Ciclone "Nargis": Junta militar admite 22 mil mortos e 41 mil desaparecidos
“Deixem os EUA ajudar-vos, ajudar a população”, instou George W. Bush, esta tarde, numa mensagem dirigida aos generais birmaneses, sujeitos há vários anos a pesadas sanções aplicadas por Washington.
A embaixada norte-americana em Rangum disponibilizou até agora 250 mil dólares para ajuda de emergência ao país, atingido pelo mais devastador ciclone a passar pela região desde 1991, altura em que 143 mil pessoas perderam a vida no vizinho Bangladesh.
“Queremos fazer muito mais”, afirmou Bush, pouco depois de assinar um diploma atribuindo à líder da oposição democrática birmanesa, Aung San Suu Kyi, a Medalha de Ouro do Congresso, a mais importante condecoração civil americana.
O Departamento de Estado norte-americano anunciou que tem já pronta uma equipa de peritos para avaliar quais as necessidades mais urgentes da população, mas o grupo ainda não recebeu luz verde de Rangum. “Estamos disponíveis a mobilizar meios navais para encontrar aqueles que perderam a vida, localizar os desaparecidos e a ajudar a estabilizar a situação”, mas “para isso, a junta tem de autorizar a equipa de peritos a entrar no país”, explicou Bush.
Autoridades duplicam balanço oficial de vítimasOs últimos números divulgados por Rangum confirmam a dimensão da catástrofe natural, mais do que duplicando o balanço de vítimas admitido ontem pelas autoridades. O Governo birmanês admite agora que o ciclone provocou pelo menos 22.500 mortos e 41 mil desaparecidos, a grande maioria vítima das ondas provocadas pelos ventos fortes e que acabariam por inundar extensas áreas no delta de Irrawaddy. A organização não-governamental Save the Children admite mesmo que o número de vítimas poderá chegar facilmente aos 50 mil.
Segundo a rádio nacional, do total de vítimas apenas 671 pessoas perderam a vida na capital, Rangum, e nos distritos vizinhos. “A maioria das mortes foram provocadas pelas ondas e não pela tempestade em si”, afirmou o ministro para o Socorro e Reinstalação, Maung Maung Swe, explicando que, em algumas zonas, “as ondas tinham mais de 3,5 metros e varreram ou inundaram metade das casas das aldeias costeiras”.
O ministro da Informação, Kyaw Hsan, diz que as autoridades estão a “fazer o seu melhor” para socorrer os sinistrados e levar ajuda aos que perderam as suas casas, mas são muitos os países e organizações que denunciam os entraves colocados pela junta ao envio de assistência. Até ao momento, apenas a China e a Tailândia, países com que a Birmânia mantêm estreitas relações, conseguiram fazer chegar ajuda ao país.
Índia diz ter avisado Birmânia a tempoAs críticas estendem-se à demora na reacção das autoridades, acusadas de terem ignorado os alertas sobre a força do ciclone. Hoje, o serviço de meteorologia indiano revelou que avisou o país vizinho, com 48 horas de antecedência, para a chegada iminente da tempestade.
“Dissemos-lhes qual seria o ponto de impacto (local em terra a ser primeiro atingida pelo ciclone), a sua gravidade e todas as questões relacionadas”, afirmou B.P. Yadav, porta-voz do Departamento de Meteorologia indiano, organismo creditado pela Organização Meteorológica Mundial para acompanhar a evolução de tempestade no oceano Índico e no Sul e Sudeste da Ásia. “Estamos certos de que os prevenimos com grande antecedência. [As autoridades birmanesas] tinham tempo suficiente para adoptar medidas de precaução, tais como evacuar” as zonas costeiras, acrescentou o responsável.
Desde o final do mês passado, que a agência indiana emite boletins regulares destinados à Birmânia, mas também ao Bangladesh e Tailândia, prevenindo-os para a aproximação de um ciclone em formação no golfo de Bengala. Na sexta-feira, horas antes do ciclone se ter começado a sentir, o próprio Bangladesh avisou as autoridades birmanesas que o "Nargis" entraria em terra pela costa Oeste do país, evitando o delta do Ganges, atingido no ano passado pelo superciclone Sidr, que provocou 3300 mortos e mais de 800 desaparecidos.