Barack Obama recorda a "audácia da esperança"
O Presidente falou duas vezes mais em "recuperação" do que em "crise", num discurso que foi muito bem recebido, segundo as sondagens
a A esperança, o optimismo e a ambição voltaram ao discurso do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que numa intervenção solene perante as duas câmaras do Congresso norte-americano sobre a situação do país, classificou a crise económica como uma oportunidade para pôr em prática uma nova agenda de "acções arrojadas e grandes ideias"."O peso desta crise não determinará o destino desta nação", prometeu o Presidente. "As respostas para os nossos problemas não estão além do nosso alcance", continuou. "O que é preciso agora é que o país se recomponha, enfrente os desafios com coragem e ousadia e mais uma vez assuma a responsabilidade pelo seu futuro", disse. "Foi isso que sempre fizemos em momentos de transformação económica", recordou.
As palavras do Presidente foram uma resposta aos que têm dito que o tom da Casa Branca tem sido demasiado sombrio e desmoralizador. Obama não criou falsas expectativas mas prometeu que os Estados Unidos "vão reconstruir-se, recuperar e emergir mais fortes do que nunca". Sem deixar de dar conta da precariedade da situação - os tempos são "difíceis e incertos", a economia está "enfraquecida", a confiança "abalada" - Obama procurou equilibrar o discurso com notas de optimismo e patriotismo e um renovado apelo aos americanos para que confiem nele.
"Em tempos de crise não podemos dar-nos ao luxo de governar com raiva ou ceder às políticas do momento. A minha missão é resolver os problemas. A nossa missão é governar com responsabilidade", insistiu, voltado para os legisladores.
Roosevelt, Johnson, Reagan
A referência à "crise" apareceu por onze vezes, mas a palavra mais repetida (22 vezes) foi "recuperação". Foi uma mistura do New Deal de Franklin Roosevelt e da Great Society de Lyndon Johnson, narrado com o optimismo de Ronald Reagan, resumiram os comentadores.
O discurso foi também pontuado por referências veladas ao passado recente. "Chegou o momento para o ajuste de contas", declarou Obama, acrescentando que na nova "era da responsabilidade" não se voltará a viver olhando apenas para "o próximo salário, o próximo trimestre ou a próxima eleição".
Sem adiantar novas iniciativas, Obama enumerou as medidas que a sua administração já tomou: o "Plano de Recuperação e Reinvestimento" de 787 mil milhões de dólares que prevê cortes fiscais, apoio social e despesas em infra-estruturas; o "Plano de Estabilização Financeira", que lançará um fundo de 500 mil milhões de dólares para absorver os activos tóxicos dos balanços dos bancos; e ainda o programa de 275 mil milhões de dólares para apoiar as famílias em risco de ver executadas as suas hipotecas imobiliárias.
As prioridades
O Presidente enunciou claramente as áreas de energia, educação e saúde como as prioridades da sua administração. Prometeu cortar para metade o défice orçamental de 1,3 milhões de milhões de dólares (ou 1,5 milhões de milhões depois de reflectidos os investimentos do plano de estímulo económico) até ao final do mandato. "Todos nesta câmara, democratas e republicanos e eu incluído, teremos de sacrificar algumas prioridades que são válidas mas para as quais não temos dólares", avisou.
O discurso foi bem recebido pela imprensa e pela opinião pública. De acordo com uma sondagem da CNN realizada com 484 adultos que assistiram à intervenção, 68 por cento tiveram uma reacção "muito positiva" e 24 por cento "positiva"; oito por cento reagiram negativamente.
A CBS perguntou a 500 americanos se aprovavam o plano económico do Presidente: antes da transmissão do discurso, 62 por cento disseram que sim, mas depois de Obama falar a aprovação subiu para os 79 por cento. Wall Street, pelo seu lado, iniciou a sessão em terreno negativo.
A réplica do Partido Republicano à intervenção de Obama ficou a cargo de Bobby Jindal, o jovem governador do Louisiana, apontado como um dos possíveis candidatos presidenciais em 2012. As propostas económicas do Presidente, declarou, são "irresponsáveis" e potencialmente "devastadoras", avisou, antecipando uma continuada oposição do seu partido às soluções dos democratas.
Para Bobby Jindal, o Governo devia investir apenas em cortes fiscais e confiar na capacidade dos mercados para responder à crise e nos esforços dos empreendedores para criar postos de trabalho.