A Câmara Municipal de Lisboa vai adquirir, por 15,5 milhões de euros, a antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, na baixa lisboeta, para ali instalar o Museu da Moda e do Design (MUDE), proposta camarária ontem aprovada, por maioria absoluta, na assembleia municipal.
A abstenção do PSD foi quanto bastou para a viabilizar, face aos votos favoráveis do PS, PCP, BE e CDS-PP (o PEV também se absteve), que validaram a compra do espaço para a exposição da colecção Francisco Capelo, adquirida pelo executivo presidido por Santana Lopes, assim como a instalação de uma Loja do Cidadão no mesmo edifício.
Foi um acto pacífico, o mesmo já não se podendo dizer do que se lhe seguiu, quando deputados do PSD e do Bloco criticaram a posição do presidente da autarquia, António Costa, por "não querer ver o que se passa à sua frente", e por não ter convocado o Conselho Municipal de Segurança após os distúrbios no Bairro Portugal Novo, no domingo passado.
"Show-off político", "conselhos municipais 'mortos'" e "irresponsabilidade" foram algumas das expressões ouvidas na sessão ordinária que se realizou ontem no Fórum Lisboa, para discussão na ordem de trabalhos. Uma das propostas apresentadas pelo executivo camarário dizia respeito à criação de um conselho participativo da cidade.
"António Costa não quer ver os incêndios, a crise e a criminalidade que estão a afectar o país (...) O conselho municipal não se reúne e um conselho participativo depende disso", disse Saldanha Serra, da bancada social-democrata. "Esta proposta é um show-off político, não é possível formar um conselho participativo com conselhos municipais mortos", acrescentou. O Bloco de Esquerda também criticou a autarquia por não reunir os conselhos municipais, e alertou para a necessidade de o Conselho Municipal de Segurança se reunir, devido aos incidentes do passado domingo no bairro do Portugal Novo. (ver outro texto)
Um espaço único
Se a proposta de criação do conselho participativo municipal foi invibializada unanimemente, a proposta de compra do edifício da antiga sede do BNU, pertencente à Caixa Geral de Depósitos (CGD), para instalação do Museu da Moda e do Design (MUDE), foi aprovada sem votos contra. "Recebemos com grande alegria esta aprovação e com o sentimento de que a cidade ganhou um espaço único que poderá ser usufruído de diferentes maneiras e contribuir para a revitalização da Baixa", disse à Lusa Bárbara Coutinho, directora do MUDE.
António Costa explicou que, inicialmente, a autarquia decididiu adquirir o palácio de Santa Catarina para instalação do MUDE, mas vários estudos revelaram que aquele espaço não oferecia condições para o funcionamento como museu, sendo que a sua compra foi impugnada em tribunal.
A valiosa colecção Francisco Capelo, adquirida pelo executivo de Santana Lopes no ano de 2003 e que se encontra desde essa altura "empacotada", "foi uma das prioridades do actual executivo", disse o presidente da câmara, acrescentando que "a sua exposição vai ser uma forma de dinamizar o comércio e o turismo do coração de Lisboa". A compra do edifício da Rua Augusta vai custar 15,5 milhões de euros à autarquia, sendo que já foram descontados dois milhões de euros que tinham sido dados como sinal para a compra de um edifício na Rua do Ouro e três milhões de sinal pelo Palácio de Santa Catarina, ambos pertencentes à CGD.
António Costa justificou a provável transferência da Loja do Cidadão dos Restauradores para o mesmo sítio que o MUDE por se tratar de um edifício que tem o triplo da área do de Santa Catarina, "e capacidade para mais equipamentos". "O seu actual edifício [Restauradores] oferece más condições e a renda é cara", explicou o autarca, que pretende disponibilizar 1800 m2 para a Loja do Cidadão no edifício da rua Augusta, e obter outra fonte de financiamento, a Agência de Modernização Administrativa.