Nova escultura da Vénus com 35 mil anos é a mais antiga representação humana

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A escultura tem seis centímetros e altura e pesa 33 gramas DR

“Não há nenhuma dúvida de que a representação de um peito aumentado, das nádegas e genitália acentuadas resultam de um exagero deliberado das características sexuais da figura”, disse Nicholas Conard no artigo publicado hoje na revista Nature. O investigador da Universidade de Tubinga (Alemanha) estudou detalhadamente a figura, que foi um dos seis fragmentos de marfim encontrados em Setembro de 2008 no Sudoeste da Alemanha.

A descoberta foi feita nas grutas de Hohle Fels em estratos do Paleolítico Superior, poucos milhares de anos depois dos primeiros Homo sapiens sapiens — o homem moderno — terem colonizado a Europa. A escultura, que tem menos de seis centímetros e 33 gramas, é a representação mais antiga conhecida de arte figurativa.

“É incontornável que a Europa tem as manifestações artísticas figurativas mais antigas”, disse ao PÚBLICO Mariana Diniz, arqueóloga e professora da Faculdade de Letras de Lisboa.

O que há de especial no continente que não existia no Médio Oriente ou em África, onde populações geneticamente idênticas existiam há mais tempo? Uma pressão maior nas populações humanas a nível climático, devido à era glaciar que se vivia, refere. Mas “como é que estas coisas se cruzam ainda não se sabe”.

As populações humanas que viviam nesta altura no centro da Europa tinham, diz Mariana Diniz, “um grau cultural considerável”. Eram sociedades de caçadores-recolectores segmentadas em grupos de cerca de 25 pessoas, com ritmos de deslocação certos e que trocavam frequentemente ideias, objectos e experiências.

Foi neste contexto que a Vénus de Hohle Fels terá sido esculpida. O que continua a ser controverso é o porquê a sexualidade feminina exacerbada.

“A representação clara das características sexuais sugere que são uma expressão directa ou indirecta da fertilidade”, defende Conard no artigo. Como a Vénus de Willendorf, não são só certas características que estão sobrevalorizadas, partes anatómicas como os pés e pernas são minimizadas. A cabeça, neste caso, transforma-se num pequeno anel que parece servir para pendurar o objecto. Mariana Diniz avança com o nome de “amuleto erótico”, no qual “a cabeça, que seria aquilo que individualizava as pessoas, não está lá.”

Uma das características destas figuras é a representação da gordura. Muitas vezes é tão realista que os investigadores defendem que quem esculpiu terá de ter visto alguém com um nível de obesidade raro nestas sociedades. Isto, segundo Mariana Diniz, mostra que a gordura era apreciada, talvez porque a obesidade era algo que não se tinha e podia estar associada “ao poder, aos que não têm de trabalhar”.

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