo... I'm in love!" http://aminhamaneira.wordpress.com/2008/05/09/novos-pisantes/

"(...)os riquinhos da Foz do Porto, aprumadinhos nas suas blusas Lacoste e sapatilhas Sanjo, invadiam as praias e os campos de jogos de Vila do Conde (...)" http://jq.weblog.com.pt/arquivo/2009/01/o_fogo_esta_onde_esta_a_demand

"Já não há sapatilhas Sanjo nem Laranjina C, mas aqui mesmo ao virar da esquina continuamos a ter mochilas Monte Campo(...)" http://paninhosquentes.blogspot.com/2009/01/resistncias.html

"(...) numa montra velha e cheia de coisas poeirentas (...), encontro este par de Sanjo novos apesar dos anos e de há muito tempo estarem perdidos nalguma caixa (...) Lá trouxe eu este verdadeiro tesouro." http://pozinhos.blogspot.com/2007_04_01_archive.html

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