Gronelândia disse sim a mais autonomia e reavivou o sonho de ser independente
A maior ilha do mundo escolheu ser mais autónoma e a decisão foi saudada pela Dinamarca. Na Gronelândia pergunta-se se há condições para um Estado em pleno
A Tem 57 mil habitantes, pouco mais do que Guarda ou Bragança, mas muito, muito mais frio. A Gronelândia referendou na terça-feira uma autonomia alargada em relação à Dinamarca, o que foi interpretado como um primeiro passo para a independência. E cerca de 75 por cento dos gronelandeses disseram sim.Hans Enoksen, o chefe de governo local, sonha festejar os 65 anos numa Gronelândia independente, mas ainda lhe faltam 12 anos. O seu antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Aleqa Hamond, acredita que isso acontecerá daqui a oito anos, e o sindicalista Jess Berthelsen disse à AFP que a Gronelândia poderá ser independente daqui a quatro anos.
Previsões à parte, o referendo desta semana dá aos gronelandeses o direito a explorar os próprios recursos - petróleo, gás, ouro, diamantes, urânio ou zinco.
Desde 1979 que a ilha, a maior do mundo, tinha um estatuto de autonomia. Todos os anos a Dinamarca envia para a ilha 400 milhões de euros, o que representa cerca de metade do orçamento do território. "A proposta de autonomia alargada recebeu um apoio político maciço tanto na Gronelândia como na Dinamarca. Vejo com satisfação que a proposta também recebeu um largo apoio do povo gronelandês", disse em comunicado o primeiro-ministro dinamarquês, Anders Fogh Rasmussen.
A taxa de participação foi de 72 por cento, e 75,5 por cento dos eleitores votaram "sim". Só 23,6 escolherem o "não". Entre os que rejeitam a ideia de independência estão alguns dirigentes da oposição ao governo local, como Jens Frederiksen, para quem "é uma ilusão acreditar que a Gronelândia poderá voar com as próprias asas num futuro próximo". E adianta: "Não temos, para já, os meios para financiar os novos domínios em que a Dinamarca irá retroceder no quadro de um regime de autonomia alargada, como é o caso da polícia, da justiça ou da administração penitenciária."
"Simplesmente poucos"Também o político e escritor gronelandês Finn Lynge considera "impossível" que um território que não chega a ter 60 mil habitantes se torne um Estado independente. "Somos simplesmente muito poucos para fornecer os recursos humanos necessários a um Estado viável", disse à AFP.
Por paradoxal que pareça, se houver viabilidade para a Gronelândia ela virá do degelo dos glaciares do Árctico, que é lamentado por ser uma consequência do aquecimento global mas que dará à Gronelândia a hipótese de explorar novas reservas de hidrocarbonetos.
Prevê-se que o novo estatuto de autonomia entre em vigor a 21 de Junho de 2009, como anunciou o primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen. Nessa altura terão passado 300 anos sobre o início da colonização dinamarquesa e 30 sobre o primeiro estatuto de autonomia da Gronelândia.