Ventura Terra ganhou reconstrução da AR em concurso público

Assembleia da República inaugura hoje uma exposição evocativa do arquitecto que reconstruiu o Palácio de S. Bento após o incêndio de 1895

a A obra do arquitecto Miguel Ventura Terra (Caminha, 1866, Lisboa, 1919) integra alguns dos edifícios mais emblemáticos de Lisboa: os liceus de Camões e de Pedro Nunes, o Teatro Politeama, a Maternidade de Alfredo da Costa, o átrio do Teatro Nacional de S. Carlos, o Banco Totta & Açores (na Baixa), a sinagoga de Lisboa e quatro casas que arrecadaram o Prémio Valmor (entre 1903 e 1911). Da sua autoria contam-se ainda o Teatro-Clube de Esposende, o santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo, e o pavilhão de Portugal na Exposição Universal de Paris, em 1900. A maior parte destas criações foi posterior à obra que deu consagração a Ventura Terra - ganhou o concurso público para a reconstrução do Palácio de São Bento, parcialmente destruído por um incêndio em 1895, e projectou a Sala das Sessões (inaugurada em 1903 pelo rei D. Carlos), a Sala dos Passos Perdidos e a escadaria nobre do edifício.
A reabertura do hemiciclo, hoje, afigura-se então o momento ideal para homenagear o arquitecto que assinou o projecto original da Sala das Sessões - a Assembleia da República inaugura hoje a exposição Arquitecto Miguel Ventura Terra 1866-1919, uma mostra retrospectiva da vida e da obra de Ventura Terra, que parte das investigações feitas pelo Museu de Esposende para uma evocação do arquitecto, em 2007.
Dividida em quatro núcleos expostos no piso térreo, átrio principal, escadaria e Passos Perdidos, a exposição revela, através de um acervo documental e iconográfico, os percursos escolar e profissional do arquitecto, a sua actividade política (em 1908, foi eleito, pelo Partido Republicano Português, vereador da Câmara Municipal de Lisboa, mantendo-se nessas funções até 1913) e imagens dos projectos mais relevantes de Ventura Terra.
Nos Passos Perdidos, um dos lugares mais simbólicos da Assembleia da República, diversas maquetas, desenhos e plantas da autoria de Ventura Terra traduzem a história do palácio, desde o incêndio, passando pela reconstrução do edifício, até à inauguração em 1903, quando os parlamentares regressaram ao hemiciclo (então Câmara dos Deputados), após sete anos reunidos na Academia das Ciências. Também neste espaço estão representadas as intervenções arquitectónicas realizadas pré e pós-incêndio de 1895, assim como são explicadas detalhadamente as alterações feitas até aos dias de hoje.
A exposição que hoje é inaugurada traça também um breve retrato biográfico do arquitecto, que nunca descurou actividades filantrópicas.
Quem passar pela Rua de Alexandre Herculano, em Lisboa, poderá ler na placa da lindíssima Casa Ventura Terra a seguinte inscrição: "Esta casa foi legada às escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto pelo arquitecto Miguel Ventura Terra, que nela faleceu em 30 de Abril de 1919, destinando o seu rendimento líquido para pensões a estudantes pobres das duas escolas que mostrem decidida vocação para as Belas-Artes."
Depois dos estudos de Arquitectura na Escola de Belas-Artes do Porto, Ventura Terra rumou para Paris, no último quartel do século XIX, onde frequentou a École des Beaux-Arts e trabalhou no atelier de Victor Laloux, autor da Gare d'Orsay, hoje Museu d'Orsay. Nos primeiros anos de 1900, o rei D. Carlos decidiu distinguir o trabalho de Ventura Terra e ofereceu-lhe o compasso de João Frederico Ludovico (1673-1752), o arquitecto alemão que projectou o Convento de Mafra.

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