Rem Koolhaas não gosta da associação da Casa da Música à ideia de um meteorito
A O arquitecto da Casa da Música não gosta de a ver associada à ideia de um meteorito, defende que esta só tem a ganhar com o surgir de novas edificações à volta e diz que os atrasos verificados na construção foram produtivos para a consolidação do projecto.Estas são algumas das ideias expressas na conversa entre Rem Koolhaas e o crítico norte-americano de arquitectura Mark Wigley, ingrediente principal do livro Casa da Música/Porto, que é hoje (15h45) apresentado na Casa. Composta por dois volumes, a publicação reúne um álbum de fotografia documentando todo o processo de construção, desde a demolição da velha remise dos eléctricos da Boavista até aos primeiros concertos na Casa da Música, e ainda uma conferência (Transformações) de Koolhaas e um ensaio crítico de Wigley.
"Nunca liguei o projecto a algo de extraterrestre ou a um meteorito. Detesto essa metáfora, porque sugere algo de alienígena e de impacto - uma espécie de assalto", diz o arquitecto, num diálogo em que aborda também a adaptação que fez, para o concurso do Porto, do desenho de uma casa (Y2K) inicialmente concebida para um cliente particular. "Tivemos uma discussão séria sobre se devíamos mencioná-lo na apresentação do concurso, mas decidi fazê-lo, porque pensei que, de outro modo, haveria uma situação aparentemente desonesta."
Noutro ponto da conversa, Koolhaas recorda os atrasos e polémicas que rodearam o projecto. "Eu estava limitado por condições draconianas." Numa reunião, "o presidente do conselho de administração [Artur Santos Silva], de um modo quase intimidatório, foi muito explícito a sublinhar a importância do tempo e do orçamento", diz o arquitecto, notando, em contrapartida, as vantagens que os atrasos vieram a ter: "As interrupções foram inacreditavelmente produtivas."
Sobre a polémica do tecido urbano envolvente, Koolhaas diz que a Casa, porque é "um edifício contextual e suave", sem cor no exterior, "necessita dos outros edifícios à sua volta". "A certo ponto tornou-se claro que, se não argumentássemos pela preservação deste material envolvente, na melhor das hipóteses o edifício seria rapidamente rodeado por mais Sizas, ou, na pior das hipóteses, por mais planura ou mais vidro espelhado."
Livro é hoje apresentado pelo crítico Mark Wigley, pelo arquitecto Nuno Grande e pelo jornalista Carlos Magno