Tudo o que queria e não queria saber sobre a Barbie
A boneca mais famosa do mundo (não, nem as Bratz e sucedâneos a suplantaram) faz hoje 50 anos. Por Joana Amaral Cardoso
Estranhezas
a Uma Barbie pode durar uma vida, mas também pode ser estraçalhada logo à chegada. É um facto sabido que muitas crianças dão cabo das suas bonecas e, transposto o hábito para a idade adulta, até há um bar em São Francisco que dá aos clientes a opção de as mutilar com facas. Mas o tratamento dado às Barbies pelas crianças intrigou os cientistas da Universidade de Bath (Reino Unido) que estudavam o comportamento infantil. Desde idas ao micro-ondas até decapitações, tudo é possível para uma criança com uma Barbie na mão. A conclusão do estudo de 2005, citada pela Forbes (que refere a controvérsia que a mesma gerou), é que este maus tratos se devem ao facto de as meninas entre os sete e os onze anos as verem como "uma figura de ódio". Mas as mesmas meninas referiram aos investigadores que isso acontecia sobretudo quando sentiam que já não tinham idade para brincar com elas.a Para além das críticas de alguns quadrantes do movimento feminista, que lamentam a visão estereotipada das mulheres e o irrealismo do seu corpo, a Barbie enfrentou também o activismo de pais com sentido de humor. Em 1993, em plena época de Natal, o modelo Teen Talk, que dava mensagens de voz gravadas à boneca, surpreendeu crianças e pais quando desatou a dizer: "Os mortos não dizem mentiras" e "A vingança é minha". Simultaneamente, bonecos G.I. Joe diziam romanticamente: "Vamos planear o nosso casamento de sonho!" Um grupo de pais, a Barbie Liberation Organization, tinha comprado umas centenas de ambos os bonecos e trocou-lhes as caixas de voz, pondo-os novamente no mercado.
a Diz-se que a Barbie é a boneca anatomicamente impossível. Aquela cintura de vespa, os pés em eternas pontas e a altura e peito pronunciado torná-la-iam um ser humano desequilibrado, por ter proporções tão irreais. A Mattel diz que nunca a tentou transpor para a realidade, mas a ciência já tentou perceber se a Barbie podia ou não ser real. Um estudo da Universidade de South Australia, citado pela BBC, concluiu que ela não é impossível - é apenas muito improvável. As probabilidades de uma mulher ter o corpo da Barbie são de um para cem mil. Outro estudo, da Universidade Central Hospital de Helsínquia (Finlândia), indica que, se ela fosse real, lhe faltariam entre 17 e 22 por cento da gordura corporal para que fosse uma mulher saudável e com menstruação.
a Houve produtos específicos que tiveram de ser retirados das lojas após protestos dos zelosos consumidores. Um: uma Barbie Borboleta com uma tatuagem (permanente) na barriga. Dois: a amiga de Barbie, Midge, que foi lançada grávida e com bebé extraível por cesariana. Três: a boneca Teen Talk continuou à venda em 1992, mas uma das suas frases ("A aula de Matemática é difícil") foi apagada após mais uma polémica.
Moda e Beleza
a Segundo o livro Forever Barbie, de M.G. Lord, um modelo de 1965, a Slumber Party Barbie, vinha com um livrinho sobre perda de peso onde se lia: "Não comas." A balança que acompanhava a boneca apresentava um peso bastante baixo para a mulher média. Depois de várias controvérsias, a Mattel mudou o molde da Barbie para alargar a sua cintura.
a O primeiro criador de moda português a vestir a boneca da Mattel foi António Augustus. Entretanto, em 2007, a Mattel uniu-se à Companhia Nacional de Bailado e pediu a doze criadores portugueses, como Nuno Gama, Manuel Alves e José Manuel Gonçalves ou Ana Salazar, para criarem 12 princesas bailarinas, a sua versão do que é uma prima ballerina.
a A boneca de 33 centímetros já foi vestida pelos mais conhecidos criadores de moda - de Oscar de la Renta a Giorgio Armani, passando por Calvin Klein. Em Fevereiro, na Semana de Moda de Nova Iorque, os 50 anos da Barbie foram tema de desfile de criações de Diane von Furstenberg, Anna Sui ou Vera Wang. Hoje a hiper-cool boutique parisiense Colette inaugura uma montra especial de aniversário repleta de bonecas (e bonecos) vestidos por Karl Lagerfeld, director criativo da casa Chanel.
a A beleza só se consegue com muito trabalho. Mais de cem pessoas trabalham no look da Barbie. São designers, costureiras, designers de padrões, cabeleireiros e afins, a postos para analisar o arquivo de cinco décadas de imagens da boneca com todas as suas roupas e acessórios. Há 25 maquilhadores e cabeleireiros que escolhem entre 52 cores de cabelos e 700 tipos de caras.
Em Números
a A Mattel diz que, em média, a cada segundo se vendem três Barbies. Mas a sua supremacia está ameaçada pelas novas bonecas mais direccionadas para o mercado tween (pré-adolescente) - as vendas mundiais caíram oito por cento em 2008, mas ainda assim venderam-se cerca de 100 milhões no ano passado. O processo legal contra as bonecas Bratz (da MGA), cujos primeiros modelos (decidiu o tribunal) foram concebidos por um criativo ainda a trabalhar para a Mattel, está em fase de recursos. Mas a sentença obriga à retirada das Bratz do mercado já este ano. a Para assinalar este 50.º aniversário, em vez de um bolo a Mattel deu à Barbie uma megaloja em Xangai - a House of Barbie. Tem spa, bar e vestidos de alta-costura e de casamento à venda. E a Mattel também acaba de lançar uma Barbie Tatuagens, que vem com cerca de 40 autocolantes com minitatuagens para a tornar mais cool. Coisa já muito debatida entre os pais.
a As edições de coleccionador (como a Barbie aqui reproduzida no topo desta página, uma edição limitada com a Princesa do Império Português) são valiosas e têm um forte mercado. A mais procurada é a mais antiga, #1 Ponytail, de 1959. Aquela que atingiu maior valor num leilão custou 21.500 euros em 2006, segundo o New York Times.
Encarnações
a Desde que nasceu, a Barbie já teve cerca de 108 profissões. A primeira foi uma profissão típica da época do seu nascimento, um verdadeiro cliché-feminino: assistente de bordo. Entretanto já andou pelas Nações Unidas, candidatou-se à presidência dos EUA em 1092 e até foi astronauta. A Barbie, através da Mattel, diz mesmo que essa foi a sua experiência laboral "mais satisfatória". a Barbie é uma daquelas marcas que quase, quase se torna em substantivo que descreve o objecto em causa. Mas no caso dela, é mais uma referência. Por isso é que cada vez que surge, numa parte do mundo com valores ou parâmetros diferentes dos do Ocidente, uma boneca com as mesmas dimensões, ela é "a Barbie-qualquer-coisa". Uma das mais bem sucedidas é a "Barbie síria", a Fulla.
a Ela é solteira, orgulhosa de ser uma mulher independente. No dia dos namorados de 2004, Barbie terminou a "relação" com o seu companheiro de sempre, Ken, após 43 anos de enlevo.