Realizador em tribunal para parar filme sobre António Variações

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Na sexta-feira dá entrada num tribunal cível comum uma providência cautelar que visa parar o projecto do filme "Variações", baseado na vida do cantor António Variações. A providência cautelar, destinada a salvaguardar os direitos de autor do argumentista e realizador João Maia, surge na sequência do seu afastamento pela produtora Utopia Filmes, de Alexandre Valente.

A providência cautelar é o primeiro acto de um processo judicial que João Maia accionará contra a Utopia Filmes, com quem tinha um contrato de escrita, realização e com controlo sobre a escolha de elenco e equipa técnica de Variações. "O primeiro objectivo é assegurar os meus direitos de autor. O outro é perceber para onde vai o cinema português", diz João Maia. Contactado pelo PÚBLICO, Alexandre Valente não quis comentar o caso e a alegada rescisão unilateral do contrato com João Maia.

João Maia, autor da curta "O Prego" (1996) e realizador do "Programa da Maria" (SIC), recebeu em 2004, com Catarina Portas, um subsídio de apoio à escrita do Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia para um guião sobre António Variações. Em 2006, assinava com a Utopia como autor de Variações. No início de 2008, o guião integrou a candidatura de seis projectos da produtora ao Fundo de Investimento para o Cinema e Audiovisual (FICA), privado, e recebeu 550 mil euros.

O filme, cuja rodagem deveria ter começado dia 12 e que já tinha equipa técnica, parte do elenco e músicos escolhidos por Maia, estará neste momento nas mãos do script-doctor (perito que optimiza guiões) australiano Evan Maloney. "Se estão a reescrever, é a partir do meu guião", registado na Inspecção-Geral das Actividades Culturais, reitera João Maia. "Ou me estão a copiar ou é um roubo", diz, referindo que o produtor lhe dissera estar "satisfeitíssimo" com o argumento. No entanto, segundo a família do cantor, a produtora estará a trabalhar num "novo guião". "Vou fazer o filme"

Maloney chegou ao processo em Novembro e João Maia cedeu-lhe uma cópia do guião para melhoramentos (há dois anos, o filme passou pelas Produções Fictícias com a mesma finalidade, mas sem resultados práticos). João Maia diz ter sentido que Maloney estaria a tentar "apropriar-se" do guião e, em Dezembro, foi-lhe apresentado pela Utopia Filmes um novo contrato em que se previa a possibilidade do seu despedimento sem justa causa e a perda do controlo das equipas escolhidas. Não o assinou e desde então diz não ter obtido resposta às suas contrapropostas. Os actores escolhidos por João Maia já não estão ligados a Variações.

Fazer este filme "é quase um dever cívico", dizia Alexandre Valente ao PÚBLICO em Setembro. O argumentista e realizador garante: "Vou fazer o filme. Sinto-me como um maratonista que passou quatro anos a treinar e que, na linha de partida, sabe que foi substituído. Mas o meu entusiasmo não diminuiu". A Utopia Filmes produziu O Crime do Padre Amaro e Corrupção (2007), cuja versão do produtor se estreou sem o realizador João Botelho, que se afastou após divergências com Alexandre Valente.

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