Morre George Gershwin, compositor entre dois mundos
"Bom jazz, mas mau Liszt..." Este foi o cáustico comentário que Sergei Diaghilev, o célebre empresário dos Ballets Russes, dirigiu ao Concerto para Piano, de George Gershwin, uma obra marcada por ecos dos blues e do charleston, irresistíveis temas líricos dignos de Tchaikovski ou Rachmaninov e trepidantes passagens virtuosísticas. O percurso do mais famoso dos compositores americanos oscilou sempre entre estes dois mundos: o popular e o erudito, a herança da tradição romântica oitocentista e a influência do jazz e das músicas urbanas. Obras de maior fôlego como a Rhapsody in Blue (1924), o poema sinfónico Um Americano em Paris (1928) ou a ópera Porgy and Bess (1934-35) alternaram com musicais de sucesso como Lady be good ou Of Thee I Sing, entre muitos outros, bandas sonoras e inspiradas canções com letras do seu irmão, Ira Gershwin, que se converteram em standards de jazz. Quem não conhece as melodias de Summertime, I got Rhythm ou The man I love?
Filho de um comerciante judeu de origem russa, Gershwin nasceu em Brooklyn no dia 26 de Setembro de 1898. Não havia tradições musicais na família, mas quando o pai lhe comprou um piano, aos 12 anos rapidamente começou a tocar e a compor. Aos 25 era um compositor de sucesso, requisitado pela Broadway e pelos estúdios de Hollywood. Bem parecido, dotado de grande entusiasmo e amante dos desportos, George Gershwin começou a mudar radicalmente no início de 1936. A falta de energia, as fortes dores de cabeça e a profunda depressão que o abateu eram interpretadas pelos médicos como consequências do seu ritmo de vida, mas na verdade tratava-se de um tumor cerebral que o fez sucumbir aos 38 anos na sequência de uma tardia intervenção cirúrgica.
Cristina Fernandes