Morgan Tsvangirai tomou posse como primeiro-ministro mas acordo no Zimbabwe favorece o Presidente Mugabe
Muitos comentários cépticos estão a ser feitos quanto à hipótese de o novo executivo conseguir tirar o país do profundo atoleiro em que actualmente se encontra
A O líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC), Morgan Tsvangirai, tomou ontem posse como primeiro-ministro perante o Presidente do Zimbabwe, Robert Gabriel Mugabe, que no dia 21 deste mês completa 85 anos mas continua a ser o chefe de Estado, devidamente acolitado por dois vice-presidentes da sua confiança: Joseph Msika e Joice Mujuru, ambos da ZANU-Frente Patriótica.Na ordem hierárquica, Tsvangirai aparece apenas em quarto lugar, seguido por dois vice-primeiros-ministros: Thokozani Khupe, líder adjunto do MDC, e Arthur Mutambara, chefe de uma facção dissidente do mesmo partido. E isto levou Aubrey Matshiqi, do Centre for Policy Studies, da África do Sul, a comentar à Reuters que se trata de "um acordo imperfeito, no qual o equilíbrio de poderes favorece Mugabe e a ZANU-PF".
Na sua opinião, Tsvangirai, de 56 anos, terá provavelmente pouca margem de manobra, podendo até vir a ser responsabilizado pelos erros herdados do Governo anterior e que se irão reflectir no executivo de unidade nacional agora em formação, para que amanhã possa tomar posse, no seu conjunto.
A ZANU-PF ainda não especificou quais os ministros que indica para os ministérios que lhe cabem nesta partilha do poder combinada em Setembro de 2008 e que só agora começa a ser levada à prática, tendo o comissário europeu para o Desenvolvimento, Louis Michel, comentado que "a jornada do Zimbabwe para a recuperação será longa e difícil". De igual modo, Mike Davies, analista de assuntos do Médio Oriente e da África no Eurasia Group, colocou em dúvida que este novo Governo seja capaz de fazer reverter por completo toda uma década de decadência económica. E o jornal britânico Daily Telegraph disse temerem os cépticos que Mugabe venha a subalternizar o primeiro--ministro Tsvangirai, tal como o fez com Joshua Nkomo e com a União Popular Africana do Zimbabwe (ZAPU) depois do acordo que com eles assinou em 1987.
"Grande visão"Num indício de quem é que verdadeiramente continua a mandar, ontem o mestre-de-cerimónias de tomada de posse, Washington Mdizo, apresentou Mugabe como "um estadista de grande visão luminosa e esperança, um homem distinto", sem que tenha tido qualquer referência semelhante para Tsvangirai.
De igual modo, foi em vão que nos últimos dias o líder do MDC pediu a libertação de mais de 30 correligionários seus detidos desde o ano passado e acusados de terrorismo. "Mergulhamos no desconhecido", reconheceu ontem ao canal televisivo sul-africano eNews. E a embaixada britânica em Harare colocou num jornal local um anúncio a manifestar a opinião de que o novo arranjo político do país não deverá atrair grande auxílio externo enquanto Mugabe continuar à frente dos destinos da antiga Rodésia.