Futura barragem de Gouvães "é incompatível" com Parque Natural do Alvão
As quatro barragens da "cascata do Tâmega" - Alto Tâmega, Daivões, Padroselos e Gouvães - foram adjudicadas ao grupo espanhol Iberdrola, que abriu concurso público para escolher a empresa que vai efectuar o Estudo de Impacte Ambiental (EIA).
No caso de Gouvães, os rios Torno e Olo vão servir para alimentar a barragem que se estimou vir a dar 153 giga watts de energia por ano. Mas se o Olo for desviado para este fim, o percurso natural do rio vai ficar comprometido.
“O rio Olo é a própria coluna vertebral do Parque Natural do Alvão que se desenvolveu aproveitando a bacia do rio”, explicou ao PÚBLICO Rui Cortes, professor da Universidade do Minho e Trás dos Montes.
As Fisgas de Ermelo estão no concelho de Mondim de Basto e possuem um desnível que se estende ao longo de 200 metros de extensão, separando zonas graníticas de xistosas situadas nas terras envolventes. Estas quedas de água são das maiores da Europa, e são visitadas por milhares de pessoas anualmente.
Para o professor, o EIA é uma das últimas esperanças para travar o projecto. “Estes estudos devem ser minuciosos e mitigar os efeitos perniciosos das barragens”, alega Cortes. O catedrático propõe que a barragem passe só a ser alimentada pelo outro curso de água. "A barragem não está em causa se não for concretizada esta derivação a partir do Olo", sublinhou à Lusa.
Destruição do PatrimónioO projecto faz parte do Plano Nacional de Barragens anunciado pelo Governo de José Sócrates. As alterações na bacia hidrográfica do Tâmega não acabam aqui, quer-se construir a barragem de Fridão, que fica próxima de Amarante.
As barragens vão “tornar o Tâmega praticamente numa sucessão de albufeiras”, denuncia Rui Cortes. Para além de uma alteração na paisagem que, partes de algumas aldeias vão ficar submersas, o professor teme que as barragens aumentem a poluição de um rio já com problemas a este nível.
“O rio Tâmega já é fortemente poluído por causa da indústria que existe em Espanha e Portugal. É de tal maneira problemático que a barragem do Torrão já apresenta cianobactérias [microrganismos patogénicos]”, explica o professor. Adiantando que já se sabe que as barragens têm tendência de aumentar a poluição dos rios por armazenar a água.
Para Rui Cortes a política vigente do aumento do número de barragens é contraproducente. “Estamos a assentar num esquema de desenvolvimento de há 40 ou 50 anos. Construímos grandes barragens, mas estamos a ficar mais dependentes [energeticamente] do exterior”, acusa o especialista, que está envolvido na Directiva Quadro de Água.
“Em Portugal o aumento do gasto de energia é superior em termos relativos ao aumento do PIB”, diz o professor, que defende que se deveria apostar na eficiência energética.