Mota-Engil estreia-se no sector mineiro no Malawi

Mina de extracção de urânio da Kayelekera leva assinatura do grupo português na construção de acessos, planos de segurança e minimização ambiental

a As imagens que chegaram da inauguração da mina de urânio de Kayelekera, na última sexta-feira, comprovam a importância que aquele investimento tem no Malawi. As notícias veiculadas pelas agências internacionais, e que reportaram o discurso do Presidente Bingu Wa Mutharika, também. A inauguração da mina, situada em Karonga, 650 quilómetros a norte da capital, Lilongwe, significa não apenas postos de trabalho (300 directos, 1000 indirectos) mas sobretudo um ponto final da dependência exclusiva da economia da actividade agrícola, trazendo uma perspectiva de crescimento do produto interno bruto nacional em cerca de dez por cento - actualmente, o PIB do Malawi é de 2,2 mil milhões de dólares.Para a Mota-Engil, contratada pela Paladin, um gigante mundial na exploração de minas com sede em Perth, na Austrália, esta inauguração significa o começo de uma actividade que já foi assumida pelo grupo português como uma nova aposta.
Depois de já ter credenciais reconhecidas nas áreas da construção e engenharia, das concessões de transportes e de serviços e das actividades na logísticas e nos sectores portuário e ferroviário, o grupo liderado por António Mota quer assumir-se como operador de exploração mineira.
Com largos anos de experiência, ganhos sobretudo no Peru, com a Translei, onde é especialista na preparação das acessibilidades e das infra-estruturas para a exploração mineira, a Mota-Engil vai começar agora, no Malawi, e durante os próximos sete anos, a escavar minério e a transportá-lo para exploração. É isso que lhe permite o quarto dos contratos que assinou com a Paladin: durante aquele período, vai ser a Mota-Engil a responsável por toda a remoção de terras e extracção de urânio, sendo expectável que movimente cerca de 19 milhões de metros cúbicos (BMC) de materiais (remoção de terras), gerando um valor de negócio de 114 milhões de euros (cerca de 5,9 milhões de euros por cada milhão de metro cúbico movimentado).
A Mota-Engil está a trabalhar na Kayelekera há um ano e meio para cumprir outros três contratos: a construção da estrada de acesso à mina (no valor de 900 mil euros), a terraplenagem no valor de 22,2 milhões de euros, destinada à execução de várias infra-estruturas visando as questões ambientais e preservação dos recursos naturais, e todo o trabalho de betão armado necessário no valor de 6,3 milhões de euros.

Questão ambiental sensívelFoi também a Mota-Engil a responsável por dois planos que asseguraram a segurança das operações e a protecção ambiental e preservação dos recursos naturais da região. Segundo informação oficial do grupo, esta foi uma das questões mais sensíveis para resolver, tendo sido os dois planos aprovados pelo dono da obra. Foi a questão ambiental que obrigou à construção de quatro bacias de decantação para colocar as águas provenientes da unidade industrial da zona da mina, evitando atingir qualquer linha de água que pudesse afectar o ambiente local e minimizando a subtracção de água dos rios.
Por ter sido uma obra com mais de dois milhões de horas de trabalho sem registo de qualquer acidente ["O que deve ser considerado como notável, numa área tão sensível como esta", comentou ao PÚBLICO o presidente da Mota-Engil, António Mota], o grupo português começa a sentir-se colocado "numa excelente posição para partir à conquista do mercado mineiro africano". A possibilidade de trabalhar com um gigante do sector, como a Paladin, pode ser um dos melhores cartões de visita, mas a Mota-Engil diz que quer começar a trilhar outros caminhos, estando já a fazer algumas prospecções de terreno por conta própria (ver perguntas a António Mota).
Com a mina de Kayelekera na capacidade máxima, o grupo prevê empregar cerca de 186 trabalhadores por contrato, na sua generalidade de origem do Malawi. A empresa assegura que estão a ser desenvolvidos projectos de formação para incentivar a contratação de mais trabalhadores e técnicos locais.
António Mota diz que o grupo tem experiência na construção mineira no Peru e em Angola, em projectos com a Escom
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milhões de horas de trabalho sem registo de acidentes. Nos próximos sete anos, na sua capacidade máxima, o grupo português espera contratar 186 trabalhadores, na sua maioria oriundos das comunidades locais
a O presidente do conselho de administração do grupo Mota-Engil, António Mota, esteve rodeado das principais autoridades do Malawi na inauguração do maior investimento estrangeiro naquele país africano, realizado por uma empresa australiana, a Paladin.
Que importância tem esta inauguração para o grupo?
Nós andamos a acumular know-
-how e experiência desde há largos anos na área mineira, não só no Peru, mas também em África e mais concretamente em Angola, nos projectos com o grupo Escom. Temos experiência em construir acessibilidades e infra-estruturas para a exploração mineira, mas agora vamos começar a fazer a escavação, a desmontagem e o transporte do minério que depois é tratado e explorado pelo nosso parceiro.
É importante, por ser o primeiro contrato de exploração de minas?
Este contrato é importante para todos. Em primeiro lugar, é importante para o país, que era eminentemente agrícola, está em dificuldades e vai diversificar a sua fonte de receitas. É importante para a Paladin, que aqui abre a sua segunda maior mina de urânio em África [a maior é na Namíbia]. E é muito importante para o grupo Mota-Engil, que tem aqui uma oportunidade de se afirmar neste sector, aproveitando esta parceria com um dos grandes operadores de minas do mundo.
A expansão na área mineira do grupo será sempre em parceria com a Paladin e sempre em África?
Não escondemos que gostamos deste parceiro e que vamos estudar a hipótese de continuar a alargar estas parcerias. Estamos a fazer trabalhos de prospecção com eles, mas também estamos a fazer trabalhos de prospecção sozinhos. A nossa prioridade, nesta área, será África, mas o facto de estarmos noutras geografias, como o Brasil, o Peru e o México, permite-me pensar que se surgirem oportunidades, vamos explorá-las.

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