Noite Branca: Arguidos continuam a negar plano para matar "Gaiato"

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O julgamento prossegue dia 12 de Janeiro, pelas 14h00, na sala da 2.ª vara do Tribunal de São João Novo Fernando Veludo/PUBLICO (arquivo)

O arguido José S., segurança conhecido por "Timóteo", relatou no Tribunal de São João Novo, no Porto, nunca antes ter entrado naquela discoteca e que apenas acompanhou Hugo R., Vasco C. (arguidos) e Berto "Maluco" (segurança assassinado em Dezembro de 2007) naquela noite por ser "habitual" sair com o arguido Hugo.

"Ele (Alberto Ferreira, conhecido por Berto "Maluco") não dizia nada se tivesse que ir dar um aperto a alguém", contou o arguido, frisando que "o Berto era maquiavélico" e "calculava as coisas".

Tal como o arguido Hugo R., que prestou declarações na sessão de quarta-feira, também José C. desconhecia que "Gaiato" trabalhava como segurança na "El Sonero".

Na acusação, a equipa especial liderada pela procuradora Helena Fazenda acusou Hugo R. (em prisão domiciliária), Vasco C. e José S. pelo assassinato de Nuno "Gaiato" a 13 de Julho de 2007 e que o homicídio teve ainda como responsável Alberto Ferreira ("Berto Maluco"), um segurança que acabou abatido a rajadas de metralhadora, junto à sua residência em Santo Ovídio, Gaia, em 10 de Dezembro de 2007.

O despacho de acusação refere que foi "Berto" quem tomou a iniciativa de convocar Hugo, Vasco e "Timóteo" - todos seguranças - para irem à discoteca "El Sonero" com o objectivo de matar "Gaiato".

Enquanto reconstituía os factos da noite de 12 para 13 de Julho de 2007, José S. referiu ter ficado no exterior da discoteca, juntamente com Vasco C., e que Berto e Hugo C. entraram na frente.

Só quando ouviu "o barulho de tiros" é que os dois arguidos decidiram entrar na discoteca, onde "as pessoas continuavam a dançar", sustentou.

Seguindo o arguido Vasco C., pela pista de dança, José S. viu "uma porta" e preparava-se para descer as escadas que se seguiam, mas Hugo R. já "estava a subir", ajudado por Berto e Vasco.

"Só no carro é que vi que (Hugo) estava ferido", explicou, acrescentando que durante o percurso até ao hospital contactou Aurélio Palha (empresário da discoteca "Chic" que foi assassinado em Agosto de 2007), para perguntar "o que havia de fazer", já que "o Aurélio tinha pessoas influentes em todo o lado".

Chegados ao hospital, "o Berto pôs-se logo a andar", o Aurélio "foi lá ter" mais tarde e foi o próprio Aurélio a contar ao arguido que "o 'Gaiato' tinha morrido".

O arguido contou ainda que, durante o trajecto, Berto "Maluco" terá dito que tinha "estragado a vida" e que nunca explicou o que se tinha passado na discoteca.

Dias mais tarde, José C. acompanhou Berto, Aurélio e Hugo ao "advogado para falar da situação da legítima defesa".

No depoimento de quarta-feira, Hugo R. contou ter sido convencido por Berto e Aurélio a admitir a autoria do disparo contra "Gaiato".

"Queriam que eu assumisse que tinha dado um disparo, porque, como eu tinha levado um tiro, seria considerado legítima defesa", sublinhou então Hugo R., que, por esse motivo, acabou por contar essa versão dos factos a um primeiro advogado.

Durante a sessão foi também ouvido o arguido Vasco C., para quem "quase tudo na acusação não corresponde à verdade".

O homicídio do segurança Nuno Gaiato é considerado o primeiro de vários ajustes de contas que marcaram a noite do Porto naquele ano.

Trata-se também do primeiro processo com acusação deduzida pela equipa especial que a Procuradoria-Geral da República constituiu, em 12 de Dezembro de 2007, para averiguar os incidentes associados à noite do Porto.

O homicídio terá sido cometido em alegada retaliação por uma suposta agressão de "Gaiato" a pessoa das relações de "Berto", sem o exigido pedido de desculpas.

O julgamento prossegue dia 12 de Janeiro, pelas 14h00, na sala da 2.ª vara do Tribunal de São João Novo.