Ensaio Sobre a Cegueira

Está por provar que uma alegoria literária deva, passada ao cinema, constituir-se em alegoria cinematográfica. É evidente que Meirelles ficou fascinado com a alegoria, e também um pouco esmagado com a responsabilidade de estar a adaptar um livro com o peso cultural do de Saramago.

Em vez de cerrar a história, de a descarnar até ao esqueleto, investiu nos sinais exteriores de alegoria em vez de a deixar funcionar como coisa interior, a funcionar sobretudo na cabeça do espectador - e como, mesmo para isso, as boas ideias não abundaram, perdeu-se em efeitos e efeitozinhos, em personagens grotescas, em cenas de uma fealdade atroz (e, francamente, num estado de histeria permanente bastante difícil de aguentar). Dizia alguém que há mais Shakespeare num qualquer filme de Orson Welles do que em todas as adaptações do "bardo"; pois bem: há mais "Ensaio sobre a Cegueira" naquele filme de Frank Darabont, "Nevoeiro Misterioso", que cá estreou há uns meses, do que em todo o filme de Meirelles

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