Histórico bacalhoeiro Argus regressa a mãos portuguesas depois de 30 anos nas Caraíbas
"Irmão" do Creoula e do Santa Maria Manuela, este lugre ficou imortalizado no documentário A Campanha do Argus, realizado em 1950 por Allan Villiers
a Aquele que foi um dos mais emblemáticos navios bacalhoeiros portugueses, o Argus, deverá, em breve, regressar a Portugal, depois de ter estado cerca de 30 anos nas Caraíbas a cumprir cruzeiros turísticos. O veleiro que ficou imortalizado no documentário A Campanha do Argus, da autoria de Alan Villiers, acaba de ser comprado pela empresa Pascoal e Filhos, que já tem em mãos o projecto de recuperação de um outro veleiro histórico nacional, o Santa Maria Manuela. Apesar de a administração da empresa Pascoal e Filhos SA "não confirmar nem desmentir" a aquisição do Argus, o PÚBLICO sabe que o navio, que ultimamente recebia o nome de Polynesia II, foi adquirido pela firma de Ílhavo em Aruba, estimando-se que regresse a Portugal nos próximos meses. Resta, agora, saber que projectos terá o armador de Aveiro para aquele que foi um dos lugres mais imponentes da que ficou conhecida como The Portuguese White Fleet (Frota Branca) e que acabou por vir a ser projectado internacionalmente por força da reportagem realizada por Alan Villiers - que acompanhou, em 1950, uma viagem do Argus aos bancos da Terra Nova.
Este veleiro histórico é também reconhecido por ser "irmão" dos lugres Creoula e Santa Maria Manuela, tendo sido construído na Holanda, em 1939. Muito embora o seu desenho seja em tudo idêntico ao dos seus irmãos, o projecto do Argus já compreendeu algumas alterações e melhoramentos. Andou na pesca do bacalhau até 1970, acabando por ser vendido para o estrangeiro em 1974, tal como aconteceu, em 1971, com o Gazela Primeiro, outro dos veleiros emblemáticos da frota portuguesa - este último encontra-se em Filadélfia, nos Estados Unidos da América.
Com esta aquisição do Argus por uma firma nacional, a memória da epopeia dos portugueses na pesca do bacalhau - em especial, a da faina maior, feita nos pequenos dóris por um só homem - poderá, a médio prazo, ganhar um novo testemunho vivo. Além do Creoula, que está entregue à Marinha portuguesa, e do Argus, brevemente o país passará a contar com o Santa Maria Manuela, que está já a ser recuperado pela Pascoal e Filhos SA, depois de ter sido adquirido à fundação que detinha o casco do navio e que nunca chegou a conseguir arranjar verbas para a sua requalificação.
As últimas estimativas apontam para que o navio fique totalmente reconstruído em Outubro deste ano, sendo que a aposta passa por transformá-lo num navio de treino de mar, promotor da cultura científica, e promotor da história e vocação marítima dos portugueses. A esta altura, a recuperação do Santa Maria Manuela avança já a passos largos num estaleiro da Galiza, depois de ter sido alvo dos primeiros trabalhos em Aveiro, desconhecendo-se ainda os números que estão envolvidos nesta operação.