Os hotéis-design de Paulo Catrica
Uma série de oito fotografias exposta no Silo do NorteShopping, em Matosinhos, mostra os hotéis de hoje vistos pela objectiva de Paulo Catrica, em Londres. São "não-lugares" que perderam o romantismo de outros tempos e onde a arquitectura foi engolida pelo design. Aqui, o fotógrafo português comenta as suas imagens
Hotéis urbanos
Esta série de fotografias trata hotéis urbanos de Londres, escolhidos pela singularidade do design ou pelo seu conceito inovador. O átrio do Andaz não deixa perceber que foi construído a partir do Great Eastern Hotel (1884), situado na estação de Liverpool Street no coração da City. Está decorado com obras de artistas contemporâneos e um dos poucos espaços que sobreviveram da traça original é um templo maçónico, que hoje pode ser alugado para eventos.
Restaurante
no Andaz
Estas são fotografias de objectos ou de parte de objectos. São como que um contraponto a ideias usuais no meu trabalho. Tais como a apropriação/utilização/vivência da paisagem ou do espaço arquitectónico. Nestas fotografias, aparentemente tudo está no seu sítio e não existe nenhuma possibilidade de, enquanto observadores, sermos perturbados por um elemento estranho a não ser a superfície, a forma e a cor destes sítios, a sua imagem.
Os hotéis são lugares estranhos, em mutação permanente. Alguns já não são sequer lugares; são antes não-lugares, como o novo Yotel, no aeroporto de Gatwick, nos arredores de Londres, que tem cabines em vez de quartos...
Vai longe o tempo dos hotéis décors românticos, territórios de sonhos. Nos nossos dias, a arquitectura deu lugar ao design, e ambos se sobrepõem na criação de um novo arquétipo para esses lugares que agora nos surgem - como podemos ver, por exemplo, nas revistas e folhetos de turismo - "como pura superficialidade" espelhada, brilhante, lacada...
São estes hotéis que Paulo Catrica (n. Lisboa, 1965) fotografou para uma exposição que integrou, no ano passado, o programa Allgarve, e que agora está no Silo - Espaço Cultural do NorteShopping, em Matosinhos.
Radicado em Londres há vários anos, o fotógrafo procurou na capital britânica os hotéis para encenar-retratar este novo paradigma de ReHospitalidade: H 08 - é este o título da sua exposição constituída por uma série de fotografias (aqui comentadas pelo próprio autor), e que é acompanhada com a edição de um livro-catálogo com textos de Luís Tavares Pereira, comissário da exposição, João Fernandes, director do Museu de Serralves, e do crítico Ricardo Nicolau. S.C.A.
Na penthouse
Entre objectos de design usados e muitas vezes únicos, a janela da penthouse (quarto 503) do Zetter está virada a sul e para o Barbican Centre. A imagem da cidade é filtrada por uma cortina translúcida, como um ecrã. A janela é sempre um espaço cinematográfico. Os móveis podiam ter sido comprados no Porto, na Pedras & Pêssegos.
Quarto 210
Um dos executive rooms do Hotel Andaz tem três televisões (uma que aqui se vê, e mais duas fora de campo). Estes hotéis estão ligados ao mundo pela tecnologia. Nada nos garante um tempo diferente daquele que marca os dias de hoje, a televisão, a web e a ideia de que o mundo está sempre presente e que não há tempo a perder. É a antítese do hotel romântico, onde todo o tempo era para perder, ou melhor, para desfrutar.
Yotel, aeroporto
de Gatwick
O Yotel tem cabines em vez de quartos, equipadas com Internet e televisão (à la carte)... É um hotel para descansar, dormir umas horas entre lugares. É um genuíno não-lugar seguindo a definição de Marc Auge: sem tempo, sem luz natural; não é de dia nem de noite, é sempre o mesmo tempo, um tempo em trânsito.
O Zetter
O Zetter tem sete tipos de quartos diferentes. É um dos hotéis mais originais de Londres e ocupa um antigo edifício industrial na Praça de St. John, em Clerkenwell. Está decorado com arte Wallpaper, mobiliário clássico e de design. Em todos os quarto, há livros usados e uma garrafa de água mineral, extraída de um furo nas caves do edifício.
A clarabóia
Ilumina em tons de vermelho um pequeno átrio. As fotografias de arquitectura quase sempre disciplinam os assuntos, fazendo-os parecer mais interessantes do que, de facto, são. Por isso elas são, para os arquitectos, a melhor forma de ver a coisa. Como refere Beatriz Colomina, na arquitectura, enquanto sistema de representação, o edifício é a fotografia.