Quando ela é a mais velha do casal "Não quero saber da diferença de idade, quero é ficar com ele"
Marina ainda tem uma fotografia do primeiro aniversário do filho, em que aparece a ajudar a apagar as velas um rapaz de dez anos, o David, filho de uma vizinha do mesmo prédio. Passaram-se doze anos, mas parece que passou uma vida. Hoje David tem 22 anos, Marina tem 39, e estão casados. "Nunca ninguém conseguiu dar-nos razões fiáveis de que ia falhar. Podia falhar como outra relação qualquer. A diferença de idades não iria influenciar em nada", diz David. Ao princípio, Carla não queria dar a mão ao Paulo quando andavam na rua. "Tinha vergonha, achava que as pessoas iam dizer: 'Olha uma velha com um puto'." Ela tem 39 anos, ele tem 25, casaram há quatro anos. Um dia ele puxou-a para dentro de um café no Laranjeiro, onde ninguém os conhecia, e perguntou à empregada: "Que idade nos dá?" Carla já nem se lembra exactamente do número, mas sabe que a outra disse "uma idade que era superaproximada".
"Achas que um dia me posso desinteressar?", pergunta Leonel. "Sim, embora neste momento não pense nisso", responde Ana. "Mas há-de haver um momento em que eu sou mais velha do que tu."
Hoje Ana tem 33 anos, Leonel tem 26, quando começaram a namorar ele era um estudante universitário - "era o caloiro do meu irmão", sublinha ela - e tinha 23. "Costumo dizer a brincar que ela é muito nova para mim. E de facto é, é muito mais miúda do que eu."
Quando conheceu o João, Susana ainda pensou "o que é que eu faço com um miúdo ao meu lado?" Depois foi imaginando que duraria uns dias. Mas o tempo passou e o João continuava ao lado dela. Hoje ela tem 48 anos, ele tem 30 (quando se conheceram ele tinha 23), e estão juntos há tempo suficiente para saberem que o que aconteceu entre eles não foi uma coisa passageira. "Quando achar que não estou a corresponder à relação, sou eu quem lhe deixo o caminho aberto para formar outra família", diz ela. E ri: "Se bem que nessa altura ele estará mais velho do que eu."
O fenómeno
Dificilmente se pode falar de um fenómeno. Mas há certamente sinais de que estão a aumentar os casais em que as mulheres são mais velhas. As chamadas "celebridades" dão alguma visibilidade ao facto: veja-se o casamento dos actores Demi Moore (46 anos) e Ashton Kutcher (31) ou o de outra actriz, Susan Sarandon (62) com o também actor Tim Robbins (50).
Sarandon, por exemplo, vê-se constantemente, em entrevistas e conferências de imprensa (como a que fez quando esteve em Portugal no ano passado), a ter de responder a perguntas sobre a sua relação com Tim Robbins. Perguntas que têm geralmente por trás a grande questão de saber como é que ela consegue mantê-lo ao seu lado (o mesmo acontece com a apresentadora brasileira Marília Gabriela, de 60 anos, que, apesar de desde 2006 estar separada dele, ainda não conseguiu livrar-se das perguntas sobre a sua relação, e casamento, com o actor Reinaldo Gianecchini, 24 anos mais novo).
Na comédia romântica Alguém Tem Que Ceder, Diane Keaton lançava-se num romance com Keanu Reeves, um médico muito mais jovem do que ela, embora no final acabasse por não resistir ao charme trapalhão de um homem da idade dela, Jack Nicholson (que, por seu lado, tinha grandes dificuldades em ultrapassar o seu próprio tabu em relação a namorar com mulheres da sua idade).
E nos Estados Unidos já inventaram um nome para mulheres que se andam com homens mais novos: "cougar", que em português se traduz como "puma", uma expressão que começou por ter uma conotação negativa, mas que evoluiu para uma forma de descrever mulheres seguras de si, que sabem o que querem e preferem homens mais novos (a Samantha da série televisiva O Sexo e a Cidade seria um bom exemplo). Existem já vários sites dedicados a mulheres "puma" e pelo menos um livro Cougar: a Guide for Older Women Dating Younger Men, da sexóloga Valerie Gibson.
Os números
Os números confirmam: dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostram que no Brasil os casamentos de mulheres mais velhas com homens mais novos aumentaram 36 por cento em dez anos (entre 1996 e 2006), passando de 5,6 milhões para 7,6. No mesmo período, o número de casamentos em que os homens são os mais velhos cresceu menos: 25,3 por cento.
Mas é necessário ler melhor estes números para perceber as características do fenómeno. Na grande maioria destes casamentos (64,7 por cento, ou seja 4,9 milhões) a diferença de idades é inferior a cinco anos. O escalão seguinte - em que a mulher é entre cinco e nove anos mais velha - corresponde a 23,2 por cento ou 1,7 milhões. Os números começam a descer quando a diferença de idades se torna maior: com uma diferença de 10 a 14 anos, surgem 592 mil uniões (7,7 por cento); entre 15 e 19 anos, são 210 mil uniões (2,8 por cento); entre 20 e 29 anos, 101 mil (1,3 por cento). O último escalão, aquele em que a mulher tem 30 anos ou mais de diferença, já só representa 22 mil (0,3 por cento).
E em Portugal? Os números do Instituto Nacional de Estatística para 2007 mostram valores bastante baixos. Alguns exemplos: houve oito homens com idades entre os 17 e os 19 anos a casar com mulheres entre os 30 e os 34. E apenas um dessa faixa etária a casar com uma mulher entre os 35 e os 39.
Mas, se passarmos para o grupo dos homens entre os 20 e os 24, nota-se um aumento. Houve já 289 a casar com mulheres entre os 30 e os 34; 58 com mulheres entre os 35 e os 39; 26 casaram com mulheres entre os 40 e os 44; 24 com as que têm entre 45 e 49. Quando passamos para os escalões acima dos 50, os números caem drasticamente: cinco homens casaram com mulheres entre os 50 e os 54; e dois com as que têm entre 55 e 59.
Sofia Aboim, investigadora de questões ligadas à família e ao casamento do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, admite que "socialmente a estranheza de uma união em que a mulher seja mais velha tem vindo a diminuir". Diz não conhecer um estudo especificamente sobre essa questão, mas lembra que um inquérito realizado em 1999 pelo ICS mostrava que nos segundos casamentos a diferença de idades entre homens e mulheres tende a aumentar significativamente - ou seja, quem casa pela segunda vez (e o estudo revelava isso sobretudo em relação aos homens, grupo em que o fenómeno é muito mais generalizado) tende a casar com uma pessoa mais nova.
Além disso, sublinha a investigadora, "a questão da idade, o ser mais velho, tende a anular-se e hoje as pessoas muitas vezes já não correspondem ao estereótipo do que é ter 40 anos".
O início da relação
Começar uma relação em que o homem é o mais novo é o mais difícil, sobretudo para as mulheres. Carla não tinha muitas dúvidas. Afinal, ninguém faz assim tanto desporto e aquele rapaz que vinha fazer todas as suas aulas no ginásio Aqua Fitness da Quinta do Texugo só podia estar interessado nela. Mas ela estava decidida a resistir-lhe. "Estava à espera de encontrar alguém com quem eu conseguisse ter alguma estabilidade. E pensava 'agora vou-me pôr aqui a brincar com um puto quando já tenho outro lá em casa?' [o filho, do primeiro casamento]. É um bocado complicado."
Paulo era persistente. "Aquilo deve ter durado para aí um ano e meio, até que consegui convencê-la." Foi preciso frequentar muitas aulas. "Eu sempre a dar-lhe com os pés", conta ela. "Dizia-lhe: tu és um puto... tratava-o mesmo assim." Mas quando ele não aparecia nas aulas era ela quem ia a correr telefonar-lhe para saber o que se tinha passado.
Para Marina e David, o começo foi ainda mais conturbado. Afinal ele era o filho da vizinha, que ela vira crescer (apesar de durante um longo período em que ela esteve doente não se terem visto, e depois disso ele ter aparecido já crescido) e o Montijo é um meio pequeno, onde tudo dá falatório - e um caso como este mais do que tudo. Havia perguntas, insinuações, olhares, e até mensagens anónimas. "Houve sempre uma franca e clara tentativa de partir o elo", dizem. "Quando as coisas aconteceram inicialmente entre nós, ficámos os dois superassustados. Tínhamos consciência de que ia ser um problema. E foi", conta Marina.
Para Ana e Leonel, não havia tantos obstáculos, a diferença de idade era mais pequena e ela não era, como Carla ou Marina, divorciada. E mesmo assim teve dúvidas. "Ele tinha 23 anos, estava a estudar, e eu tinha 30. Na altura pensei que era uma coisa descabida. Além disso, ele não era uma pessoa vinda do nada, era o caloiro do meu irmão. Tive essa percepção muito fortemente. Era muito mais velha e coloquei-me noutro plano. Mas depois vi que ele é o que é, não é a idade que tem. Vi isso e superei as dúvidas."
Ao princípio há pequenas dúvidas que hoje parecem ridículas. "Lembro-me de pensar 'isto é um bocado descabido, então ela está a trabalhar e como é que é a minha vida, venho da faculdade, passo aqui e vou para casa?'", conta Leonel. Ana às vezes ia buscá-lo à faculdade e também isso era para ela "uma coisa estranhíssima".
Mas aquilo com que Leonel teve mais dificuldade em lidar foi com o facto de ela ter um passado, ter vivido noutros países, ter tido outras relações. "Sempre gostei de mulheres com cicatrizes de guerra, com pequenos segredos, afirmativas." Mas, ao mesmo tempo, custava-lhe a aceitar a ideia de que ela "tinha mais experiência relacional e sexual" do que ele. Hoje ri-se disso. "Vê lá como eu tinha aquele resquício brutal de machismo."
Susana (que deu esta entrevista sem o João) confessa: "Imaginamos que futuro teremos com um homem mais novo. Resisti muito em assumir alguma coisa." Também neste caso, a persistência foi toda dele. "Criei-lhe todas as dificuldades possíveis, e ele foi muito persistente porque era mesmo a mim que ele queria."
A família e os amigos
As amigas foram fundamentais para Susana. "A opinião delas deu-me força. Uma disse: 'Se estás feliz, vai em frente.' A outra só me dizia: 'Não sei porque é que tens tantos problemas, porque não há relações definitivas.' Gravei estas duas frases na minha cabeça, e acho que elas têm razão."
Mas se os amigos foram fundamentais em todas estas histórias, é geralmente da família que surgem as maiores dúvidas. A mãe de David, que era amiga da Marina, teve muita dificuldade em aceitar a relação. E havia avisos vindos de todos os lados. "A minha família", recorda Marina, "dizia 'cuidado, ele é um malandro, vai-te enganar, vai-te deixar e ficas, coitada, pobre divorciada, com um filho'. A família dele dizia 'olha que ela é uma louca, desvairada, vai usar-te e depois dá-te um pontapé'. Portanto éramos ambos vítimas." Mas as coisas mudaram muito com o casamento. "A nossa festa de casamento nem era para existir, mas começaram todos a perguntar-nos pela festa e fomos quase obrigados a fazer uma", lembra Leonel.
Também a mãe de Carla perguntou: "O quê? O puto?" Mas, frisa Carla, "isso foi quando ainda não o conhecia, depois mudou completamente de ideias".
Os filhos - tanto o de Carla como o de Marina, como o de Susana - aceitaram bem os novos namorados das mães, aqueles homens que apareciam nas suas vidas e sabiam imensas coisas de jogos, computadores, playstation. Carla, aliás, só se sentiu verdadeiramente à vontade quando foi o próprio filho quem um dia lhe perguntou: "Ó mãe, por que é que não namoras com o Paulo?" E ela. "Porquê filho? Gostas dele." Gostava sim, o Paulo era "muito fixe". E então ela prometeu: "Vou pensar nisso."
O grupo de amigos, esse, Carla e Paulo foram construindo juntos, sobretudo com as pessoas do ginásio Aqua Fitness da Marisol, onde hoje ambos são professores. Ana descobriu os amigos de Leonel, mais novos que ela, mas essa foi precisamente uma das coisas que lhe agradaram. "Voltei a reviver certo tipo de ambientes da faculdade, de ir para o Bairro Alto até às tantas, da coisa sem tempo que é um prazer. As pessoas da minha idade nessa altura já estavam noutra fase." Com os amigos dela, Leonel sentiu às vezes que lhe estavam a fazer lembrar a idade sem que ele achasse que se justificava. "É muito complicado estares a querer ter uma conversa e virem dizer: 'Ainda és muito novo'."
Os outros
Os outros podem ser, como se sabe, um inferno. Há, todos os sentiram, uma pressão social, um preconceito que a esmagadora maioria das pessoas não chega a verbalizar mas que está lá. "Quando chegamos a um restaurante, ao princípio ninguém olha para a minha cara", explica Marina. "Mas se o meu filho está connosco ficam muito sérios a olhar." David descreve a situação: "Percebem que o Duarte não pode ser meu filho. Ele tem 13 anos, eu tenho 22, nota-se bem que não pode. Mas ela também não pode ser minha mãe. Então as pessoas ficam muito confusas."
Marina acha que "tudo o que não é a norma provoca-lhes muita insegurança". E volta-se para o marido: "Quando íamos comprar móveis, uma vez perguntaram se eu era tua irmã, lembras-te? 'São, são...', e nós dizemos 'marido e mulher', e as pessoas ficam em pânico, completamente constrangidas." David abana a cabeça, concordando: "Tem a ver com o não conseguirem suportar algo que seja diferente. Temos de andar todos em rebanho, fazermos todos as mesmas coisas."
Marina tem a certeza de que, se tivesse aparecido com um namorado mais velho do que ela, as reacções teriam sido completamente diferentes. "Como se as relações tivessem a ver com a idade das pessoas e não com as próprias pessoas, o que é um disparate. Se duram ou não, isso tem a ver com as características de cada um. Um homem mais velho podia ser o maior desvairado do mundo, mas não tinha importância, era mais velho. Um mais novo não é aceite."
Há um outro factor que, na opinião de Marina, pesa nesses preconceitos. "Considera-se um privilégio uma mulher ter um homem mais novo." Não faltam, por isso, os conselhos de "aproveita bem", como quem diz que uma união daquelas não pode durar, tal como não faltam as perguntas "não quer pintar esses cabelos brancos?", como quem diz "olhe que ele vai reparar que é mais velha".
Os homens ouvidos pela Pública são os primeiros a garantir que não se preocupam nem um pouco com o que os outros possam pensar. São as mulheres as que confessam que pensam nisso. Ana diz que hoje "é com um certo orgulho" que conta que tem um namorado mais novo. Para Leonel, a questão nem se coloca. "Essa questão é sempre para a pessoa mais velha. Para mim, nunca houve orgulho ou outra coisa qualquer. É tão absolutamente natural. Mas a questão está mal resolvida na sociedade."
E está mais mal resolvida nas gerações mais velhas, sublinha Ana. "Para as pessoas mais novas, acho que é uma evidência, mas as mais velhas olham para a mulher que tem uma relação com um homem mais novo como um bocadinho infantil, do género 'com trinta anos já devia ter outra abordagem da vida e vai meter-se com um miúdo'. Há certo tipo de comentários que, mesmo quando não os ouvimos, sabemos que existem."
Talvez por isso Carla tinha a tal vergonha de andar na rua de mão dada com o Paulo. "Achava que as pessoas olhavam." Mas passou. "Houve um momento em que assumi: não quero saber da diferença, quero é ficar com ele. Comecei a perceber que não era o tipo de rapaz que imaginamos com 18 ou 20 anos, e ele deu-me todas as provas possíveis de que queria ficar comigo."
Susana admite que imaginou o que os outros iam pensar e como é que aquela relação seria aceite. Mas acrescenta imediatamente: "Não faço a minha vida em função dos outros. De qualquer forma, tento não dar azo a falatórios."
O dinheiro
Quando Leonel ainda andava a estudar e não tinha dinheiro para grandes gastos não deixava Ana pagar-lhe nem um café. "Foi um princípio que na altura tentei manter absolutamente rígido. Isso teve consequências na nossa vida social, porque às vezes eu não tinha dinheiro para ir ao cinema ou ao teatro e não ia." A situação mudou completamente. Leonel é médico, Ana é arquitecta e neste momento é ele quem ganha mais dinheiro. Paulo pensou nisso no princípio. Ela dava aulas, ele estudava. "Não sabia bem como é que havia de gerir essa parte do dinheiro. No Verão em que começámos a namorar, eu comecei a trabalhar como nadador-salvador na praia. Depois comecei a dar umas aulinhas, e entretanto os meus pais continuaram a pagar-me os estudos" (no dia em que a Pública o entrevistou, Paulo acabara de defender a tese de mestrado em Motricidade Humana, e hoje é professor no mesmo ginásio que a mulher).
Os filhos
"O projecto de ter filhos esteve sempre fora de questão", garante Susana, que já tem um filho de 15 anos. "Foi uma questão que lhe pus logo de início. Se ele quisesse ser pai, eu percebia perfeitamente."
Ana e Leonel têm idade para ter filhos juntos, mas precisam de encontrar um momento no tempo em que estejam em sintonia para isso. "Isso é um problema", reconhece ele, "mas é um problema que fui interiorizando desde o início da relação. Colegas meus que têm 26 anos e que se vão casar com mulheres de 25 podem pensar cinco ou seis anos antes de tomar uma decisão. Tenho essa percepção. Se calhar não vou ser pai aos 31 ou 32, vou ser aos 27 ou 28." "Eu vou ter de ter filhos mais tarde para estarmos de acordo", afirma Ana. "Tenho de esperar até ele estar interessado nisso, mas ao mesmo tempo tenho um 'limite de validade' para poder engravidar."
Esta é uma questão na qual Carla e Paulo também pensam. "O meu filho está sempre a perguntar quando é que vai ter um irmão. Isso é uma coisa em que também temos falado. Porque daqui a pouco já não tenho idade." Paulo não quer ser pai já. "Se não tiver filhos, não tenho, logo se vê. Há coisas que ainda queremos fazer juntos e com uma criança é sempre mais difícil." Os filhos são, inevitavelmente, o tema em que a diferença de idade se torna um facto incontornável. "É uma diferença que há entre nós e temos de a assumir", diz Carla. "Mas não é um problema, não perco noites a pensar nisso."
Marina encara o assunto com a maior das descontracções. "Uma das coisas que as pessoas me dizem sempre é: 'Não podes ter filhos, coitada, e se o rapaz quiser?' E ela responde: 'Se quiser tem, o que não falta aí são alternativas'."
O futuro
Maria e David não podiam estar menos preocupados com o futuro. "Somos muito parecidos. Partilhamos objectivos de vida idênticos", diz ela. "Não há justificações para não funcionar. É mais fácil um relacionamento falhar com pessoas que não têm nada a ver uma com a outra do que com pessoas com idades diferentes mas que têm os mesmos objectivos, querem as mesmas coisas", reforça ele.
"Não faço previsões de futuro, nem tenho essa preocupação", garante Susana. "Se um dia a relação terminar, terminou. Estou preparada para tudo desde o início. Mas a cumplicidade que existe entre nós é suficiente para ficar uma boa amizade para sempre." De qualquer forma, brinca com a diferença de idades. "O João", diz, "tem uma cultura e uma maturidade muito elevadas. Atrever-me-ia a dizer que muito superiores às minhas. Sou eu que me sinto com menos idade, e ele até costuma brincar e dizer-me: 'Já estou velho, cansado, isso é para ti que és jovem'."
Susana parece estar a repetir quase pelas mesmas palavras aquilo que Ana e Leonel também já tinham contado. "Eu acho que ele tem um nível cultural mais alto do que o meu, apesar de eu ser mais velha", diz ela. E o futuro também não os preocupa. "Sempre gostei de mulheres mais velhas", diz Leonel. "Lido muito bem com o envelhecimento e acho bonito uma mulher envelhecer. Faz-me impressão esses tipos que têm uma obsessão pelas miúdas mais novas, acho isso totalmente desinteressante, tanto sexual como emocionalmente."
Ana: "Estamos numa época em que se idolatra a beleza física e a juventude. Eu tenho a idade que tenho e não tenho que aparentar vinte anos." Leonel: "Não é coisa em que eu pense agora, como é que ela vai ser quando tiver 45 e eu 38. Parece-me absurda a ideia de eu não me sentir atraído fisicamente por ela."
Carla sente uma maior insegurança. Por isso Paulo está sempre a brincar com ela. "Ele vê um casal na rua e diz: 'Vês, quem é que parece mais velho, ele ou ela? Ele já está gagá, é ela que está a tomar conta dele'." Mesmo assim, ela não consegue vencer completamente as dúvidas. "Eu digo-lhe: 'Agora ainda sou gira, mas daqui a dez anos tenho mais 14 anos que tu.' E ele responde: 'Pois é, são os mesmos 14 anos a mais que tens agora'." a
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