CP desiste de comboio panorâmico na linha do Douro
Investimento de um milhão de euros jaz estacionado em Contumil, depois de ter deixado de vigorar acordo com o Instituto do Vinho do Douro e Porto
A A CP decidiu acabar com o comboio turístico da linha do Douro, também conhecido por "comboio do Vinho do Porto", devido à sua fraca procura. As carruagens estão encostadas num ramal da estação de Contumil, depois de terem sido alvo de um investimento de um milhão de euros em 2004, destinado a pôr como novo material com mais de 50 anos de idade.O objectivo era ter uma composição de topo para serviços charter e por isso as Shindler (como se designam estas carruagens que vieram para Portugal entre 1948 e 1950) foram inteiramente remodeladas e adaptadas a serviço de catering, passaram a ter sistema sonoro e até um "espaço garrafeira" para venda de vinhos da região. Logo nesse ano, em sete meses, foram feitas 99 viagens. Mas em 2005 só se realizaram 41, número que subiu para 98 no ano seguinte e 10 em 2007. Este ano, a composição só saiu uma vez.
Segundo a CP, a rentabilidade deste projecto "assentava num contrato com o Instituto do Vinho do Douro e Porto (IVDP) para angariação de publicidade junto das empresas produtoras e comercializadoras de vinho que se consubstanciava na afixação de publicidade no exterior e interior das carruagens". A empresa explicou que o contrato só durou um ano porque "o IVDP manifestou desinteresse na sua continuação, pelo que a rentabilidade destes comboios passou a ser assegurada pelos bilhetes vendidos".
Publicidade "diminuiu"
Jorge Monteiro, presidente do IVDP, disse ao PÚBLICO que aquele instituto era apenas o interface entre a CP e as empresas de vinho do Porto. "A partir do momento em que estas se manifestaram menos interessadas, retirámo-nos do projecto", disse. Uma das razões para esse desinteresse terão sido as fusões que se verificaram entretanto entre as várias casas do Douro, e que se traduziram na diminuição do número de empresas interessadas em financiar a publicidade afixada no comboio.
Entretanto a CP optou por realizar os comboios charter na linha do Douro com vulgares carruagens Sorefame, de aço inox, "que possuem mais capacidade em lugares sentados e têm custos bastantes inferiores", explicou Carlos Madeira, responsável da Comunicação da empresa. Por outro lado, enquanto o "comboio do vinho do Porto" era um projecto da CP Longo Curso, a realização destes serviços especiais é da responsabilidade da CP Regional. Uma distinção que pode fazer muito sentido internamente, na empresa, mas que escapa à maioria dos clientes.
Agora, quatro anos depois de terem sido remodeladas, as carruagens Shindler "carecem de importantes trabalhos de manutenção que implicaria o recurso, para as repor ao serviço, de montantes equivalentes aos inicialmente gastos na sua reabilitação" (um milhão de euros). E por isso, conclui a CP, através do porta-voz, "se decidiu a sua desafectação do serviço".