Foi “para beber cerveja e embriagar-se” que o homem se tornou agricultor

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A teoria contraria a ideia que a procura de uma melhor alimentação foi o motivo da mudança Luís Efigénio/PÚBLICO (Arquivo)

A teoria é da autoria do biólogo e historiador natural alemão, Josef H. Reichholf, e vem publicada no seu livro “Por que é que os homens se tornaram sedentários?”, lançado na Alemanha. A obra explica as causas da revolução que mais tarde estaria na origem dos povos e das religiões.

Josef H. Reichholf parte do pressuposto que “quando os caçadores recolectores abandonaram a sua forma de vida e alimentação tradicional teria que ter uma vantagem inicial”. No princípio, sublinha, “o cultivo de plantas não trouxe nenhuma vantagem visível para a sobrevivência”.

Por esse motivo, o cientista alemão considera que a teoria até hoje defendida, que a humanidade começou a cultivar plantas, abandonou a vida nómada e se estabeleceu de maneira permanente num sítio para se alimentar melhor, está totalmente errada.

Segundo o mesmo livro, as colheitas iniciais eram demasiado reduzidas e o cultivo da terra muito trabalhoso, o que implica que a sobrevivência não podia ser garantida em exclusivo através da agricultura. Josef H. Reichholf defende que o homem do período neolítico continuou a caçar e a ser recolector para subsistir.

"A agricultura surgiu de uma situação de abundância"

Outra das teorias criticada no livro do biólogo alemão é a que indica que nas primeiras regiões onde a humanidade se fixou, situadas entre o Egipto e a Mesopotâmia (actuais zonas não desérticas do território do Iraque), havia pouca caça e muita vegetação.

Josef H. Reichholf diz que essa teoria é absurda ao pressupor que uma zona com muita vegetação possa ao mesmo tempo não ter animais selvagens. O cientista sublinha que “era totalmente diferente” e que a caça não escasseava.

Para o biólogo “a agricultura surgiu de uma situação de abundância” e assegura que “a humanidade experimentou o cultivo dos cereais e usou os grãos como complemento alimentar. A intenção incial não era fazer pão, mas antes fabricar cerveja através da fermentação”.

As declarações de Josef H. Reichholf foram registadas durante a apresentação do seu livro, onde o cientista alemão fez questão de frisar que a humanidade sempre sentiu necessidade de alcançar estados de embriaguez com drogas naturais que lhe “transmitem a sensação de transcendência, de abandono do próprio corpo”.

A importância dos xamãs

Na teoria agora apresentada, os xamãs, espécie de líderes espirituais que entram em transe e manifestam poderes sobrenaturais e invocam espíritos da natureza, teriam tido um papel de destaque na revolução neolítica. Seriam eles que conheceriam os feitos e as dosagens das drogas, ou seja, do álcool, cogumelos e plantas, tomados durante as cerimónias de carácter religioso.Josef H. Reichholf destaca a importância que a cerveja e o vinho terão tido no fomento do sentido de unidade de um povo ou de uma tribo.

Da mesma maneira, defende que o pão só começou a produzir-se quando se conseguiu cultivar cereais em abundância. O cientista sublinhou que a fermentação é um processo mais antigo, “a capacidade de fermentar cerveja não foi algo espontâneo. A humanidade já conhecia antes o processo fermentação da fruta”.

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