Crepúsculo

Os vampiros são, para parafrasear a canção do Marco Paulo, uns cavalheiros à mesa e uns loucos na cama, isto se partirmos do princípio que a mordidela do vampiro é uma metáfora da luxúria e do sexo e que o vampirismo é um jogo de sedução erótico. O truque de "Crepúsculo", adaptando o primeiro de uma série de romances da escritora americana Stephenie Meyer, é retirar toda a carga abertamente sexual para deixar apenas o jogo de sedução - este vampiro, sob os traços do inglês Robert Pattinson, é um cavalheiro até na cama, recusando-se a consumar o "beijo da morte" pelo amor que devota à donzela que jurou proteger até contra si próprio.

Não vale, por isso, os apreciadores do género vampiresco virem aqui à procura de sustos e sangue: é um romance perfumado a água de rosas destinado às tinaigeres, com leve travo sobrenatural para dar cor e muita baladona de rock para sublinhar a emoção. O que torna o filme interessante, para lá da sua apresentação profissionalíssima e impecável sem pingo de condescendência para com o seu público, é o modo como este tratamento supostamente moderno das paixões de liceu é um filme à moda antiga, de um hiperromantismo casto que não destoaria nos grandes filmes românticos dos anos 1940 e a contra-corrente da leviandade com que se tem tendência para pintar o amor adolescente.

"Crepúsculo" é trabalho limpinho e honesto que acerta em cheio no alvo (menor de 18 anos) a que se dirige.

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