Marilyn vos Savant A pessoa mais inteligente do mundo é uma mulher

Se aceitarmos o "quociente de inteligência" - o célebre QI - como uma medida da inteligência humana, Marilyn vos Savant é a pessoa mais inteligente do mundo. Entrou no Guinness com o seu QI recorde de 228, obtido quando era uma miúda de 10 anos. Por Ana Gerschenfeld

a O apelido parece mesmo feito à medida, mas é genuíno - e até, por coincidência, duplamente genuíno. A mãe de Marilyn vos Savant (savant = sábio, erudito) chamava-se Mary vos Savant e a sua avó materna Mary Savant. E Marilyn trocou o apelido do pai, Mach, pelo outro, duplamente materno - e mais em sintonia com a sua pessoa.Acontece que Marilyn vos Savant, hoje com 61 anos, jornalista, escritora e dramaturga norte-americana, mulher de Robert Jarvik, célebre inventor de corações artificiais, é a pessoa com o maior QI de sempre.
Começou a bater recordes nos testes de QI em criança, tendo atingido, aos dez anos, um resultado nunca visto \u2013 nem ultrapassado desde então \u2013 de 228 pontos. Mas foi em 1986 que se tornou famosa, quando entrou no Guinness daquele ano como recordista do QI. Permaneceria listada nessa categoria \u201Cdurante cinco anos\u201D, lê-se no seu site na Web (em www.marilynvossavant.com), não apenas pelo seu QI em criança mas também em adulta, acabando por ingressar no Guinness Hall of Fame, a galeria de notáveis de todos os tempos do Guinness.
Claro que há quem recuse a validade dos testes de QI. Por um lado, ninguém sabe ao certo o que é o QI \u2013 será que mede inteligência ou apenas o jeito para fazer testes de QI? Por outro lado, os testes de QI perdem precisão quando se trata de resultados tão fora da norma como os de Marilyn vos Savant. Mas uma coisa é certa: tanto o resultado desse primeiro teste como os dos outros que ela fez ao longo da vida foram sempre extremamente elevados.
Apesar dos seus dotes intelectuais, Marilyn vos Savant não iria dedicar a vida nem à física nuclear nem à matemática. Abandonou a universidade a meio e enveredou por outras vias. Mas o valor do seu QI moldou sem dúvida a sua vida: quando a sua performance foi divulgada pela primeira vez no Guinness, a revista Parade convidou-a a escrever uma coluna semanal, que ainda hoje mantém, intitulada Ask Marilyn. Marilyn vos Savant responde aí a todo o tipo de perguntas, das ciências duras à ética e à filosofia, passando por questões mais pessoais dos leitores. E as suas respostas não são triviais.
O famoso problema
A coluna que talvez a tenha consagrado como uma autodidacta de inteligência superior remonta a 1990 e desencadeou um debate tão aceso à escala dos EUA que foi objecto de um grande artigo no New York Times no ano seguinte.
Tudo começou quando Marilyn vos Savant respondeu a uma pergunta acerca de um problema de teoria de probabilidades, que ficaria conhecido por "Problema de Monty Hall" em referência ao apresentador de um famoso concurso televisivo da altura. O problema enuncia-se da seguinte maneira: você participa num jogo onde pode escolher abrir uma de três portas (duas delas escondem um cabra; a terceira, o prémio (um carro). Suponhamos que escolhe a porta 1 (que permanece fechada). A seguir, o apresentador abre a porta 3, mostra uma cabra, e pergunta-lhe se quer alterar a sua escolha inicial (ou seja, escolher agora a porta 2 em vez da porta 1) antes de ele revelar onde está o prémio.
A pergunta do leitor da Ask Marilyn era: é ou não mais vantajoso alterar a escolha? Marilyn vos Savant respondeu que sim, argumentando que, se ficasse pela escolha inicial, o concorrente tinha uma hipótese em 3 de ganhar o automóvel e se escolhesse a outra porta duplicava as suas chances.
A reacção foi notável: nos meses que se seguiram, Marilyn vos Savant receberia umas 10 mil cartas de críticas, lê-se na edição do diário nova-iorquino de 21 de Julho de 1991. Mais de mil cartas, as mais violentas - e mesmo insultuosas - eram assinadas por cientistas e matemáticos, por vezes com o cabeçalho da sua instituição. Mas Marilyn vos Savant... tinha razão.
A sua incursão pelo célebre último teorema de Fermat foi menos bem sucedida. Quando em 1993 (séculos após o teorema ter sido enunciado), o britânico Andrew Wiles anunciou que o tinha finalmente demonstrado, Marilyn vos Savant publicou um livro, The World`s Most Famous Math Problem, onde punha em causa a validade da demonstração de Wiles. Os seus argumentos podem não ter sido válidos, mas a prova de que as coisas não eram assim tão simples é que Wiles teria de dedicar mais dois anos a finalizar a demonstração, que ainda padecia de uma falha entretanto detectada por outros matemáticos. Seja como for, desta vez os argumentos dos especialistas terão convencido Marilyn vos Savant, que na sua edição do livro de 1995 reconhece que o teorema foi efectivamente demonstrado.

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