Revista Com'Out sai do armário
Não é a primeira, mas hoje é a única revista de informação mensal dedicada à comunidade lésbica,
gay, bissexual e transgénero
a Não fizeram festas de lançamento, nem campanhas de publicidade ou acções de marketing. Limitaram-se a sair do armário, como o próprio título indica: a Com'Out é a nova revista de informação mensal dedicada à comunidade lésbica, gay, bissexual e transgénero (LGBT). Está nas bancas há uma semana e meia, com alguma militância e num momento em que não só "estes temas têm tido uma visibilidade cada vez maior em títulos generalistas", como "a comunidade tem assumido uma postura crescente de saída do armário", diz o editor da Com'Out, Eduardo Marino.A revista de 92 páginas da editora Joeli Publishing tem uma tiragem de 12 mil exemplares, com um preço de capa de 4,5 euros. Está nas bancas por causa de um jantar e da defesa das lésbicas casadoiras e activistas mais famosas do país. Nesse jantar, em Janeiro, falou-se de igualdade. E lá estava o advogado Luís Grave Rodrigues, que tem a seu cargo o caso de Teresa Pires e Helena Paixão - o primeiro casal lésbico a tentar casar-se num registo civil português (2006) e que viu o seu pedido recusado, tendo agora em curso um processo judicial com base no artigo 13 da Constituição, que determina a igualdade e proíbe a discriminação por motivos como a orientação sexual, que se encontra no Tribunal Constitucional.
À refeição foi servida motivação e "no dia seguinte analisávamos todas as revistas estrangeiras LGBT que encontrámos à venda em Portugal. E passado algum tempo reuníamos um focus group representativo da comunidade LGBT, de forma a avaliar que tipo de publicação fazia sentido em Portugal", explica o editor da revista.
A Com'Out , dirigida por Elisabeth Barnard, surge num contexto em que revistas como a Time Out Lisboa têm uma secção fixa dedicada à homossexualidade, em que roteiros como o Guia do Lazer, do PÚBLICO, mapeiam os circuitos e pontos de interesse LGBT e em que a comunidade já não está tão "disposta a viver em regime de gueto". Além de se perfilarem debates políticos sobre o casamento homossexual ou a adopção, à imagem do que sucede em Espanha, para breve. Antes da Com'Out e no âmbito de títulos directamente vocacionados para este público, houve a Diferente, vendida em banca, e a Korpus, de cariz erótico e sem distribuição nacional.
No primeiro número, entrevista Solange F., apresentadora da SIC Radical que este ano fez o seu coming out público, e Guilherme Melo, faz apanhados das notícias nacionais e internacionais que envolvam o movimento LGBT e aborda a série de televisão A Letra L. E tem a opinião de Miguel Vale de Almeida, antropólogo e activista LGBT, que deixa um aviso: "Estamos aqui. Habituem-se."
Não é uma revista para o público em geral, embora possa apelar a esse mesmo público. "O objectivo é dar leitura especializada ao público LGBT e simpatizantes e ser um veículo de divulgação das suas actividades", precisa o editor da revista mensal. O alvo são mesmo os homossexuais, as lésbicas, os bissexuais e os transgénero, para quem produzem "matérias específicas que não têm lugar em projectos generalistas". O que não impediu que heterossexuais tenham já reagido positivamente à revista, diz o editor.
"No fundo dirige-se a toda a gente que sinta curiosidade e interesse por estes temas, independentemente da sua orientação sexual", acrescenta Eduardo Marino.
Quando se fala de militância, está tudo nos subtítulos da Com'Out: Igualdade, Tolerância, Atitude. E no editorial, e nas palavras de Marino, que decreta que a Com'Out "quer dar o seu contributo na mudança de mentalidades em Portugal", mostrando que "a sexualidade não define ninguém enquanto ser humano" e abraçando desde os temas políticos ou de direitos civis até ao facto de a comunidade ser "conhecida pelo seu espírito de festa, pela criação de novas tendências".
Não se consideram históricos em Portugal, mas "algo de novo". A Com' Out é precedida no panorama de publicações internacional pelas mais conhecidas Zero (Espanha) ou Advocate (EUA). E tal como elas já fizeram, vai abordar nos próximos números as dificuldades da saída do armário, a adopção por casais gay, festivais de cinema ou galas de travestis.