Uma cadeia emblemática do Estado Novo
a A prisão de Peniche foi a última prisão política do continente a viver a libertação dos prisioneiros políticos, após o 25 de Abril, bem como aquela que foi palco das mais espectaculares fugas durante a ditadura.Só a 27 de Abril, e não a 26, como em todas as outras prisões políticas do continente, foram abertas as portas a todos os presos. Isto porque, numa manifestação de solidariedade, ninguém aceitou passar os portões do forte sem que fosse concedida a liberdade a todos os presos.
O motivo do braço-de-ferro político deveu-se ao facto de o general António de Spínola, presidente da Junta de Salvação Nacional, não querer amnistiar os prisioneiros detidos por crimes de sangue. Ora, em Peniche, estavam três: Francisco Martins Rodrigues, Rui d'Espiney e Filipe Viegas Aleixo. Depois de Peniche, só o Campo Prisional do Tarrafal, em Cabo Verde, prisão que a partir dos anos 60 apenas serviu de cadeia para membros dos movimentos de libertação das colónias, continuou em funções, até 30 de Abril.
Mas a importância de Peniche como prisão política passa também pelas fugas de que foi palco.
A primeira espectacular fuga que das suas muralhas foi conseguida é a de António Dias Lourenço, dirigente do PCP na clandestinidade. A fuga deu-se a 17 de Dezembro de 1954, quando Dias Lourenço estava detido em prisão solitária numa guarita da muralha exterior do forte.
Usando um cobertor que tinha para se cobrir, que transformou em corda, Dias Loureiro conseguiu abrir a grade de ferro e saltou para o mar. Um mergulho desassombrado para o mar pejado de rochas. Nadou até à praia, onde foi recolhido por pescadores.
Anos depois, a 3 de Janeiro de 1960, o forte de Peniche vive a sua segunda espectacular fuga e aquela que em Portugal mais pessoas envolveu: dez presos e um agente da GNR, José Alves. E como valor acrescentado a este episódio, entre os fugitivos estava Álvaro Cunhal, o nome mais importante de um conjunto de presos onde se encontravam também Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho.
Dez presos que saltaram da ala de segurança máxima, no último andar do forte, protegidos pelo capote de José Alves, e depois, com cordas de lençóis, saltam para a liberdade das ruas de Peniche, onde são recolhidos por automóveis do PCP.
Álvaro Cunhal, juntamente com mais dez presos, protagonizou a segunda grande fuga do Forte de Peniche, em Janeiro de 1960