Bob Proctor esteve em Lisboa a ensinar a ser rico
Pensar positivo, acreditar nas capacidades pessoais, saber rodear-se das pessoas certas.
Dicas de um dos mestres d'O Segredo que, afinal, não conseguiu encher o Pavilhão Atlântico
a "Se eu desejar muito o meu SMS aparece no ecrã? Obrigada pela fantástica experiência." Foi a mensagem que Tânia Marechão, 24 anos, a trabalhar num rent-a-car, enviou por SMS durante a conferência O Segredo em Portugal, que aconteceu na quarta-feira à noite no Pavilhão Atlântico, em Lisboa. Segundo a organização, mais de 6500 pessoas compraram bilhetes, que variavam entre os 30 e os 60 euros (o pavilhão tem tem uma capacidade permanente entre 8000 e 10700 lugares, dados da Parque Expo), para durante quatro horas e meia ouvir Bob Proctor, um dos "mestres" que participou no livro e no filme O Segredo, de Rhonda Byrne, bestseller mundial de auto-ajuda que em Portugal vendeu 350 mil exemplares.
Mas a estrela desta conferência, que trouxe a Lisboa pessoas de todo o país, não conseguiu encher o pavilhão nem evitar que muitos o abandonassem antes do fim. Rita Mendes, apresentadora de televisão, foi a anfitriã, o "motivador pessoal" Adelino Cunha foi o orador da primeira parte, seguido de Bob Proctor e, no final, houve perguntas da assistência.
A mensagem de O Segredo é "Peça, acredite, receba. Você pode ter tudo aquilo que deseja" e, por isso, como seria de esperar, o SMS de Tânia apareceu no gigantesco ecrã do Pavilhão Atlântico: foi a última das dez "melhores" perguntas escolhidas entre as "mais de cinco páginas" que a organização recebeu.
"Não sei se a Tânia está aqui perto, porque se ela estivesse aqui perto gostávamos que viesse cá acima", disse no palco Adelino Cunha, a quem se deve a ideia da vinda a Portugal de Proctor. Tânia lá subiu, teve direito a beijar Bob, mais tarde a um autógrafo e fotografia ao lado dele. Tânia, a quem os amigos ofereceram o bilhete para ali estar, disse ao P2 no final que "vale a pena sonhar e acreditar". A experiência acabou por ser "uma inspiração" ainda para mais com a subida ao palco.
Mas quando Tânia ouviu chamar pelo seu nome no pavilhão Atlântico algum público já lá não estava. A debandada começou às 23h30, ainda Proctor estava longe de terminar a sua palestra em inglês. O sistema de tradução simultânea desiludiu a maioria dos presentes (no final a equipa de tradução foi assobiada) e emoção foi coisa que quase nunca se sentiu na plateia.
Apesar de ter ficado até ao fim, Gonçalo, um estudante de gestão de Santarém, foi sincero. "Foi desgastante e cansativo." A conferência tinha conteúdo mas não era interactiva e a tradução não resultou. Mas, apesar de tudo, valeu a pena. Para Nélia, bióloga e escritora (apesar de não ter ainda nenhum livro publicado), a conferência serviu para "aprofundar um pouco mais a teoria" que leu no livro O Segredo, percebeu que "a motivação é tudo" e que "quanto mais a gente sabe, mais precisa de aprender".
O início
"Um dia vamos encher o pavilhão Atlântico", disse Adelino Cunha a um grupo de pessoas durante um jantar num hotel de luxo em Lisboa enquanto saboreava um "rendilhado de caramelo". Nessa altura era apenas um sonho que o assustava. "Algum tempo depois estamos aqui. Há pessoas que dizem que O Segredo não funciona, mas há muitas evidências a começar por este evento de que ele funciona. Quando queremos muito uma coisa ela torna-se realidade."
Os oradores estavam ali para dar "ferramentas" que ajudassem as pessoas. Em quê? "A mudar a vossa vida, a vida das vossas famílias, a vida das vossas empresas, a vida deste país." Na prática deram dicas para um currículo sobressair no meio de 400. Disseram-lhes para marcarem a diferença e reflectirem se andavam a ter comportamentos de êxito ou de fracasso.
Era impressionante a quantidade de pessoas que envergavam t-shirts onde se lia "It's My New Way". Pertenciam ao New Way Elite Club, "uma empresa de eventos" explicou Andreia Ferreira, a sua gestora executiva. "Só da New Way vieram cinco autocarros com associados do Porto e um autocarro de Lisboa." A New Way tem cerca de 5000 associados, com idades que variam entre os 20 e os 70 anos, 80 por cento dos quais casais. A New Way é parceira de Adelino Cunha, o "mentor" dos clubes I Have The Power, da empresa SolFut. Pelo pavilhão passeava um número considerável de pessoas com t-shirts a apregoar "I Have The Power".
Para se tornarem associados quer dos Clubes I Have The Power, quer do New Way Elite Club, os membros pagam uma jóia de inscrição que lhes permite depois participar em "palestras motivacionais, workshops" e em jantares-convívio. Os associados têm que contribuir para que os clubes atinjam um cada vez maior número de associados. Estes clubes funcionam como as organizações em pirâmide e os seus membros representavam a grande maioria das pessoas que se deslocou ao Atlântico.
Como ser rico
Bob Proctor disse aos portugueses que tinham que saber realmente o que queriam ser. "Poucas são as pessoas que vivem da forma que querem viver. Mas, se quero ser livre, tenho que ser eu." Intercalou no seu discurso alguns "apontamentos" locais. Falou na crise de combustível e no preço da gasolina em Portugal, deu exemplos de conversas que teve com o seu motorista português, falou da sua mulher e esteve quase duas horas em palco, fato às riscas e gravata cinzenta, a carregar no comando do teleponto e a repetir fórmulas "mágicas" para se ser um homem rico como ele. Ele que era um falhado na década de 50 e hoje é um homem de sucesso. Leu excertos do livro Pense e Fique Rico, de Napoleon Hill, falou no disco The Strangest Secret, de Earl Nightingale (1956), que gravou palestras de motivação para os seus empregados e que lhes mudou a vida.
Temos "um potencial infinito", "You got the power", repetiu para a audiência. "Não há limites para o que podemos fazer." E sabem que mais? "Se não acreditarmos as coisas não acontecem."
Dinheiro e dinheiro e outra vez o dinheiro. Esta foi a ideia presente no discurso até ao fim. Quanto mais dinheiro, mais confortáveis na vida, logo mais criativos. Deu mais uma vez o seu caso como exemplo: "Tenho empresas e pessoas que sabem mais do que eu a trabalhar nessas empresas. Mas eu é que sou o dono. Não tem que se ser esperto, o que é preciso é ter objectivos."
Proctor acredita que é necessário fazer evoluir "o nosso nível de consciência" e isso não se aprende na escola. "A partilha da informação é essencial", por isso é necessário fazer como ele fez e investir em cursos de desenvolvimento pessoal e pagar por eles. "Escolher e seguir o conselho de pessoas que tenham atingido aquilo que queremos atingir." Dinheiro e mais dinheiro e outra vez o dinheiro.