Entrevista Peter Zumthor
Tem fama de ser o arquitecto anti-estrela, reservado, homem de poucos projectos, embora todos absolutamente marcantes. Mas hoje, em Lisboa - onde inaugura uma exposição e faz uma conferência -, quer queira quer não, Zumthor é a estrela. Por Alexandra Prado Coelho
a Foi Peter Zumthor quem escolheu o espaço da LX Factory para a exposição, em Lisboa, sobre a sua obra - Peter Zumthor Edifícios e Projectos 1986-2007. Agora que estamos no interior da antiga fábrica desactivada, enquanto se ultimam os preparativos para a inauguração de hoje, há o arrastar de um carrinho de rodas que faz um ruído metálico. O arquitecto suíço pára de falar, franze o rosto incomodado, e explica: "Eu venho dos Alpes, não estou habituado ao ruído." E acrescenta, sorrindo: "Excepto os chocalhos das vacas". É esta imagem do arquitecto retirado do mundo, o homem que aceita poucos projectos, mas trabalha longamente em cada um deles, e faz apenas aquilo em que acredita profundamente, que Peter Zumthor (é Pétár, faz questão de sublinhar), 65 anos, foi construindo. Tem defendido que a arquitectura tem que ser vivida, e por isso mesmo não gosta de catálogos ou fotografias com os seus edifícios.
Mas agora - surpreendentemente - o arquitecto de obras como as Termas de Vals ou a capela Sogn Benedetg (ambas na Suíça), aceitou mostrar o seu trabalho numa exposição feita inicialmente para o museu de arte contemporânea Kunsthaus Bregenz e que chega a Lisboa no Warm Up da Experimenta Design 2009 (o Warm Up pretende preparar e antecipar a Bienal de 2009, enquanto este ano a Experimenta se realiza em Amesterdão).
E mais: Zumthor vai também falar sobre o seu trabalho. A conferência do arquitecto acontece hoje, às 17 horas, na Aula Magna. Elegante, de voz grave, continua a considerar-se um resistente, continua a recusar muito trabalho e a só fazer aquilo em que acredita. Mas explicou ao P2 o que é que é preciso para o convencer a construir um edifício. Sobretudo não lhe digam: "Pode fazer o que quiser, só me interessa a sua assinatura." Perante isso, ele desinteressa-se imediatamente.
O que é que o levou a decidir mostrar os seus trabalhos numa exposição, quando sempre defendeu que é preciso visitar os edifícios para os perceber?
Esta exposição foi criada para o Kunsthaus Bregenz na Áustria, um edifício que eu fiz há vários anos, e o director convenceu-me, depois de muito tempo, a fazer isto. O argumento dele foi o de que a minha posição no mundo da arquitectura é muito específica, que ninguém trabalha como eu. Seria bom mostrar este tipo de abordagem, que é a de alguém que se preocupa, que não está interessado em fazer dinheiro, em fazer superfície. Mostrar que este tipo de arquitectura clássica, que se preocupa com os detalhes, com o espaço, ainda existe.
Ao fim de alguns anos, eu disse "ok", vamos fazê-lo, também pelo edifício. Foi bom porque o fiz para o meu próprio edifício. Agora as pessoas vêm ter comigo e dizem que gostavam de ter também esta exposição, e como ela já está montada já não representa tanto trabalho para mim. Isso é importante, porque a parte essencial do meu trabalho deve ir para os edifícios e não para exposições.
O que é que perdemos dos seus edifícios ao ver esta exposição? Quase tudo? Uma grande parte?
Ahh, com certeza que perdem quase tudo. Conseguem talvez perceber que trabalhamos com modelos grandes, depois podem ver os vídeos, que são bastante realistas. Nunca se consegue ver estas imagens [seis ecrãs com projecções de diferentes pontos de cada edifício] todas ao mesmo tempo, mas elas são realistas, dão um sentido exacto de escala.
Acho que os vídeos funcionam mesmo. Claro que não é possível reproduzir exactamente o espaço, apesar de nos darem um mapa. Mas são realistas porque não é usada uma grande angular e a câmara não se move. Mas não há dúvida de que é diferente ter uma fotografia do amante ou ter o amante.
Os vídeos reproduzem também o som no interior e exterior dos edifícios, mas não se consegue reproduzir exactamente a atmosfera.
Sim, é preciso ter o amante.
Quando olhamos para os seus edifícios ficamos com a sensação de que eles estão lá desde sempre, vêm de um tempo antes do tempo, quase como as estátuas da Ilha da Páscoa. É isso que quer que as pessoas sintam?
Talvez isso tenha a ver com a forma como amo os espaços, e os edifícios. Gosto que eles sejam completamente concentrados na essência. Tento conseguir isso trabalhando muito - chego a trabalhar dez anos num edifício - até sentir que está exactamente certo. Isto exige paciência, da minha parte e da do cliente. Mas consegue-se uma composição muito densa. É difícil explicar... mas sente-se imediatamente. Isto não se compra na loja da esquina. É algo que sai de um processo.
Há quem considere que os seus edifícios são perfeitos, que não se sente ali uma hesitação, que são edifícios que não se deixam contaminar pelo exterior, pela vida. Concorda ou não concorda de todo?
Os meus edifícios são feitos para a vida. Se faço um cinema, quero que seja o melhor cinema, se faço uma cozinha é para ser uma cozinha fantástica. São sempre feitos para o objectivo e o uso, e nisso têm que ser perfeitos. Isto responde à sua pergunta?
Nas Termas de Vals, por exemplo, resistiu muito em pôr relógios no interior, apesar dos pedidos dos utilizadores.
Isso depende. Nesse caso, as razões prendem-se com os rituais do banho. É diferente se se está a construir uma estação de comboios ou um aeroporto. As termas são muito especiais, é uma nascente quente, um espaço concentrado na água. Se estiver lá... vai certamente tirar o seu relógio.
Há pessoas, clientes das termas, que vêm ter comigo e dizem que os utilizadores deviam usar apenas fatos-de-banho pretos ou brancos, porque sentem que esta é uma atmosfera especial, de pureza, e que resulta melhor se não houver demasiadas cores. Não é um centro comercial.
Mas eu sou sempre pela vida, na sua melhor forma. Dizer que sou contra a vida é completamente errado. É precisamente o oposto.
Diz que as raízes da nossa compreensão da arquitectura estão na nossa biografia, na nossa infância. A sua história de vida, o local onde nasceu e o que o rodeia são essenciais para o que faz?
Quando observo o que se passa no mundo e vejo o trabalho de artistas, compositores, pintores, escritores, eles falam sempre de si próprios. Porque isso é o melhor que temos, o melhor que eu tenho, o melhor que você tem. As nossas experiências são muito importantes, e as que acontecem mais cedo na nossa vida são as mais importantes, para toda a gente. Eu não sou excepção. Talvez a excepção seja o facto de eu confiar nestas coisas.
Não penso que não sei nada sobre arquitectura e que tenho que ir para a universidade. Acho que ir para a universidade e estudar arquitectura pode ajudar, mas a base de tudo está dentro de mim, como em qualquer outro trabalho artístico ou criativo.
Se tivesse que fazer um edifício em África, no meio de um deserto, aceitaria fazê-lo ou diria "isto não tem nada a ver comigo, com a minha história"?
Se não tivesse objecções morais ou éticas - por exemplo, não construiria para os militares.
Estava a falar da paisagem, do local.
Sim, estou sempre disposto a ir ver. Estou prestes a aceitar fazer um hotel no deserto do Atacama, no Chile. Estive lá, falei com as pessoas, visitei o sítio, e achei que gostaria de ir lá. E este pensamento - um arquitecto suíço e o deserto chileno, o oposto da Suíça - achei que era uma boa história.
Não me senti um estranho. Andei por lá à noite, a olhar para o céu, havia um tipo francês com uma data de telescópios, parei para sentir o sítio, para ler os livros, e senti que sim, claro, consigo relacionar-me com o sítio, e acho que lhe posso dar alguma coisa de volta.
Vi as outras coisas que estão a construir lá, os hotéis modernos, e apercebi-me deste problema entre os locais, os indígenas, e a contemporaneidade. Nos Alpes temos o mesmo tipo de problemas. As pessoas que adoram o sítio gostariam de fazer algo que fosse realmente bom para os Alpes, em que todos os centímetros do edifício dissessem "adoro os Alpes, adoro os Alpes". Lá, em San Pedro de Atacama, vê-se o mesmo tipo de atitude, portanto é uma coisa que eu reconheço.
Não me consigo é relacionar com o dinheiro, com a ideia de ir fazer um arranha-céus para o Dubai, porque sou mais um arquitecto apaixonado, não sou um simples construtor.
Disse que se alguém vai ter consigo e lhe pede para fazer uma casa, dizendo "faça o que quiser, só me interessa que seja feita por si" a proposta não lhe interessa. O que é que eu teria que lhe dizer se o quisesse convencer a fazer uma casa para mim?
Se alguém vier ter comigo com uma tarefa séria, modesta, normal, de todos os dias, posso pensar que seria agradável fazer estas casas, seja para 150 pessoas ou para uma família com seis crianças. Para mim tem que fazer sentido. Se me disserem que posso fazer o que me apetecer e que basta ter o meu nome, então estou fora.
Se me disserem "esta é a minha cidade, tenho aqui um espaço, e pode fazer o que quiser porque acredito em si", acho bonito, mas é algo que não me excita. Mas se outra pessoa me disser, como já aconteceu, isto era um hospital psiquiátrico, as pessoas vão sair e agora podemos fazer aqui casas para 200 ou 300 famílias -isto passa-se na Rússia, e a situação da habitação na Rússia tem estado tão má desde a União Soviética, há tanto para fazer - isto sim, deixa-me completamente entusiasmado. Tem um valor social.
Então a paisagem não é cem por cento determinante quando escolhe aceitar um projecto?
Não unicamente. O lugar é muito importante. Se for terrível, estragado, feio... mas estou a falar do lugar, não da paisagem. A paisagem nunca é feia, é sempre bonita se os humanos não vierem estragá-la. O que me interessa é uma tarefa que tenha algum valor humanista, social, artístico.
É para si muito importante que as pessoas reconheçam a sua linguagem nos edifícios que faz?
Não, de maneira nenhuma. Se vir os meus edifícios perceberá que não existe um estilo, são sempre diferentes, e as pessoas ficam sempre surpreendidas. O que é importante é que as pessoas digam "este é o melhor bar, ou este é o melhor hotel".
Qual é o tipo de arquitectura que se faz hoje e que não suporta?
Aquela que resulta quando a motivação de um arquitecto é apenas o dinheiro. Por exemplo, os concept hotels, estas grandes cadeias de hotéis, em que alguém sentado a uma secretária, com um computador e um telefone, cria um conceito e diz "vai ser assim e assim" e não há nenhuma verdadeira consideração pelas pessoas que vão viver ou trabalhar ali.
Vê-se que se juntam edifícios, espaços, escadas, casas-de-banho, sem qualquer atenção. O que mais detesto é quando vejo - e isto vem antes de questões como a beleza - que ninguém está a prestar verdadeiramente atenção, que tudo tem a ver com dinheiro.
Conhece arquitectura portuguesa?
Claro, tive sempre um grande interesse pelo trabalho de [Álvaro] Siza e de Eduardo [Souto de Moura], assim como pelo trabalho de [Fernando] Távora.
Reconhece-a como arquitectura portuguesa, ou não faz sentido colocar as coisas assim?
Sim, há elementos portugueses nessa arquitectura. O uso dos materiais, uma certa luminosidade na construção. No trabalho de Siza há uma elegância e uma luminosidade, linhas elegantes, e os brancos, que eu associo com Portugal.
E quando constrói no estrangeiro, Siza não faz arquitectura de assinatura, é bastante discreto, tenta manter-se em sintonia com o local onde está a construir, e não faz um edifício-espectáculo para dizer "ei, o Siza esteve aqui".
Existe hoje um star system da arquitectura, do qual sempre disse que não queria fazer parte. Mas vem a Portugal com uma exposição, enche um auditório. Acha que é mesmo possível alguém manter-se à margem desse star system?
O que eu sei é que não fiz assim tantos edifícios, mas quando vou ao Japão, quando venho aqui ou a outros sítios, vejo que o trabalho que faço é muito apreciado. Isso não me faz sentir como uma estrela.
Fico, de certa forma, surpreendido, mas também lisonjeado. Embora isto não afecte muito a minha vida de todos os dias, porque não me ajuda a resolver o problema de hoje, em que estou a trabalhar nisto e naquilo e penso "o que é que estou a fazer em Lisboa, devia estar em casa a tentar resolver isto e aquilo".
O que é que posso dizer? Isto está para lá da minha casa, da minha vida. Há um filtro, o escritório funciona como um filtro, que diz "não, não, não, infelizmente não é possível". Às vezes chove um bocadinho, mas uso uma gabardina.
Surpreende-o que as pessoas encham um auditório para ouvir falar de arquitectura?
Estou já um pouco habituado, porque isto começou primeiro na Suíça, depois na Alemanha, e foi crescendo. Desde o início houve um grande interesse no meu trabalho. Por aquilo que ouço de jovens arquitectos é que se relacionam com a forma como eu trabalho e pensam "se ele consegue talvez eu também consiga". Há muita gente que diz este tipo é louco, isto é um modelo ultrapassado, isto não vai sobreviver. Mas eu acho que a qualidade nunca irá ficar ultrapassada. Vieram os maus edifícios, a indústria da construção veio, e o que acontece é que quanto mais isso existir mais irão aparecer pessoas como eu, a fazer coisas por medida, bem feitas, pensadas. É por isso que há este interesse em mim. Eu represento alguma coisa.
A partir de entrevista com ......
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