É um filme um tanto inesperado deSoderbergh, que nunca cultivoumuito a relativa aridez em que "Che"se desenrola, nem esta espécie delonga linha horizontal, quase livrede oscilações, com que conta ahistória da glória e da extinção deChe Guevara. Se se pensa emTerence Malick pensa-se comalguma razão - foi Malick quemcomeçou por trabalhar noargumento e parece evidente queSoderbergh preservou o seu rasto,mormente na segunda parte (a quefoi directamente trabalhada pelocineasta de "Thin Red Line"), a maisdespojada, sem o enfoque"estruturalista" que Soderberghcongeminou para a primeira parte (aentrevista, o preto e branco, a ida deChe à ONU). É bem melhor, bemmais sólido, do que os "Diários daMotocicleta" com que Walter Sallesfilmou o jovem Che, e com um saborestranhamente mais europeu do queamericano (até nos passa pelacabeça que Soderbergh tenha vistoum filme que o suíço Richard Dindofez sobre o "diário boliviano" deChe, e mais ainda que o leve emconsideração). Nem maniqueísta,nem crítico, nem galvanizante,muito menos empático, trata-se detransformar Che em personagem decinema contemplativo (talvez seja omais próximo que um cineastaamericano se pode chegar de AlbertSerra...) e segui-lo num mergulhoque funde o idealismo na autodestruição.
Benicio Del Toro é ointérprete perfeito para isso, e oprojecto só vacila ligeiramente namorte de Che em plano subjectivo.Mas também se pode dizer que esseé o momento em que o filme, poressa altura já perfeitamente "zen" oucoisa parecida, "morre" com apersonagem...