Mais uma crise, novos problemas
Em 1984 e 2003, a crise deveu-se à procura interna. Em 1993 e 2009, à conjuntura internacional. Mas agora, não podemos desvalorizar a moeda para ficarmos mais competitivos
a Estávamos habituados a ter uma grande crise económica por década, com uma regularidade surpreendente. Depois de 1974, em que se juntaram os efeitos da instabilidade política ao choque petrolífero internacional, tivemos anos de crescimento negativo em 1984, 1993 e 2003. Agora, para baralhar as contas, já não se vai esperar por 2013 para que chegue a nova recessão. Ela já aí está e vai garantir, segundo o Banco de Portugal, um ano de crescimento negativo de 0,8 por cento em 2009.No entanto, apesar da regularidade com que surgem, é difícil encontrar, entre as três crises passadas e a que agora se está a desenvolver, uma total semelhança nas causas, efeitos e soluções. Nestes momentos difíceis da sua história, Portugal entrou em recessões tanto por culpa do que se passava no estrangeiro como devido a desequilíbrios internos. E os métodos utilizados para garantir uma recuperação variaram tanto nas circunstâncias como nos instrumentos políticos disponíveis. O único ponto igual em todas as crises passadas foi mesmo a subida forte do desemprego durante os anos seguintes. Algo a que, agora, Portugal não conseguirá, mais uma vez, escapar.
Segunda as estimativas apresentadas esta semana pelo Banco de Portugal, na actual crise, o principal contributo negativo para a actividade económica está a vir das exportações. A grande maioria dos principais parceiros comerciais portugueses estão em recessão e as vendas de bens e serviços ao estrangeiro vão ressentir-se, caindo 3,6 por cento em 2009.
Este tipo de influência externa negativa não aconteceu nem na crise de 1984, nem na de 2003. Em ambos os casos, as exportações até cresceram a um ritmo elevado e acabaram por limitar os danos na economia. Nos anos 80, as exportações contaram com a ajuda da desvalorização da moeda, que tornou as empresas mais competitivas e, em 2003, com o forte crescimento de alguns parceiros, como a Espanha.
Nessas duas crises, o problema esteve numa quebra abrupta da procura interna. Famílias e empresas pouco confiantes e finanças públicas pressionadas conduziram a uma descida do consumo e do investimento que afundou a economia. Agora, apesar do abrandamento do consumo e da descida do investimento, a evolução da procura interna mantém-se em terreno positivo, muito devido ao facto de, por causa da descida da inflação, o rendimento disponível das famílias apresentar um crescimento em termos reais.
A crise mais semelhante à actual acaba por ser a de 1993, que também resultou de um abrandamento económico global. Ainda assim, as diferenças são significativas nas armas utilizadas para combater a recessão. Ao contrário do que acontece agora, o Governo ainda podia desvalorizar a moeda e, dessa forma, limitar as perdas no sector da exportação.