Herman José, o que mais adoramos em ti ainda é O Tal Canal?

a Em 1983, o Bloco Central estava no poder, a primeira americana ia ao espaço no Challenger, estreava-se Thriller, de Michael Jackson, e a segunda novela portuguesa, Origens, passava na RTP. Mas há 25 anos nascia ainda outra produção marcante na televisão em Portugal. "Para mim, este é e será sempre 'o tal' programa", diz Herman José no DVD de O Tal Canal, hoje lançado pela Castello Lopes Multimédia.Um programa de humor da autoria de um Herman José Krippahl de 28 anos, O Tal Canal, chegava então à RTP e dava ao público Tony Silva (nascido no Passeio dos Alegres), Nélito ou Marilú. E contribuía para criar uma nova geração de humoristas televisivos.
Um desses jovens cómicos é José Pedro Vasconcelos, um dos protagonistas de Caia Quem Caia, o novo programa de humor da TVI das noites de sábado. "O Tal Canal todo ele é memorável, ágil, corrosivo, ginasticado. É a primeira grande pedrada na montra de um certo humor já requentado e pouco viril que Portugal comia nos anos 80 - o humor 'Mayer-ó-Solnado' ou 'camiliano', este último ainda fracturante", diz ao P2.
Com a segunda novela de produção portuguesa há pouco tempo no ar, gozava-se com o formato em O Diário de Marilú. Com Filipa Vacondeus a dar dicas culinárias na TV, punha-se paprika no Cozinho para o Povo. E com as locutoras de continuidade em alta, Helena Isabel enfeitava-se com fitas de embrulho para anunciar mais uma produção Oliveira Casca.
"No Tal Canal, um intransponível painel de 'bonecos' (Tony Silva, Carlos Filinto Botelho, Filipa Vacondeus, Nélito, Estebes) marcava para sempre a audiência", comenta Francisco Rui Cádima, professor do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade Nova de Lisboa. Estas figuras implantaram-se na cultura popular. Falava-se como o Estebes, tremia-se a voz quando se dizia "paprika", imitava-se o apresentador do Telejornal baseado no jornalista Carlos Pinto Coelho. "Herman, como humorista, sempre atingiu o seu melhor através das suas caricaturas, que através de um humor fino e ácido, eram (são) uma espécie de 'jograis' deste feudalismo moderno em que fazemos por sobreviver", diz Cádima.
O que trazia de novo, então, O Tal Canal? "Tudo. Do genérico que já fazia lembrar Hans Donner (o designer da Globo), aos textos, [passando pela] valente pancada para muitos sectores, pelos actores e décors", enumera José Pedro Vasconcelos. "Tudo era fresco e bom e, como tal, hirto e vigoroso."
A construção de Herman José como "referência incontornável" do humor português na segunda metade do século passado, como refere o humorista Jel, de Vai Tudo Abaixo (SIC Radical), começou verdadeiramente com O Tal Canal. O DVD (34,99 euros) contém os 12 episódios de 50 minutos em versão restaurada e remasterizada, bem como uma conversa com o humorista e um featurette - Inconsequências do Tal Canal. E a revelação de Herman sobre o título original do programa, O Terceiro Canal, que afinal já tinha sido escolhido para outro produto.
O Tal Canal foi o motivo pelo qual José Carlos Vasconcelos diz ter consumido todos os programas seguintes de Herman José, dos especiais de fim-de-ano a Herman Enciclopédia. Assume as influências do factor Herman no seu trabalho como actor, mas acha que elas hoje não se reflectem naquilo que faz. É que já se mudou de canal, constata, observando que "somos um povo sem memória". Mas reitera: "A minha vida não teria sido a mesma se o sr. Krippahl não existisse e tenho a certeza de que a vossa também não."

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