Morreu Stela Piteira Santos, a voz feminina da rádio Argélia
Era uma das principais figuras da oposição ao regime de Salazar. Depois de ajudar o marido a fugir pelo telhado, foi presa pela PIDE
a Maria Stela Bicker Correia Ribeiro Piteira Santos morreu ontem em Lisboa, aos 91 anos de idade. Viúva de Fernando Piteira Santos, tendo sido primeiro casada com António Fiadeiro, Stela não fica na história apenas através dos seus maridos, mas sim pelo percurso próprio que traçou e percorreu como antifascista. Desde os anos 30 que Stela Bicker, então Fiadeiro, priva com os intelectuais do neo-realismo português e com os meios antifascistas e comunistas portugueses.
Amigo íntimo foi, por exemplo, Álvaro Cunhal, que era padrinho do filho mais velho de Stela, António Fiadeiro. Já a filha, Maria Antónia Fiadeiro, era afilhada de Piteira Santos, que viria a ser o seu padrasto.
Casando com Piteira Santos em 1948, é presa em 1962 na sequência do golpe de Beja. Fernando Piteira Santos, que participara no golpe, consegue fugir do país para o Norte de África, de barco.
Piteira Santos não foi preso pela PIDE, porque Stela iludiu a PIDE e ajudou o marido a fugir pelo telhado. Mais tarde acaba ela por ser detida. Depois de libertada, sai de Portugal de carro com Lyon de Castro e junta-se, em Paris, ao marido.
Em França, é fundada a Frente Patriótica de Libertação Nacional, após o que o casal se exila na Argélia, onde dirige aquela organização. Stela foi então a primeira voz feminina da Rádio Argel.
Stela Piteira Santos morreu na madrugada de ontem em Lisboa, depois de um mês de internamento nos cuidados intensivos.
O corpo está em câmara-ardente no Palácio Galveias, em Lisboa. Ontem, ao fim da tarde, não era conhecida ainda a hora do funeral nem o local.