Robocall, o telefonema que diz para ter cuidado com Obama
Chamadas automáticas republicanas dizem que democratas têm uma agenda radical. Eleitores de estados indecisos são os alvos preferenciais
a A campanha do candidato democrata à Casa Branca, Barack Obama - e alguns dirigentes republicanos -, protestou contra uma série de chamadas telefónicas automáticas (robocalls) em nome de John McCain, acusando o seu opositor de estar ligado a terroristas e não ser firme na defesa da segurança nacional."Olá. Estou a ligar em nome do senador John McCain e do Comité Nacional Republicano", apresenta-se uma voz masculina. "Você precisa de saber que Barack Obama trabalhou de perto com o terrorista Bill Ayers, cuja organização bombardeou o Capitólio dos Estados Unidos, o Pentágono, a casa de um juiz e matou americanos. Os democratas vão promover uma agenda radical de esquerda se tomarem o controlo de Washington", prossegue.
Nos últimos comícios, Barack Obama tem avisado os seus apoiantes contra a campanha negativa dos republicanos. "Sejam as chamadas telefónicas, os panfletos no correio, os anúncios na televisão ou comentários na campanha, o meu opositor está disposto a dizer o que for preciso e a fazer o que for preciso", considerou. "A situação está a ficar tão feia que até a sua parceira está descontente com estas tácticas", acrescentou, invocando as palavras de Sarah Palin - a governadora do Alasca disse que preferia que a sua campanha não dependesse tanto dos "métodos convencionais" como as robocalls.
No último debate presidencial, McCain insistiu que o senador democrata precisava de explicar a sua ligação a Ayers, fundador do grupo radical Weather Underground, que nos anos 60 levou a cabo vários protestos violentos contra a guerra do Vietname. Mas o republicano acrescentou que não estava "minimamente interessado" em discutir Bill Ayers (que actualmente é professor universitário em Chicago) e garantiu que iria manter a sua campanha positiva até ao dia das eleições.
Investidos 70 milhões
O investimento de cerca de 70 milhões de dólares nestas robocalls contraria a promessa. Neste momento, a campanha está a fazer circular pelo menos quatro chamadas diferentes, atacando o patriotismo do candidato democrata, diabolizando o seu apoio à legislação que consagra o direito ao aborto ou caracterizando-o como um "extremista" - em termos que John McCain nunca usou publicamente.
"Barack Obama e os seus amigos democratas adoram pôr Hollywood à frente da América. No mesmo dia em que os nossos líderes eleitos se reuniam em Washington para resolver a crise financeira, Barack Obama passou vinte minutos com conselheiros económicos e horas num jantar com celebridades de Hollywood. São estas as prioridades dos democratas?", questiona uma dessas gravações.
Velhas promessas
A manobra está a provocar celeuma, até porque John McCain se comprometeu, na sua anterior campanha para a Casa Branca, a nunca recorrer a este género de expediente. "Prometo que nunca tive, nem nunca terei, nada a ver com este tipo de táctica política", declarou na altura.
No ano 2000, o senador do Arizona foi o alvo dessas chamadas, pagas pela candidatura do seu opositor à nomeação republicana, George W. Bush, para lançar um boato que acabou por provocar a derrota de McCain. O consultor político responsável pelas robocalls contra McCain, Jeff Larson, é o mesmo que está agora a trabalhar para a sua candidatura.
Numa entrevista à Fox News no passado domingo, McCain defendeu a legitimidade dos seus ataques. "Estas chamadas são verdadeiras e completamente diferentes daquelas que foram feitas veiculando mentiras sobre a minha família. Dramaticamente diferentes", reforçou o candidato. "Estas são questões legítimas, sobre se o senador McCain está ou não a mentir ao povo americano", explicou.
As mensagens têm sido direccionadas aos eleitores dos estados indecisos do Ohio, Pensilvânia, Wisconsin, Colorado, Missuri e Florida. Mas a campanha estendeu-as a estados tradicionalmente republicanos onde a candidatura de McCain está na defensiva, como a Virgínia, Carolina do Norte, Geórgia ou mesmo o Texas.
A senadora republicana do Maine, Susan Collins, denunciou a existência de robocalls no seu estado e apelou à campanha de McCain para retirar imediatamente esses ataques.
48%
a favor de Obama e 42% a favor de McCain são os resultados da sondagem da The Economist divulgada ontem
Comentário de Mark Halperin num artigo da Time intitulado "How the Powell Endorsement Boosts Obama" (Como o apoio de Powell impulsiona Obama). Halperin é analista político da Time Magazine e da ABC news.
O site Politico.com (www.politico.com) dedica seis blogues à corrida eleitoral, com diferentes perspectivas: os democratas, os republicanos, a campanha dia a dia, os media e até os mexericos eleitorais são escrutinados pelos melhores analistas políticos. Um exemplo de como se pode liderar a cobertura noticiosa de uma eleição a partir da Internet.
O conhecido radialista conservador Rush Limbaugh desvalorizou o apoio do general Colin Powell a Barack Obama, insinuando que a decisão do antigo secretário de Estado do Presidente Bush foi contaminada pelo facto de ser afro-americano e um fervoroso apoiante das leis de "acção afirmativa" que promovem a igualdade de oportunidades.
"O secretário Powell disse que a sua decisão não tinha nada a ver com a raça. Estou agora a pesquisar todos os candidatos que ele apoiou no passado para ver se consigo encontrar todos os candidatos brancos, inexperientes e radicalmente liberais que ele apoiou", reagiu Limbaugh.
O apoio de Powell ameaça tornar-se uma incómoda "distracção" para a campanha de John McCain. Ontem, as palavras de Powell continuavam a ser repetidas nas televisões americanas - como notavam os analistas, McCain corre o risco de ver a análise das razões invocadas pelo general republicano ocupar o ciclo noticioso nos próximos dias, desgastando a sua imagem junto do eleitorado.
Colin Powell disse que não tencionava envolver-se pessoalmente na campanha de Barack Obama, mas a campanha democrata certamente usará as suas palavras nesta recta final da corrida. A candidatura anunciou no domingo ter arrecadado cerca de 150 milhões de dólares em contribuições durante o passado mês de Setembro, o maior montante de sempre da história eleitoral americana.