Washington Mutual protagoniza maior falência na banca americana
O Wachovia e o Nacional City estão a desfazer-se em bolsa. Ao atraso no plano de Paulson juntam-se as dúvidas sobre a sua eficácia
a O Washington Mutual (WaMu), o maior banco de empréstimos e poupança norte-americano, foi declarado falido e de imediato comprado pelo JP Morgan, por um preço considerado atractivo: 1,9 mil milhões de dólares (1,3 mil milhões de euros). O desfecho não surpreendeu o mercado, porque a possibilidade de falência era admitida há várias semanas, dadas as elevadas perdas por causa do crédito de alto risco, que ascenderão a mais de 19 mil milhões de dólares, e os inúmeros resgates que os clientes estavam a fazer nos últimos meses, superiores a 16 mil milhões de euros. O colapso do banco, criado em 1889 e com mais de 2300 agências comerciais, vem juntar-se às mais de 12 instituições intervencionadas pela Agência Federal de Seguradoras de Depósitos (FDIC) desde o início da crise, segundo a edição on-line do espanhol Cinco Dias. E o pior é que não deverá ser o último, pois alguns peritos admitem que o plano do Tesouro e da Reserva Federal (Fed) norte-americana, de 700 mil milhões, representa apenas uma "migalha" face às perdas acumuladas. Ontem, a agência Bloomberg noticiava que, segundo Marc Faber, conhecido consultor em mercados financeiros, podem ser necessários cinco milhões de milhões de dólares para fazer face à crise.
A queda do Washington Mutual, a maior falência de sempre da banca comercial nos Estados Unidos, as incertezas quanto ao plano Paulson, a escassez de dinheiro nos mercados, os receios de recessão económica nas maiores economias e os resgates gerados pela desconfiança dos consumidores estiveram ontem a pressionar o sector financeiro a nível mundial.
Nos EUA, vários bancos voltaram a registar perdas elevadas na bolsa, entre os quais o Wachovia Corp, que chegou a perder perto de 30 por cento. Há poucos dias o Wachovia ponderou uma fusão com Morgan Stanley, que não se concretizou por alegada desistência deste, que entretanto negociou a venda de uma participação do seu capital ao Mitsubishi Financial, maior banco japonês em activos. Também o National City Corp esteve em queda, com uma desvalorização superior a 60 por cento.
As quedas no sector bancário acontecem numa altura em que as operações de vendas a descoberto, o chamado "short selling", estão proibidas e existe uma forte vigilância das entidades de supervisão.
JP Morgan torna-se o maior
A queda do WaMu acontece depois de várias semanas à venda, com grandes instituições, incluindo o JP Morgan, o Citigroup, o Wells Fargo, o Banco Santander e o TLoronto-Dominion Bank terem estado a avaliar uma possível aquisição. A intervenção estatal repete alguns dos episódios vividos recentemente no banco de investimento Lehman Brothers, que não conseguiu encontrar um comprador em tempo útil e foi à falência, e o da Merrill Lynch, que foi vendida à pressa e por um terço do seu valor, para evitar o mesmo desfecho. Depois de ter recusado uma primeira oferta do JP Morgan, o WaMu acabou nas mãos do banco que já tinha resgatado, com o apoio das entidades federais, o Bear Stearns, em Março deste ano.
Com mais esta aquisição, que inclui apenas a actividade comercial, o JP Morgan conquista o estatuto de maior banco norte-americano em depósitos. Para fazer face à compra, a instituição anunciou um aumento de capital de 10 mil milhões de euros, através da venda de acções, realizado em tempo recorde e a um preço ligeiramente superior à cotação de anteontem.
A intervenção por parte das entidades federais na instituição - que antes da crise possuía mais de 180 mil milhões de dólares de depósitos e 310 mil milhões de dólares de activos - foi decidida de forma repentina, sem consentimento da administração. Para a decisão pesou o facto de a agência Standard & Poor's ter reduzido a notação da empresa para CCC, um nível baixo, depois de duas outras empresas de rating já terem cortado a avaliação para o nível mais baixo, o junk (sem valor).
O WaMu foi encerrado pela Agência de Supervisão Económica e entregue ao controlo da Agência Federal de Seguradoras de Depósitos. De imediato foi feita uma cisão da actividade comercial, vendida ao JP Morgan, que dessa forma não assumiu as dívidas, que continuam a ser responsabilidade dos accionistas da holding. As acções do WaMu estiveram ontem suspensas na Bolsa de Nova Iorque, uma ironia, já que os balcões da instituição estiveram abertos.