Bolívia: Presidente e oposição retomam negociações após semanas de confrontos
Depois do pré-acordo assinado terça-feira para o fim dos confrontos, as duas partes encontraram-se hoje em Cochabamba, estado situado no centro do país, numa reunião que começou sem cerimónias ou discursos de circunstância, na presença de enviados das Nações Unidas, da Organização de Estados Americanos (OEA) e da União de Nações da América do Sul (Unasur).
“Esperamos chegar a um grande pacto social” que pacifique o país, declarou, à entrada para a reunião, o governador do estado de Santa Cruz, Ruben Costas, principal figura da oposição de direita às políticas de Evo Morales.
As cinco regiões, (Santa Cruz, Tarijas, Chuquisaca, Beni e Pando), que juntas perfazem mais de metade do território nacional, recusam um projecto governamental de revisão constitucional que, entre outros aspectos, prevê uma redução do tamanho das explorações agrícolas e uma nova repartição das receitas provenientes da exportação de hidrocarbonetos. A oposição conservadora considera os projectos de Morales, o primeiro ameríndio na presidência boliviana, demasiado centralistas e indigenistas, acusando-o de estar a pôr em marcha um plano para a criação de um regime marxista no país.
Depois de meses de impasse, os cinco estados declararam na semana passada a sua autonomia em relação a La Paz e, em Pando, os confrontos entre apoiantes e opositores do Governo provocaram pelo menos 18 mortos, levando o Presidente a declarar o estado de sítio. O governador local, Leopoldo Fernandez, foi responsabilizado pela violência, tendo sido detido anteontem pelo Exército, enfrentando agora a acusação de genocídio.
Sublinhando a necessidade de restaurar a ordem no país, Luis Aguilar o governador do estado de Oruro e apoiantes de Morales, lembrou que os responsáveis políticos “têm a obrigação de chegar a um grande acordo nacional”.
Por seu lado, Ivan Canelas, porta-voz do Presidente, disse esperar que as negociações avancem “com maturidade”, recordando que o pré-acordo assinado anteontem prevê a criação de três comissões para debater os pontos que geram mais polémica.
A primeira comissão vai discutir a redistribuição das receitas fiscais resultantes da exploração de gás natural – uma das principais reivindicações das províncias autonomistas, detentoras de algumas dos principais reservas. O segundo grupo de trabalho vai debater a questão das autonomias regionais, enquanto a última comissão vai analisar a forma de nomeação para os principais cargos judiciais.