Se é verdade que David Fincher nunca mais atingiu, depois de "Se7en", semelhantes profundidades, "O Estranho Caso de Benjamin Button" consegue articular uma complexa estrutura em mosaico com a tradição do grande "romance", tanto no sentido melodramático, como no da criação de atmosferas que fogem ao romanesco tradicional.
Como sempre, o realizador domina os processos de montagem como poucos e analisa, por dentro da trama, os próprios mecanismos de construção: manipula e quer manipular, na medida em que o espectador serve de cobaia para a sua autoreflexão sobre as hipóteses de o cinema moderno virar do avesso Scott Fitzgerald, o "filme de mulheres", a desvergonha sentimental hollywoodiana. Tudo sem grande risco, mas com a perfeita noção de que a reinvenção distanciada é possível (e desejável).Pena insistir numa extensão desmedida: o filme só teria a ganhar (ainda mais) com maior síntese e economia narrativa.