Governo garante 40 milhões para Linhas do Corgo e do Tâmega
Refer assume pela primeira vez
que reabertura da linha ferroviária
do Tua está condicionada
à construção da barragem
a É um investimento de luxo: 14 milhões de euros para os 13 quilómetros da linha ferroviária do Tâmega e 26 milhões para os 26 quilómetros da do Corgo. Um milhão por quilómetro, garante a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, que chamou a si a decisão de suspender de imediato a circulação naquelas duas vias-férreas devido a um relatório da segurança que classificava como "preocupante" o estado daquelas linhas.Segundo fonte oficial do Ministério das Obras Públicas e Transportes, a governante recebeu o documento na passada terça-feira e decidiu actuar imediatamente, "para não ficar com problemas de consciência se viesse a haver algum acidente naquelas linhas". Contudo, o encerramento já era esperado e estava a ser preparado ao mais alto nível na Refer desde há alguns meses, com a concordância do Governo, até porque a secretária de Estado é conhecida no sector ferroviário pelos seus conhecimentos técnicos e pelo grande envolvimento nas empresas por si tuteladas.
Mais do que uma simples modernização daqueles dois troços, os investimentos agora anunciados permitem fazer uma autêntica reconstrução. O seu elevado montante foi justificado pela Refer com a necessidade de fazer trabalhos geotécnicos profundos, que incluem retirar os carris, travessas e balastro, escavar o solo e reconstruir um leito de via onde assentará uma nova superestrutura.
Via larga no Tâmega?
Nem por isso a velocidade futura dos comboios será maior (devido à sinuosidade do traçado), mas os passageiros ficarão a ganhar em conforto e segurança. A Refer não explica se a Linha do Tâmega será transformada em via larga - uma possibilidade, tendo em conta os 14 milhões previstos - por forma a ligar Amarante directamente ao Porto sem necessidade de mudança de comboio na Livração. Nesse caso, aquela cidade passaria a integrar a rede de suburbanos do Grande Porto. Estes montantes, contudo, não constam do plano de actividades da Refer, ao qual o PÚBLICO teve acesso e que mostram a intenção daquela empresa investir apenas 760 mil euros em cada uma das linhas nos próximos dois anos para "renovação e reabilitação da infra-estrutura".
Por outro lado, 40 milhões de euros é uma verba tão elevada que dificilmente se justifica a sua rentabilidade social quando aplicada a dois troços de via com tão reduzido tráfego, sobretudo num cenário de crise e quando há outras linhas mais importantes a necessitar de intervenções de fundo. Há, por isso, quem pergunte se alguma vez o comboio voltará a apitar naquelas linhas. Para já, a Refer diz que as obras começarão dentro de quatro meses.
A Refer dispõe ainda de uma verba que ronda os 30 milhões de euros para investir na Linha do Tua, mas esta está cativa das decisões que venham a ser tomadas sobre a barragem. Ana Paula Vitorino já fez saber que a EDP teria de construir uma variante ferroviária em substituição do troço que ficará submerso, mas aquela empresa diz que isso quase duplica os custos da barragem. Até lá, a Refer vai manter encerrada a linha entre o Cachão e a Foz do Tua, assumindo pela primeira vez que existe um problema chamado "barragem", pois, até à data, afirmava desconhecer oficialmente que esta seria construída.
Ontem, no debate de actualidade sobre o TGV, marcado pela oposição, o PCP, o BE e o PEV questionaram o ministro dos Assuntos Parlamentares, Santos Silva, sobre o encerramento das duas linhas sem avisar as populações. Depois de um primeiro silêncio do ministro, os partidos insistiram e obtiveram resposta. As empresas ferroviárias e rodoviárias têm a indicação para "nunca terem nenhuma hesitação quando há problemas de segurança. As duas linhas estão provisoriamente encerradas", disse Santos Silva. Por sua vez, Cavaco Silva, que esteve ontem em Chaves, escusou-se a comentar o encerramento daquelas linhas por entender que o Presidente da República não deve comentar as medidas do executivo. Mas, em tom de brincadeira, confessou que gosta de comboios. com S.R.