Abanar bebés durante três segundos destrói vidas
Muitos pais já ouviram dizer que abanar um bebé é perigoso, mas poucos sabem que leva apenas uns segundos a destruir uma vida. As estatísticas mostram que a maioria das lesões são causadas pelos pais
ou pelos companheiros dos pais. As babysitters também aparecem no retrato. Por Kathleen Megan
a Teresa Trojanovski pensa como seria se o seu filho T.J. pudesse jogar hóquei no gelo ou futebol americano, ou se pudesse vir a tirar a carta de condução ou a ter a primeira saída com uma namorada. "Em sonhos via-o a gatinhar, a dizer as primeiras palavras, até o ouvia a dizer 'mamã" ou 'adoro-te'", conta Teresa. Mas a esperança de vida normal para o seu filho mal teve tempo para se instalar antes de T.J. ficar profundamente lesionado com apenas 28 dias, e com 85 por cento do seu cérebro afectado. Onze anos depois, T.J. está sentado numa cadeira de rodas na casa da família Trojanovski em Groton, estado de Connecticut, EUA, incapaz de ver mais do que luz ou sombra, incapaz de falar ou mover o corpo segundo a sua vontade. As refeições são-lhe ministradas por via de um tubo gástrico.
A causa de tudo isto? Quando era bebé foi fortemente abanado pelo seu pai, que tratava de T.J. durante a maior parte do tempo enquanto Teresa recuperava de pneumonia e problemas cardíacos.
"Estão sempre a perguntar-me", afirma Teresa, que está divorciada. "Muitas pessoas dizem: 'Ele nasceu assim ou teve algum acidente de carro?' Ninguém consegue imaginar que alguém que devia amá-lo lhe fez uma coisa destas."
Apesar de muitos pais já terem ouvido dizer que abanar um bebé é perigoso, poucos percebem o impacto destruidor para toda a vida que pode resultar de apenas uns segundos de abanão.
Com os dados disponíveis de novos estudos sobre programas de prevenção, o Connecticut Children's Trust Fund, uma agência estatal encarregada de prevenir abusos sobre crianças, pediu aos hospitais deste estado para iniciar programas junto de futuros pais. A agência está também a fazer passar a sua mensagem nos programas educativos das escolas secundárias e em programas especialmente dirigidos às famílias em suas casas.
"Menos de três segundos de abanão é quanto chega para matar ou mutilar um bebé para toda a vida", afirma Karen Foley-Schain, directora executiva do Connecticut Children's Trust Fund. "Estudos recentes mostram que não basta dizer às mães. Também tem que se dizer aos pais e a outros prestadores de cuidados primários."
Nina Livingston, médica directora do Serviço Regional para os Abusos Infantis de Hartford, declara que a síndrome do bebé abanado se está a tornar uma área de grande interesse porque este tipo de abuso "encontra-se entre os mais destruidores" e "temos efectivamente algumas ferramentas para a prevenção".
Esta responsável diz também que abanar a cabeça do bebé ou atirá-la contra algo "é um acontecimento verdadeiramente muito complexo a nível biomecânico". Quando sofre um grande abanão, a cabeça de um bebé baloiça para trás e para a frente com tal força que pode empurrar o cérebro dentro da cavidade craniana, lesionando ou destruindo tecidos cerebrais, e forçando ou cortando os vasos sanguíneos à volta do cérebro.
Um em cada quatro bebés que sofrem este tipo de lesão cerebral morre, e metade fica com graves deficiências para toda a vida, que podem incluir danos cerebrais graves, cegueira, perda de audição, problemas de aprendizagem, convulsões, paralisia ou outras. Um em cada quatro pode aparentar ter escapado sem lesões a longo prazo, mas essas crianças podem sofrer de uma deficiência menos visível. Por ano, cerca de 1200 a 1400 bebés são fortemente abanados nos Estados Unidos, embora os especialistas suspeitem que muitos casos não são detectados.
Afastar-se dos bebés
O esforço de prevenção que foi feito ao longo dos últimos três ou quatro anos, diz a médica Foley-Schain, foi inspirado pela investigação de Mark Dias, um neurocirurgião pediátrico que actualmente trabalha no Centro Médico Hershey da Universidade do Estado da Pensilvânia. Os seus estudos provaram que um programa de prevenção realizado em Nova Iorque reduziu a incidência de bebés abanados em 47 por cento.
O trabalho de Dias permite que hoje, na unidade de cuidados intensivos para recém-nascidos do Centro Médico Infantil de Connecticut, pais de bebés assistam a um vídeo sobre a síndrome de bebé abanado, aprendam que é normal que os bebés chorem, e assinem um compromisso de não abanarem o seu filho e de falarem com todas e quaisquer babysitters acerca dos perigos de abanar um bebé. As estatísticas mostram que a maioria das lesões são causadas pelos pais ou pelos companheiros dos pais - cerca de 60 a 70 por cento por homens -, enquanto cerca de 15 a 20 por cento são causadas por babysitters.
Um estudo elaborado por Ronald Barr, um médico da Universidade da Colúmbia Britânica, que documenta os níveis de choro de um bebé normal, tem também tido um grande impacto na prevenção. Com a investigação a demonstrar que o choro é o factor que mais desencadeia a síndrome do bebé abanado, a esperança reside em que cada vez mais pais percebam que, se os bebés podem ter longos e incontroláveis ataques de choro, os pais têm que estar preparados para lidar com essa situação.
Nos hospitais de Yale-New Haven, Connecticut, um programa fornece ajuda aos pais, levando-os a perceber que nem todos os bebés podem ser acalmados. Este programa também ensina a importância de perceber as suas próprias frustrações, e aconselha os pais a colocarem o bebé num local seguro se for necessário - talvez num berço - e fazerem uma pausa. O programa sugere que o pai deve fazer algo para se acalmar, como, por exemplo, telefonar a um amigo ou a um médico para pedir conselhos, e não deve voltar para o quarto da criança até estar pronto para lidar com o choro do bebé.
Teresa Trojanovski, decidida a manter o filho em sua casa, está preocupada com a sua capacidade para continuar a tomar conta dele. Recentemente deslocou um ombro quando pegava em T.J. Tem em casa um elevador, mas não encontra quem o instale e não tem a certeza de que o tecto suporte o peso. Quando T.J. se lesionou, um médico aconselhou-a a "colocá-lo num lar e ter mais filhos".
Para avisar as outras pessoas, colocou um autocolante na sua carrinha: "Abanar bebés destrói vidas."
Exclusivo PÚBLICO/"The Hartford Courant"