O jovem Sr. Bush

Força, porque não era óbvio. Não era nisto que tínhamos pensado quando soubemos que Stone se ia atirar a George W. Bush. Stone, que sempre gostou de histórias de miúdos esmagados com "father figures" ("Platoon"), erradica por aí qualquer panfletarismo - as pessoas ficam surpreendidas por verem que "W." se interessa genuinamente por George W. Bush, e que o filme propõe uma tentativa de compreensão, quase apologética, da sua vida e mesmo do seu desempenho político (em especial a reacção aos "enganos" do Iraque, e o contraste entre a sua desamparada figura e o recorte mais tortuoso de figurões como Dick Cheney ou Donald Rumsfeld). Fraqueza, porque uma vez posta em marcha esta lógica não se sai dela, perdendo-se a oportunidade de medir, com fôlego reflexivo, não "quem" foi Bush como Presidente mas o "que" foi ele como Presidente - a sua dimensão simbólica. Podemos pensar que Stone quer retratar Bush como um Presidente "doméstico" e "pequeno", um texano simples pouco à vontade fora do seu rancho, mas a verdade é que o filme é também ele próprio incapaz de fugir a essa dimensão "doméstica" e "pequena" (até um pouco "telefilmesca"). Valha a verdade que tudo se conclui em suspensão - Bush esperando a queda da bola de basebol, eventual metáfora da "posteridade" ou da História e do seu julgamento sobre o "lançamento" que ele efectuou.

Isto dito, é na gravidade familiar que ocorrem as melhores cenas de "W.". Os confron-tos de George filho ( Josh Brolin, perfeitamente mimético) e George pai ( James Cromwell, profundamente ambíguo), o tom crepuscular de que se rodeia o Bush sénior, como se na mesma família se encontrasse um eco de uma América aristocrática e antiga e outro de uma América contemporânea e popular - mesmo pesando toda a ambiguidade de cada um dos retratos, talvez ficassem surpreendidos se vos disséssemos para onde desconfiamos que vai a simpatia de Stone.

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