Ponto prévio: há qualquer coisa de simpático, até de quixotesco (passe o trocadilho), em fazer um filme dos "ersatz" de romance negro que o falecido Dinis Machado escreveu alimentarmente nos idos de 1966, como é o caso desta adaptação livre de "Requiem para D. Quixote" pelo igualmente já falecido Pedro Bandeira Freire e retrabalhada, segundo o genérico, por Álvaro Romão e Nicolau Breyner, a fazer a sua estreia na realização. Só que não há simpatia, nem pela empreitada nem por Breyner (actor de quem gostamos muito e cuja breve participação é a segunda melhor coisa do filme), que safe "Contrato" do falhanço total e absoluto. Que começa por erros de palmatória na construção da narrativa, sugerindo o trabalho de amigos que estão a inventar a narrativa e a tapar os buracos que vão aparecendo à medida que a contam, e que introduz personagens e situações apenas porque sim, enchendo chouriços durante hora e meia para resolver tudo em dez minutos de modo apressado, até desleal para com o espectador (resolvendo o mistério com uma personagem que quase não aparece durante o filme). Que prossegue numa encenação anónima e impessoal, onde se sente o desejo de fazer cinema mas não a personalidade que faça de "Contrato" algo mais do que um ensaio tecnicamente correcto. E que termina num "miscasting" de bradar aos céus, que nos quer fazer crer que Pedro Lima é credível em assassino contratado luso-americano ex-Marine (não é; falta-lhe espessura, gravidade; Vítor Norte, que é a melhor coisa do filme, teria sido tão mais apropriado) ou Sofia Aparício é credível em "femme fatale" de trazer por casa (não é; mas a personagem está tão mal escrita que dificilmente outra actriz conseguiria fazer alguma coisa com ela). O problema essencial está na palavra que usámos a abrir: "ersatz".
O que nos livros era jogo lúdico com os códigos do género, piscadela de olho descontraída de conhecedor, no filme quer ser "the real thing", policial sério à americana, só que sem a tarimba nem a experiência dos originais - e isso apenas reforça que "Contrato" é um esforço amador de gente a brincar ao policial sem mãos para tocar esta guitarra. E, sinceramente, temos pena.