Portugal perdeu investimento aeronáutico de 125 milhões de euros previsto para Évora

Os franceses da Geci International desistiram de construir a fábrica do turbo-hélice no Alentejo e vão para a Lorena francesa; empresas portuguesas não serão afastadas do projecto

a Ao fim de cinco anos de vaivém negocial inconclusivo, a Geci International trocou Portugal pela França para construir o avião Skylander, um investimento de 125 milhões de euros que prometia criar três mil empregos, dos quais 900 directos. A decisão foi comunicada ontem ao mercado, não exclui a participação de "parceiros portugueses" não identificados, mas coloca um ponto final num projecto previsto para Évora e marcado por arrastamentos constantes.Nos bastidores, o Skylander nunca foi um projecto consensual. Era considerado um projecto inovador e ideal para ser a base do cluster aeronáutico que o Governo quer construir. Mas as autoridades portuguesas nunca esconderam a sua resistência em financiar o projecto, apesar de lhe terem dado o estatuto PIN (Projecto de Interesse Nacional) em 2006 e de terem o dossier de investimento praticamente fechado com o grupo francês.
Contra as dúvidas, a empresa garantia recentemente ter recebido 450 encomendas mesmo antes de construir a fábrica, correspondendo a mais de 1300 milhões de euros. Advertia também que o adiamento na concessão das ajudas por parte do Governo português colocava em risco os compromissos para as primeiras entregas. Segundo os novos prazos, o aparelho deveria ter o protótipo a voar em 2009 e as primeiras entregas em 2011.
As negociações com o Governo português para a produção do turbo-hélice bimotor em Évora arrancaram em Junho de 2003, ainda com Durão Barroso a chefiar o Governo.
A compra recente da maioria do capital da Reims Aviation Industries, fabricante do turbo-hélice bimotor F406, terá sido decisiva na mudança de interesse da Geci. A operação contou já com o apoio das autoridades francesas e com ela os responsáveis do Skylander passaram a ter também os meios necessários para fabricar o avião naquele país.
O presidente da AICEP, Basílio Horta, diz não comentar a decisão da Geci, mas admite que "não o surpreende". Também o antigo ministro da Economia, Augusto Mateus, que no último meio ano prestou consultoria ao projecto, afirma que "melhorou muito e tinha pernas para andar. Era um projecto importante para Portugal, embora a sua perda não seja dramática".
Relocalização do projecto
Em carta dirigida ontem aos accionistas da empresa cotada em bolsa, o presidente da Geci International, Serge Bitboul, anuncia a "relocalização" do projecto e o lançamento oficial do Skylander em França, na região da Lorena.
Fala também de um processo rápido de decisão. A "alternativa francesa" foi analisada no passado dia 26 de Agosto em conselho de administração. "Considerando o ambiente muito favorável e recebidas as garantias, foi decidido ancorar o projecto definitivamente na Lorena."
Na mesma missiva, Serge Bitboul não exclui que empresas portuguesas, ligadas à rede inicial de parcerias, possam manter-se no projecto: "A Geci International espera apoiar-se numa rede de parceiros industriais franceses, portugueses e europeus."
Comentando que "foram necessárias muita determinação e paciência até chegar a este dia", o presidente da empresa defende que o Skylander é "o único novo avião ocidental destinado a um imenso mercado mundial de múltiplas aplicações" e com frota envelhecida. Segundo o construtor, o aparelho é capaz de transportar 3300 quilos de carga útil ou 19 passageiros. Em alternativa pode ser utilizado no combate a incêndios, vigilância aérea, avião-correio, avião-hospital e operações de evacuação, entre outras.
900

O investimento, a localizar no aeródromo de Évora, previa a criação de 3000 postos de trabalho (900 directos). Era a base do novo cluster aeronáutico

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