É já no dia 26 de Fevereiro que Álvaro Siza Vieira vai receber a Royal Gold Medal for Architecture 2009, atribuída pelo Royal Institute of British Architects (Riba), em nome da rainha de Inglaterra. Este prémio de carreira existe desde 1848 e já foi atribuído a alguns dos maiores arquitectos dos séculos XIX e XX - Frank Loyd Wright recebeu-o em 1941, Le Corbusier em 1953, Alvar Aalto em 1957, Niemeyer em 1998. Já no século XXI, o prémio distinguiu Frank Gehry (2000), Jean Nouvel (2001), Rafael Moneo (2003), Rem Koolhaas (2004) e Herzog & de Meuron (2007).
A escolha de Siza, 75 anos, foi o pretexto para Jonathan Glacey do "The Guardian" ir ao Porto conversar com o primeiro arquitecto português a receber a distinção. "É uma grande honra, claro", diz-lhe Siza. "A minha cidade, o Porto, tem muitos edifícios com influências britânicas." Glacey pergunta-lhe se acha estranho receber este prémio apesar de nunca ter construído no Reino Unido (se exceptuarmos uma colaboração, em 2005, com Eduardo Souto de Moura e Cecil Balmond num pavilhão para a Serpentine Gallery em Londres). Talvez seja estranho, admite Siza, mas acrescenta: "Penso que um arquitecto deve fazer o seu melhor trabalho onde a sua estrela o levar."
Glancey não tem dúvidas: "Siza é, simplesmente, um dos melhores arquitectos do mundo", escreve. E, explica, que "desde o momento em que começou a construir, no início dos anos 50, [...] procurou enquadrar vistas, revelar paisagens, cidades, e os caminhos através delas." O seu objectivo foi sempre o de "fazer de cada criação o lugar de uma subtil revelação".
A arquitectura, explica-lhe Siza, por seu lado, "não deve nunca ser uma transformação arrogante da paisagem ou do espaço". E acrescenta: "O meu desejo é desde há muito tempo o de que os edifícios que construo tenham, de certa forma, estado sempre naquele lugar. Quero que sejam necessários, nunca forçados."
Siza diz a Glancey: "Há demasiados edifícios hoje. A arquitectura tornou-se um negócio. Há cada vez mais pessoas que vivem de dizer aos arquitectos o que podem e o que não podem fazer." E, depois deste desabafo, confessa: "A minha última experiência de verdadeiro prazer foi no Brasil - fui muito feliz a construir o museu Iberê Camargo."