O airo que nidificava nas Berlengas está a desaparecer devido às gaivotas e às redes de pesca

a O airo, ave semelhante a um pequeno pinguim que escolhia as Berlengas para nidificar, e onde aparecia às centenas, está em extinção acelerada, tendo este ano sido avistados apenas quatro exemplares. As causas apontadas para o desaparecimento do airo das Berlengas são, segundo especialistas ouvidos pela Lusa, a pressão exercida pelas milhares de gaivotas, as redes de emalhar, fatais para estas aves que passam muito tempo no mar, e também o aquecimento do planeta.
O airo encontra-se no Norte da Europa, sendo que a ilha da Berlenga era o limite sul da sua distribuição.
Dados publicados em 1952 identificaram seis mil casais de airos (ou arau-comum) na Berlenga.
"Não temos estudos científicos continuados no tempo para identificarmos com rigor uma causa para o desaparecimento do airo", afirmou à Lusa Ivan Ramirez, da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).
"As redes de emalhar podem ter sido um dos fortes contributos para o desaparecimento do airo, assim como a alteração dos habitats pela presença de predadores como as gaivotas", adiantou o especialista.
"O que sabemos é que nos últimos 20 anos aumentou o número de gaivotas, o porto de pesca de Peniche foi ampliado (há mais comida para as gaivotas proporcionando a sua reprodução), deu-se um aquecimento da atmosfera e a presença do airo diminuiu", disse, por seu lado, Henrique Queiroga, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.
"Não é possível determinar uma causa para o desaparecimento do airo", frisou Henrique Queiroga, que também coordenou o processo de candidatura das Berlengas a Reserva da Biosfera da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
O dossier de candidatura está concluído e será entregue à UNESCO nos próximos meses.
"É possível que seja a pressão das gaivotas (estima-se que sejam 20 mil), porque sabemos que elas são um predador que ataca outros animais e que come os juvenis", disse o biólogo da Universidade de Aveiro.
Na ilha, os quatro airos escolhem para ninho uma escarpa abrigada da insolação e são vistos rodeados por largas dezenas de gaivotas a que se juntam alguns corvos marinhos.
O número de airos avistados nas Berlengas tem vindo a diminuir todos os anos: em 1983 eram 70 e em 1997, 52. Os airos podiam ser vistos entre os meses de Janeiro e Julho, altura correspondente à época de reprodução.
A pequena ave, considerada "o pinguim do Hemisfério Norte", foi eleita a mais característica das Berlengas, tendo sido adoptada para símbolo da Reserva Natural. O airo das Berlengas arrisca-se agora a ser apenas um emblema e uma memória da reserva. Lusa

Sugerir correcção