Um Doutor que vem do espaço para a SIC Radical
Série de culto Dr. Who estreia-se hoje no cabo. Uma das mais influentes produções britânicas, é a série de ficção científica há mais tempo em exibição
a Um dos ingredientes aparentemente supérfluo, mas essencial para uma boa saga de ficção científica é o baptismo. Da própria série, das personagens, dos vilões. Pense-se em Guerra das Estrelas ou Darth Vader. Ou em Star Trek e na Ira de Khan. E nos constantes trocadilhos a que se prestaram na cultura pop ao longo dos anos. No caso de uma série de culto como Dr. Who, não só o título é cativante como um dos seus vilões, os Dalek, também se insinuaram nos mais variados suportes e programas do mainstream... anglófono. É que apesar de já ter sido exibida em Portugal, pelo People & Arts, e de ter sido coroada pelo Guiness como a série televisiva de ficção científica há mais tempo em exibição, (ainda) não tem a mesma ressonância transversal que os exemplos norte-americanos acima citados. Talvez por ser uma série de culto, talvez por ser apreciada no conforto do lar geek.
A personagem principal é o misterioso Doutor, um alienígena que viaja no tempo e que tem a capacidade de transformação física que salvou a longevidade da série. Estreada no Reino Unido na BBC em 1963, no dia após o assassinato do Presidente norte-americano John F. Kennedy, a série continuou até 1989, para ser ressuscitada em 2005, sempre com novos actores no papel de protagonistas.
A série que hoje se estreia na SIC Radical (19h30, com repetições durante a semana) é a de 2005, da autoria de Russel T. Davies, e tem Christopher Eccleston na pele do Doutor (o nono da saga). Viaja na Tardis, uma máquina espacial que exteriormente aparenta ser uma pequena cabine telefónica da polícia britânica dos anos 1950. a actriz Billie Pipper é a sua ajudante terráquea Rose Tyler, cujo nome dá o título ao episódio inaugural, o primeiro feito depois do interregno televisivo, apenas interrompido por um telefilme feito nos EUA em 1996. O Doutor é um benfeitor, que se dedica a ajudar os habitantes da Terra contra várias ameaças, desde os maquinais Dalek até um primeiro-ministro britânico "possuído" por uma raça de malévolos alienígenas.
Ser britânico
A narrativa de Dr. Who foi alimentada por nomes como o de Douglas Adams, autor da série de culto À Boleia Pela Galáxia, ou por participações como a do Monty Python John Cleese. Actualmente é transmitida dezenas de países, tendo uma base de fãs extensa, daquelas que fazem convenções para celebrar a adoração ao programa. Mas é no Reino Unido que tem maior expressão, com mais de uma dezena de milhões de espectadores a segui-la na televisão todos os sábados à noite - ontem foi para o ar o 747º episódio.
No ano passado, foi considerada um dos ícones britânicos pelo Departamento de Cultura, Média e Desporto do Governo do Reino Unido. E quando a BBC quis registar uma marca sobre a cabine Tardis e a Polícia Metropolitana britânica se opôs, o Gabinete de Patentes decidiu a favor da BBC, considerando que foi a série que tornou as cabines icónicas.
Dr. Who "é a quintessência de ser britânico", considera Caitlin Moran, colunista do The Times, que no mesmo artigo de opinião fica atordoada com a sua própria constatação: "É uma série de televisão para crianças, feita pela televisão pública, no País de Gales".
A série foi tão influente que gerou uma expressão - behind the sofá - que serve hoje para expressar em inglês o que podemos ser levados a fazer pelo medo. Na década de 1970, quando tinha um ambiente mais gótico e terrífico, foi muito criticada por assustar as crianças espectadoras- que se esconderiam atrás do sofá para se poderem esconder quando ficavam mais amedrontadas. Daí surgiu a expressão que hoje faz parte do léxico da indústria de entretenimento britânica.
"Acima de tudo, a sua construção inicial, ambígua, abriu espaço para interpretações inovadoras, muitas vezes bizarras, mas sempre dedicadas", escreveu o académico britânico John Tulloch, co-autor de Doctor Who: The Unfolding Text e de Science Fiction Audiences: Watching Doctor Who and Star Trek. "O programa, como o Doutor, regenerou-se continuamente e, assim, permaneceu jovem".
A SIC Radical, que foi o quarto canal mais visto do cabo na última semana de Maio (os dados mais recentes da Marktest) com um share de 2,3 por cento, comprou as duas primeiras temporadas de Dr. Who pós-2005 em exclusivo para Portugal e tem os direitos de opção sobre as seguintes.