Afinal, o genoma tem mais autonomia do que se pensava

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A equipa utilizou uma linha de ratinhos com o cromossoma 21 humano Público

No mundo microscópico das células, os investigadores tentaram perceber se o funcionamento dos cromossomas – ou seja, a regulação de genes e a produção de proteínas – é controlado pelos próprios cromossomas ou pelo ambiente celular que os rodeia.

“Não se sabe a cem por cento como é que se dá a regulação da actividade genética”, começa por explicar ao PÚBLICO, por telefone, Nuno Barbosa-Morais. O cientista português, de 30 anos de idade, há cinco em Cambridge, é responsável pela parte computacional do estudo que usou ratinhos com cromossomas humanos para responder a esta questão.

A equipa utilizou uma linha de ratinhos com o cromossoma 21 humano, criada por cientistas para investigar a síndroma de Down. “Os ratinhos trissómicos (...) eram o modelo ideal, porque tinham ADN humano num ambiente celular de ratinho”, diz.

Foram utilizadas as células do fígado; apesar de o funcionamento do órgão do roedor ser parecido com o nosso fígado, “há uma diferença muito grande em como as células são reguladas”. O cromossoma humano corresponde em parte ao cromossoma 16 no ratinho e seria possível perceber quem era responsável pela regulação dos genes, o cromossoma ou o meio celular. Os cientistas concluíram que o cromossoma 21 nas células hepáticas do ratinho se comportava como se estivesse em células hepáticas humanas e não como o cromossoma 16. Os genes activados, apesar de serem os mesmos, expressavam-se na quantidade que se expressam no humano.

O ratinho tem proteínas capazes de activar e desactivar os genes do cromossoma 21. Mas, segundo Barbosa-Morais, estas proteínas “agarram-se ao cromossoma como se ele fosse humano”. O cromossoma tem que ter informação que leva estas proteínas a comportar-se como nas células humanas.

“O genoma manda mais do que o que se pensava”, conclui Barbosa-Morais. A partir daqui, a equipa vai fazer o mesmo teste noutras espécies de mamíferos para criar um modelo. “Vamos tentar interpretar a informação que está no ADN.” Este tipo de informação poderá ajudar a explicar o desenvolvimento do cancro.

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