O Irão de A a Z
Há 30 anos, em Fevereiro de 1979, o ayatollah Khomeini transformou a monarquia constitucional do segundo xá Pahlavi numa república islâmica. Mas a antiga Pérsia é muito mais do que a revolução que mudou o mapa do Médio Oriente. É o berço de uma civilização com 2500 anos. E este é um guia para ajudar a compreender a história de um país que, territorial
e politicamente, sempre se assumiu como império e nação. Por Margarida Santos Lopes
ArianosOs primeiros iranianos eram persas que, há um milénio a.C., se instalaram num território entre as estepes da Ásia e o Crescente Fértil. A arqueologia identifica-os como um ramo de uma família indo-europeia de povos migrantes do que é hoje a Rússia. Eram conhecidos como arianos e deles deriva o nome Irão (termo que, aparentemente, significa "nobre"), ou "a terra dos arianos".
Baha'isPor volta de 1844 (1260 segundo o calendário islâmico), apareceu no Irão o movimento Babi, que se tornaria na mais visível força da oposição à dinastia qajar (ver Q). O ano era aguardado com entusiasmo porque assinalava o milésimo aniversário do desaparecimento do 12.º imã xiita. Havia fiéis que acreditavam na existência de uma porta (Bab) através da qual o Imã Escondido comunicaria com eles. Em Maio de 1844, Mirza Ali Mohammad, um crente de Shiraz, assumiu-se como Bab e começou a pregar uma doutrina que negava Maomé como último profeta e o Corão como revelação final. Preso várias vezes, foi executado em Tabriz, em 1850. Em Agosto de 1852, três babis tentaram matar o xá Naser al-Din (ver N), mas falharam. A partir daqui, os seguidores de Bab não mais deixaram de ser perseguidos e executados, acusados de apostasia e blasfémia. A nova fé era considerada uma ameaça às autoridades, seculares e religiosas. Nos anos 1860, apareceu Baha'ullah, que se assumiu como o profeta que o Bab previra. O movimento expandiu-se no exílio e passou a ser conhecido como baha'i.
CiroFundador da dinastia aqueménida, Ciro II, O Grande moldou o nacionalismo e a tradição política no Irão. Após a morte do pai, Cambises I, tornou-se rei de Anshan, na altura ainda parte do império dos medos, e depois rei da Pérsia. Invadiu a Lídia, a Fenícia e a Babilónia, criando um vasto império - talvez o maior na Antiguidade - da costa oriental do mar Egeu até às margens do rio Indo. Nunca humilhou os vencidos. Libertou os judeus do cativeiro, restituindo-lhes o ouro e a prata confiscados por Nabucodonosor, deixando-os regressar a Jerusalém, para reconstituírem o seu templo, em 538 a.C. Ao enveredar por esta via, arranjou aliados e não adversários. A excepção era a tribo dos massagetas, que permitia às mulheres terem vários maridos e parceiros sexuais. Numa batalha travada a cavalo, em 530 a.C., a rainha Tomiris, que não aceitava o domínio persa, matou Ciro - o homem que, dez séculos antes do islão, terá imposto o costume de cobrir as mulheres para "preservar a sua castidade". O corpo do rei foi depositado num sepulcro simples, em Pasárgadas, a capital do império, o que hoje levanta dúvidas sobre se os aqueménidas seguiam realmente o zoroastrismo (ver Z), a religião que considerava um sacrilégio "poluir a terra com cadáveres".
DarioA Ciro sucedeu o seu filho Cambises II, que não partilhava a tolerância do pai. Conquistou o reino faraónico egípcio numa campanha que durou três anos, tempo demasiado para uma Pérsia cansada de guerras. Em 522 a.C., ter-se-á suicidado quando tomou conhecimento de uma revolta no coração do império, liderada por um carismático sacerdote, Gaumata. Este foi assassinado por outro líder com o cognome de O Grande: Dario. Subiu ao trono aos 28 anos, reconstituiu o império ameaçado por insurreições e levou-o ao auge, dilatando as fronteiras até ao Turquestão e ao Indo, a leste; à Trácia e à Macedónia, a oeste. Ligado por uma "Estrada Real", era um império organizado em 20 províncias (satrapias), cada uma supervisionada por governadores (sátrapas). Dario, que haveria de inspirar os romanos, também instituiu um sistema de cobrança de impostos e ampliou o serviço postal dos assírios. Para se proteger, tinha uma rede de agentes secretos, conhecidos como "Os olhos e ouvidos do rei". As suas vitórias foram celebradas com a construção da grandiosa Persépolis ("cidade dos persas", nome dado pelos gregos).
ElamNo final do terceiro milénio a.C., quando os caçadores e recolectores do Neolítico se foram gradualmente transformando em sociedades organizadas, uma de entre elas se destacou: Elam. Situada a oeste do rio Tigre, entre o Golfo Pérsico, a Caldeia, a Assíria, a Média e a Pérsia. A sua capital era Susa. Misturando elementos da sua própria cultura com a dos sumérios do Crescente Fértil, Elam já atingira, em meados do século XI a.C., um extraordinário nível artístico. Por volta de 646 a.C., a Pérsia herdou-lhe o poder, a independência e o conhecimento.
FerdowsiPseudónimo de Abdul Qassim Mandur, nascido em 940 próximo de Mashdad, no Nordeste do Irão, Ferdowsi (ou Ferdusi) seria um latifundiário que aceitou escrever um poema épico, encomendado pelo sultão Mahmud de Ghazan, para poder pagar o dote da sua filha única. Demorou 35 anos a compor Shâh Nâmâ (Livro dos Reis), 60 mil linhas que narram mil anos de história, dos aqueménidas aos sassânidas. Ferdowsi foi pago em prata e não em ouro transportado em 30 cavalos, como combinado, porque o sultão ficou furioso por não ser o único protagonista. Para muitos iranianos, Shâh Nâmâ é, juntamente com Persépolis, um símbolo da sua identidade, celebração da grandeza mas também evocação das derrotas infligidas pelos invasores. O xiita Ferdowsi perdoou Alexandre, O Grande, mas não "esses árabes incivilizados [que] vieram forçar-me a ser muçulmano". O "maior poeta iraniano", que "recriou o persa - a mais bela das línguas", morreu em 1020. Está enterrado junto à fronteira com o Turquemenistão. No monumento erguido em sua memória foi inscrita a frase "Que este corpo não viva se não existir o Irão".
Gengis KhanA partir de 1219, chegaram ao Irão os mongóis de Gengis Khan. Eram entre 70 mil e 800 mil, vindos das estepes da Ásia Central. Seguidores do shamanismo (fé que incorporava superstições e sacrifícios a Tengri, deus dos céus), fizeram tudo para arrasar a cultura persa e a religião de Maomé. Em Bukhara, uma jóia do islão, Gengis Khan entrou a cavalo na principal mesquita da cidade e ordenou que as caixas de madeira que guardavam exemplares do Corão servissem de manjedouras aos equídeos das suas tropas. Por onde os mongóis passavam, as ruas enchiam-se de sangue. Em Nishapur, a grande cidade universitária de Khwarazam, decapitaram e desmembraram todos os habitantes. O horror repetiu-se, entre 1256 e 1258, com Hulagu, neto de Gengis Khan que matou o último califa abássida de Bagdad. Auto-intitulando-se il-khan (ilcã), transformou o Irão num ilcanato (província), apenas teoricamente dependente ao Grande Cã da China. Desde a chegada de Gengis Khan até à morte de Hulagu em 265, os mongóis mataram milhões de iranianos.
HezbollahCriado em 1982, durante a invasão israelita do Líbano, pelos Pasdaran ou Guardas da Revolução, o Hezbollah ou Partido de Deus, fez parte dos esforços do ayatollah Khomeini de exportar a sua revolução xiita para países árabes de maioria sunita. Ao contrário do Hamas e da Jihad Islâmica, grupos sunitas na Palestina, com os quais estabeleceu uma "parceria táctica", com o apoio da Síria, a aliança do Irão com os xiitas do Hezbollah, partido e milícia, é estratégica.
IsmailNo início século XVI, o Irão conheceu Ismail, carismático e messiânico rei safávida (ver S). Acompanhado dos seus qezelbash, membros de tribos turcomanas sunitas que se distinguiam pelos turbantes de cor escarlate, o belo Ismail de cabelo ruivo conquistou Tabriz, a antiga capital seljúcida no Noroeste. Tinha 14 anos quando se proclamou xá. Foi também por esta altura, em 1501, que declarou o xiismo duodecimano (12 imãs), a religião oficial dos territórios sob seu domínio. Nos dez anos seguintes, conquistaria o resto do Irão e o que hoje é o Azerbaijão, o Iraque e parte do Afeganistão. Derrotado pelos otomanos, em 1514, Ismail passou a vestir-se de negro, da cabeça aos pés, e refugiou-se na caça, no vinho e na música. Morreu em Maio de 1524, dois meses antes de completar 37 anos de idade.
JudeusO Irão é o segundo país do Médio Oriente, depois de Israel, com maior número de judeus. A relação amigável estabelecida por Ciro e continuada pelo xá sassânida Yezdegerd I, que casou com a filha de um chefe da comunidade judaica da Babilónia, foi abalada com a chegada do islão, no século VII. Agravou-se com a criação de Israel, em 1948. Até este ano, havia pelo menos 100 mil judeus iranianos. Em 1979, com o fim da monarquia, ficaram uns 80 mil e, hoje, o seu número varia entre 35 mil e 25 mil - muitos emigraram para os EUA, onde ainda falam farsi e celebram o Noruz, Novo Ano persa. Seguindo a ordem islâmica de "proteger os Povos do Livro", a Constituição da nova república de Khomeini atribuiu aos judeus um lugar fixo no Parlamento. Algumas cláusulas da sharia (lei islâmica) foram alteradas para conceder igualdade a muçulmanos e não-muçulmanos. A revolução alimentou um virulento anti-sionismo, mais do que anti-semitismo, a que não será alheia a aliança que Israel estabeleceu com o último xá Pahlavi, cuja temível polícia secreta, a Savak, era treinada pela Mossad.
KhomeiniRuhollah ("alma do Senhor") Musawi Khomeini, o ayatollah que fez cair o último imperador Pahlavi do Trono do Pavão em 1979, deve o seu nome a Khomein, o lugar onde nasceu em 1902, próximo de Isfahan. Em 1919, quando decide ser mullah, vai estudar teologia islâmica para Arak e, a partir de 1922, para Qom, cidade-santuário xiita. Começou por ensinar filosofia mística, mas nos anos 1950 já leccionava direito religioso aos principais opositores do xá. Em Junho de 1963, depois de uma revolta brutalmente esmagada pela polícia, Khomeini foi preso. Em 1964, foi expulso para a Turquia, depois de se insurgir contra os privilégios extraterritoriais concedidos aos militares americanos no Irão. Em 1965, voltou a ser expulso, para o Iraque. Em 1978, fugiu para Neauphle-le-Château, em França, de onde preparou a revolução islâmica, fazendo chegar às mesquitas iranianas cassetes áudio com os seus sermões. No ano seguinte, em 1 de Fevereiro, regressou triunfal a Teerão para ser o Guia Supremo de um regime tão ou mais opressivo que o de Mohammad Reza. Foi ele que cunhou a expressão "Grande Satã", para qualificar os EUA. Morreu doente, em 3 de Junho de 1989, depois de aceitar o "cálice de veneno" do cessar-fogo em oito anos de guerra com o Iraque.
LursOs lurs são um dos grupos étnicos do Irão - país de 71 milhões de habitantes, a maioria persas -, juntamente com os curdos, os bakhtiaris, os baluchis e os turcomanos. Muçulmanos xiitas que preservam rituais do zoroastrismo, exprimem-se em lori, língua com dois dialectos. Habitam o Luristão, o Khuzestão. Hamadan, Isfahan e outras províncias. Só em meados dos anos 1980, após a revolução islâmica, é que a maioria dos lurs se instalou em aldeias e vilas, ou migrou para as cidades. Seja como for, os nómadas não desapareceram e, entre eles, as mulheres têm mais liberdade do que no resto do país.
MossadeghEm 1979, quando a Embaixada dos Estados Unidos em Teerão foi ocupada por estudantes que mantiveram reféns os seus funcionários durante 444 dias, os americanos interrogaram-se por que os odiavam os iranianos. A resposta está num golpe orquestrado pela CIA, em 1953, que derrubou o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh, um democrata que ousou nacionalizar a Anglo-Iranian Oil Company (AIOC). Ao fazê-lo, provocou a fúria de Churchill que, por sua vez, convenceu Roosevelt a depor o aristocrata qajar, invocando o perigo de o Irão cair nas mãos dos comunistas do partido Tudeh e da URSS. A Operação Ajax, que devolveu a coroa ao impopular xá Mohammad Reza Pahlavi, constituiu a primeira vez que os EUA derrubaram um governo estrangeiro. Com o fundador da Frente Nacional fora de cena - morreu a 5 de Março de 1967 aos 85 anos, sem direito a funeral -, estava aberto o caminho para Khomeini mudar o Médio Oriente.
Nasser al-DinFoi durante o longo reinado (1848-1896) do xá qajar Nasser al-Din que a Europa, que tanto o fascinava, entrou no Irão. Fascinado pelas viagens a Londres ou a Paris, de onde trazia relógios e máquinas fotográficas, inaugurou a política de concessões mineiras, agrícolas, rodoviárias e bancárias a companhias europeias, na ambição de desenvolver o país. Em 1872, em troca de uma soma insignificante, o barão Julius de Reuter (fundador da agência Reuters) "adquiriu o direito exclusivo de gerir as indústrias do país, de irrigar as suas terras de cultivo, explorar os seus recursos minerais, desenvolver as linhas ferroviárias e dos eléctricos, fundar um banco nacional e imprimir papel-moeda". Em 1891, quando concedeu ao britânico Talbot o monopólio da produção de tabaco, foi obrigado a retroceder depois de uma revolta a que aderiram líderes religiosos, intelectuais, agricultores, comerciantes do bazar e o seu próprio harém. Endividado e dependente de russos e ingleses, Nasser al-Din foi assassinado num mausoléu, a sul de Teerão, quando se preparava para celebrar o seu jubileu. O seu filho, Mozaffar al-Din Shah, sucumbiu às pressões dos que exigiam reformas, e autorizou a primeira Constituição parlamentar, em 1906.
OmíadasDe 643 a 650, o Irão sassânida foi conquistado pelos exércitos muçulmanos da dinastia omíada, que tinha capital em Damasco. O árabe tornou-se língua franca e o islão substituiu o zoroastrismo. Em 750, os Omíadas foram derrubados pelos abássidas e o califa Al-Ma'mun, cuja mãe era iraniana, transferiu a capital para Merv, na Pérsia Oriental. Em 819, chegaram os samânidas, de origem iraniana, que estabeleceram Samarcanda, Bucara e Herat como suas capitais, fazendo renascer a língua e a cultura persas. Em 913, mais uma convulsão: o Irão ocidental ficou sob controlo dos buáidas, confederação tribal persa das margens do mar Cáspio, que fez de Shiraz a sua capital. Depois deles vieram os turcos seljúcidas, em 1037, e, no início do século VIII, os turcos da Corásmia, cujo império foi destruído por Gengis Khan e Tamerlão.
Pahlavi
Em 1921, com o estratégico Irão cobiçado por otomanos, bolcheviques e britânicos, e a sobrevivência do país ameaçada por conflitos internos, um oficial desconhecido chamado Reza Khan emergiu do caos como um salvador. Chegou a Teerão, mandou prender todos os membros do Governo e obrigou o sultão Ahmed Shah a nomeá-lo comandante das forças armadas. Em 31 de Outubro de 1925, depois de quatro anos a esmagar rebeliões (com o apoio das mesmas forças estrangeiras que quase destruíram a nação), o Parlamento apressou-se a proclamá-lo xá - os mullahs temiam que ele instaurasse uma república semelhante à Turquia secular de Ataturk. Reza escolheu para a sua dinastia o nome "Pahlavi", a língua persa que os iranianos falavam antes da chegada dos árabes. Empenhado em seguir um modelo de modernização segundo os padrões ocidentais de educação e tecnologia, impôs um regime despótico que violava os principais valores persas e islâmicos - as instituições xiitas eram vistas como o maior obstáculo aos seus desígnios. Em 1935, Reza mudou o nome do país de Pérsia para Irão, mas, em 1941, depois de uma aliança falhada com a Alemanha de Hitler, foi obrigado a abdicar do Trono do Pavão. Sucedeu-lhe o filho Mohammad Reza, que haveria de cometer os mesmos erros de política interna e externa. A dinastia Pahlavi acabou em 1979.
QajarProvenientes de Mazanderan, os qajar, uma das tribos qezelbash inicialmente aliadas do xá Ismail, reapareceram no século XVIII para reclamar o trono iraniano, depois da desintegração do Império Safávida. Eram liderados por Agha Muhammad Khan, que travou uma guerra sádica de vingança pela perda da sua masculinidade. Em 1795, após a rendição do último zand - a tribo que o castrou aos sete ou oito anos de idade, Agha Muhammad Khan declarou-se xá, e mudou a capital de Fars para Teerão. Dois anos depois, numa campanha militar no actual Nagorno-Karabach, foi esfaqueado até à morte por dois criados, que mandara executar mas se esqueceu de mandar prender. Sucedeu-lhe o sobrinho Fath Ali, em Março de 1798. Com ele os turcos qajar tornaram-se persas, permitindo que os teólogos xiitas desenvolvessem uma hierarquia religiosa como nunca antes existira. Os qajar criaram também uma nova aristocracia, através de uma rede de alianças familiares reforçadas por títulos de nobreza. Fath Ali teve uns 260 filhos de 158 mulheres durante 37 anos de reinado. Morreu em 1834. Em 1925, com o país dilacerado, a dinastia qajar foi derrubada por Reza Pahlavi.
RumiJalal al-Din Molavi Rumi (que os iranianos chamam Mawlana) é um dos maiores poetas do Irão e "o mais popular poeta na América". Fundador da Ordem dos Derviches Rodopiantes, nasceu em Balkh, em 1207, mas passou a maior parte da vida em Konya, na Anatólia. Teólogo da escola hanafita, virou-se para o sufismo, em 1244, sob influência de outro poeta místico, Shams-e Tabrizi. Até à sua morte, em 1273, escreveu " 65 mil linhas de poesia" - declarações de amor a Deus e a Shams. As obras de Rumi influenciaram a moderna literatura persa, mas também a urdu, a bengali, a árabe e a turca.
SafávidasIrmandade do Noroeste do Irão e do Leste da Anatólia, composta por cavaleiros turcos, com base em Ardebil, os safávidas devem o seu nome a um dos seus primeiros líderes, Xeque Safi (1252-1334). Era sunita e sufi, possivelmente de origem curda, e defendia uma nova ordem religiosa islâmica. Do pouco que se sabe dos primórdios desta dinastia, parece certo que Sadr al-Din (1334-1391), sucessor de Safi, foi quem organizou e hierarquizou o movimento através de uma série de alianças tribais. Além de Ismail (ver I), que fez do xiismo duodecimano a religião oficial do Irão, um dos mais proeminentes reis safávidas foi Abbas, O Grande. O xá Abbas I ficou na história pelas suas conquistas militares, reformas institucionais e espectaculares monumentos arquitectónicos. Estabeleceu laços comerciais com a Europa e transformou Isfahan numa magnífica cidade. Um dos seus maiores êxitos foi ter conseguido sobreviver para ver os frutos de 41 anos de governação. Após a sua morte, em 1629, a dinastia safávida decaiu e foi gradualmente dominada por afegãos, russos e turcos até que, em 1729, um chefe militar persa, Nadir-Xá, expulsou os invasores.
TamerlãoNo século XVI, Tamerlão (ou Timur, O Coxo) - de origem mongol, religião muçulmana e língua turca - quase fez desaparecer o Irão do mapa. Em 1395 saiu das margens do rio Oxus, no comando das suas tropas, e durante cinco anos assolou a Pérsia, a Síria e a Ásia Menor. Em Isfahan, mandou erguer uma torre com 70 mil crânios - terá sido mais sanguinário que Gengis Khan. No entanto, foi Tamerlão e os que lhe seguiram, na dinastia timurida, que permitiram um dos períodos mais áureos da civilização iraniana, com uma avalanche de brilhantes poetas, líricos e épicos, como Omar Khayyam (que também era matemático e filósofo), Sa'adi, Iraqi, Hafez e Rumi (ver R).
UmmaNo século VII, alarmados com as vitórias dos árabes contra os bizantinos, os sassânidas mobilizaram 80 mil homens com armas, cavalos e elefantes, para enfrentar dez mil guerreiros montados em camelos e munidos de sabres e escudos. Na pequena povoação de Qadisiya, na margem ocidental do rio Eufrates, ambas as partes negociaram durante quatro meses até que, num dia de Junho de 637, o comandante sassânida Rustan deu início às hostilidades. Ao quarto dia de combates, Rustan morreu e o seu exército bateu em retirada. Em 638, o palácio fortificado de Ctesifonte, símbolo da arte e do conhecimento sassânidas, caiu em poder dos árabes. Objectos de outro, esmeraldas e rubis foram pilhados. O famoso tapete "Primavera de Khosrow" foi levado para Meca onde líderes religiosos o cortaram em pedaços. Todas as bibliotecas reais foram destruídas. Com o islão, os iranianos foram chamados a comprometer-se com a Ummah, comunidade dos crentes, cuja única fronteira era a fé. Adoptaram o islão, é certo, mas não seguiram a ortodoxia sunita. Quando Maomé morreu, escolheram como sucessor o seu genro, Ali, e não o sogro, Abu Bakr. Tornaram-se xiitas, ou "partidários de Ali". Viram nele "o mais perfeito modelo da nobre virtude da justiça", que sempre fez parte da tradição cultural persa.
Velayat-e FaqihEntre 21 de Janeiro e 8 de Fevereiro de 1970, exilado desde 1964 em Najaf (Iraque), o ayatollah Khomeini fez 19 palestras onde definiu o mais revolucionário documento teológico do xiismo: Velayat-e Faqih, ou o Governo do Jurista. Para acabar com que considerava a "invasão política, económica e cultural" do Irão pelo Ocidente", Khomeini defendeu "um regime islâmico para substituir um monarca injusto". Com este conceito (e ideologia política), quebrou uma tradição sagrada xiita: que todo o governo na ausência do 12.º imã é profano. A regra de Khomeini passou a ser: até aparecer o 12.º imã serão os mais justos e os mais sábios entre os mujtahids (teólogos) que exercerão o poder religioso e temporal. Com isto, o pregador de Qom acabou por condenar toda a história monárquica iraniana, negando legitimidade à ideia de um rei persa.
XerxesQuando Dario morreu, em 486 a.C., subiu ao trono o seu filho Xerxes. Tal como o pai, pôs ao serviço da Pérsia o que de melhor havia na Assíria, no Egipto e na Grécia, fossem médicos ou jogadores de xadrez. No entanto, se admiravam e assimilavam as ideias dos outros, os persas não as copiavam. Estudavam-nas e adaptavam-nas aos seus costumes sociais e religiosos. No reinado de Xerxes, a vida artística coabitava com a vida militar. Em 480 a.C., deixou Susa, a capital, comandando "a maior máquina militar jamais vista na Ásia", para confrontar os gregos. Derrotou e massacrou os espartanos do rei Leónidas na batalha de Termópilas. Avançou até à Ática, queimando aldeias e vilas à sua passagem. Quando chegou a Atenas, as suas tropas tomaram de assalto a Acrópole e incendiaram o quase concluído Parténon. Xerxes perderia, contudo, a batalha de Salamina, quando a sua frota naval foi destroçada por Temistóteles. Em 479 a.C., perdeu guerra em Plateias, antiga cidade grega da Beócia. De regresso à Pérsia, começou o declínio do império aqueménida. Em 465 a.C., Xerxes foi assassinado, vítima de intrigas palacianas. Dario III Codomano foi o último rei desta dinastia. Vencido pelo rei macedónio Alexandre, foi morto por um dos seus sátrapas, com a ajuda de dez mil mercenários gregos. Alexandre ordenou que Persépolis fosse queimada. Foi um de muitos conquistadores que haveriam de destruir o território - mas não a identidade - dos persas. Após a morte de Alexandre, a Pérsia foi entregue a um dos seus generais, Seleuco I (355-280 a.C.), que fundou a dinastia selêucida. Os persas permaneceram indiferentes à cultura helenística, talvez por serem opostos. Politicamente, os gregos tinham cidades-estados, os persas monarquia absoluta; artisticamente, os gregos adoravam a representação, os persas a decoração; geograficamente, os gregos pertenciam ao Ocidente, os persas ao Oriente. Quando os selêucidas, com capital em Antioquia, perderam a Síria para os romanos de Pompeu, chegaram os partos (163-224 a.C.) e depois os sassânidas (226-642 a.C.).
YezdegerdXá sassânida, que governou a partir de 399, Yezdegerd I conseguiu manter a paz com os romanos de tal modo que o imperador Arcadius lhe pediu que fosse guardião do filho Theodosius. Foi também no reinado do tolerante Yezdegerd I que emergiu um singular cristianismo persa: a Igreja Nestoriana. Esta realizou o seu primeiro sínodo em 410, aproximando-se mais do zoroastrismo do que da cristandade ocidental, ao proibir o celibato dos padres. Isso não impediu que o clero zoroastra chamasse "pecador" ao rei, que morreu assassinado. O facto de os imediatos sucessores terem adoptado o seu nome sugere, todavia, que a sua memória continuava a ser respeitada na corte. Yezdegerd III foi último rei sassânida, derrotado pelos exércitos do califado árabe.
ZoroastroSem provas arqueológicas ou epigráficas da existência de Zaratrusta ou Zoroastro (versão grega), os especialistas em ciência das religiões aconselham a vê-lo mais como "personagem religiosamente reconhecida" do que como "pessoa histórica conhecida". Inexistente ou não, a Zoroastro é atribuída a fundação do masdeísmo ou zoroastrismo, religião oficialmente adoptada pelos reis aqueménidas. As datas apontadas para o nascimento de Zoroastro variam do século XII ao VI a.C., com origem geográfica na área do Azerbaijão que hoje faz parte do Irão. Teria sido assassinado aos 77 anos, quando rezava num templo de fogo. A única certeza é que os antigos persas, à medida que deixavam de ser nómadas, reconhecendo a importante ligação entre a vida sedentária e a água, bem escasso, procuraram uma ética de equidade e encontraram-na no zoroastrismo. A Zoroastro é atribuída uma doutrina simples: há duas forças em competição no mundo, o Criador (Ahura Mazda) e o Destruidor (Arimã). Ficou assim definido um dualismo cósmico: luz e trevas; bem e mal. Com Zoroastro, há um deus único, justo e imortal. A sua religião é espiritual e política.
Bibliografia Os Homens do Xá, de Stephen Kinzer; The Iranians, de Sandra Mackey, Iran: Empire of the Mind, de Michael Axworthy; Lifting the Veil, de John Simpson; Des Palais du Chah aux Prisons de la Révolution, de Ehsan Naraghi; After Khomeini, de Anoushiravan Ehteshami; Khomeini, de Heinz Nussbaumer; De la Perse à l'Iran (Les Collections de l'Histoire, nº 42, Janeiro 2009).